Quarta, 24 Abril 2024

Camponeses capixabas apoiam campanha nacional contra agrotóxicos

Camponeses capixabas apoiam campanha nacional contra agrotóxicos
“A agroecologia não só uma prática agrícola, mas um modo de vida, alinhado com todos os vieses da sociedade: econômico, social, ambiental, cultural e político”. A declaração do agricultor Valmir Noventa, membro da coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), mostra a magnitude que a luta diária pelo fortalecimento de uma agricultura familiar saudável, livre de agrotóxicos e da exploração do trabalhador do campo, tem na vida das famílias camponesas. “Essa é a nossa maior bandeira”, afirma.



O MPA é uma das organizações que compõem a Via Campesina no Espírito Santo, que, por sua vez, é uma das autoras da Campanha Chega de Agrotóxicos. Lançada em março deste ano, trata-se de uma plataforma digital que recolhe assinaturas contra o Projeto de Lei 6299/2002, conhecido como “Pacote de Venenos” e a favor da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRa), cuja implementação é defendida pelo Projeto de Lei 6670/2016.



A PNARa foi elaborada em 2015 por meio de um esforço entre coletivos e organizações da sociedade civil e o Governo federal, a partir da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, mas foi vetada no Congresso pela bancada ruralista. O fim das isenções fiscais para agrotóxicos e a criação de zonas livres de venenos agrícolas e transgênicos são algumas das medidas prevista na PNaRa.



No site da Campanha, são destacados os problemas ambientais e de saúde pública gerados pelo uso intensivo de agrotóxicos no Brasil, o maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Entre eles, diversos tipos de câncer, contaminação das águas e do solo e ameaça à soberania alimentar. Problemas que irão se intensificar, caso o Pacote de Venenos seja aprovado, pois sequer a palavra agrotóxico irá mais ser usada, sendo substituído pelo termo “defensivo fitossanitário”.



O PL também prevê que a avaliação de novos agrotóxicos ficará a cargo exclusivo do Ministério da Agricultura, excluindo os órgãos de meio ambiente e saúde pública, sendo permitido o registro de substâncias comprovadamente cancerígenas. A regulação específica sobre propaganda de agrotóxicos irá acabar e será permitida a venda de alguns agrotóxicos sem receituário agronômico de forma preventiva. Além disso, estados e municípios ficarão impedidos de terem regulações mais restritivas.



Barragens não são suficientes



Na avaliação de Valmir Noventa, o agronegócio tem conseguido aumentar sua investida contra a agricultura camponesa, com apoio do governo Michel Temer. “Está sendo feito um verdadeiro desmonte dos direitos da população e da natureza, da legislação que protege os biomas e que tenta controlar minimamente o uso de agrotóxicos”, observa o líder camponês.



No Espírito Santo, o Governo estadual caminha no mesmo sentido, favorecendo os grandes latifúndios e as monoculturas. Investimentos que beneficiam o agricultor familiar se restringem a algumas barragens, que visam amenizar, a curto prazo, o problema da seca, que, por sua vez, é aprofundado exatamente pelas políticas econômicas de incentivo ao latifúndio e monoculturas. “As barragens têm sua importância, mas não podem ser a única ação no enfrentamento da seca”, observa Valmir.



A Campanha Chega de Agrotóxicos, no Espírito Santo, é levada aos militantes das organizações que a compõem e à sociedade por meio do trabalho diário que é desenvolvido, na criação, identificação e implementação de tecnologias agroecológicas de produção e comercialização. E tudo com recursos próprios, dos agricultores e das entidades que os apoiam. A presença do Estado, responde Valmir, se dá por iniciativa pessoal de alguns técnicos e de alguns acadêmicos, mais sensibilizados com a questão.



Na dúvida, avance!



“Os agricultores ecológicos não se sentem valorizados pelo Estado”, afirma Valmir, ao comparar os incentivos fiscais e financiamentos públicos ao agronegócio com as políticas públicos e investimentos na Agroecologia.



“No Brasil ainda prevalece o pensamento ‘na dúvida, vamos avançar’”, ironiza, com relação ao insustentável comportamento dos políticos e da academia em não só liberar, como incentivar o uso de agrotóxicos e transgênicos, sob a alegação de que “não há estudos que comprovem seus riscos à saúde”.



A força da sociedade civil organizada



Se no Espírito Santo e no Brasil, a falta de apoio do Estado para políticas e práticas de redução do uso de agrotóxicos e pleno desenvolvimento de tecnologias ecológicas são gritantes, a situação em outras partes do mundo não é muito diferente. Em resposta, é a sociedade civil que tem promovido as mudanças, ainda lentas, em direção a uma agricultura e uma alimentação mais sustentáveis.



A Via Campesina, na qual os agricultores familiares capixabas se fazem representar, dentro desse grande esforço global em favor da vida, é uma organização internacional de camponesas e camponeses, indígenas, trabalhadores sem terra e migrantes, de 73 países na África, Ásia, Europa e Américas. Criada em 1993, reúne atualmente 200 milhões de pessoas de 164 organizações locais e nacionais e tem sede administrativa no Zimbabue/África.


No Espírito Santo, é formada pelo MPA, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Associação de Programas em Tecnologias Alternativas (APTA).



Entre as demais organizações que integram a campanha Chega de Agrotóxicos estão: a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), o Slow Food Brasil e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).



Para conhecer mais a Campanha e assinar a petição, clique aqui.

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