Sexta, 19 Abril 2024

Cara na reta


O presidente da Câmara de Vitória, Namy Chequer (PCdoB), selou sua sorte na disputa à reeleição deste ano com o ato que anulou o relatório da CPI do Pó Preto. Primeiro, ignorou uma luta antiga e urgente da sociedade civil, que não aguenta mais a omissão do poder público em relação à poluição do ar e do mar promovida na Capital pelas empresas Vale e ArcelorMittal. Segundo, jogou no lixo tudo que já militou nessa área e a própria ideologia do seu partido. Namy sempre teve pleno conhecimento do problema e foi inclusive autor de uma lei promulgada em 2011, mas nunca colocada em prática, que deveria ter regulamentado o Programa Municipal de Controle da Poluição do Ar - a ideia era garantir a devida fiscalização das poluidoras a partir da divulgação anual dos índices de emissões de poluentes, com identificação das fontes. Terceiro, essas interferências no legislativo municipal, inevitavelmente, remetem às velhas relações entre a classe política e o empresariado, que manda e desmanda nas áreas de poder. O relatório da CPI desagradou a todos: empresas, apontadas como criminosas pelos danos causados há décadas pela poluição; Ministério Público Estadual (MPES), acusado de omissão, e ainda governo do Estado e prefeitura de Vitória, pela incompetência no combate à questão, incluindo a atual gestão de Luciano Rezende (PPS), de quem Namy é aliado e líder na Casa. Quem diria, hein, Namy colocar a cara na reta para blindar essa rede de interesses... uma hora ou outra, a conta vem. E pode ser logo. 
‘Não há provas’
No parecer acatado por Namy, do procurador-geral da Câmara, Marcelo Nunes, a recomendação é que seja elaborado outro relatório para ser submetido à votação, “pois não há provas” a respeito de alguns itens, que deverão ser excluídos. Agora repare bem quais...
‘Não há provas II’
“A Vale realiza lobbies juntos aos poderes executivos, legislativos e MPES”; “o MPES trata a Vale como parceira”; “o Estado desorienta o cidadão de forma propositada, ilegal, imoral, antiética, desrespeitosa”; “há uma responsabilidade por ação e omissão da Semmam, Seama, Iema [órgãos municipal e estaduais de meio ambiente]”. Seria cômico, se não fosse trágico.
Prioridade
Aliás, no ofício encaminhado por Namy aos membros da CPI – Davi Esmael (PSB), presidente; Vinicius Simões (PPS), vice; e Rogerinho Pinheiro (PHS), relator – ele fez questão de deixar claro: “A Presidência não medirá esforços em solucionar essa questão”.
Explica!
A Juntos – SOS Espírito Santo Ambiental cobra nas redes sociais: “Sr. Presidente da CMV, Vereador Namy Chequer, o cidadão morador do município de Vitória solicita esclarecimentos detalhados para a sua decisão monocrática”.
Intervenções
Pra você ver, ninguém botava fé na CPI do Pó Preto da Câmara, que ocorria na esteira da CPI de mesmo nome na Assembleia. Aí, quando foi divulgado o relatório, com críticas duras e necessárias, a surpresa foi geral. Para acabar assim, em nada. Ou melhor, em pizza! 
Próximo alvo
A propósito, quanto tempo irá durar para ocorrer o mesmo fim melancólico com o relatório da Assembleia? Até hoje, também não resultou em providência alguma. 
Gaveta
Se você, assim como muitos, enxergou um fio de esperança nessas histórias todas de CPI, melhor cair logo na real, né? Desses matos nunca saem coelhos. 
No forno
Já, já, a “solução” dos sonhos do poder público aparece. Os velhos e conhecidos Termos de Compromisso Ambiental (TCA). Têm de tudo, menos compromisso.
Nas redes
“A temporada 2016 / 2017 do pó preto começou com tudo! Pó preto, fortes ventos nordeste e a poeira das obras do aeroporto, consumo alto de água para limpeza. Como economizar água? Qual ação será tomada para combater a poluição?”. (Juntos – SOS).
PENSAMENTO:
“Em política, toda a poesia é uma mentira à qual a consciência se recusa”. George Sand

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