Quinta, 28 Março 2024

Há três anos, começava o período mais sangrento da história recente do Estado

Há três anos, começava o período mais sangrento da história recente do Estado

Wesley Gomes da Silva, 23, negro, desocupado. Assassinado à 00h05 de sábado (4), em uma via pública de Civit, na Serra. 

Amarai Gonçalves Nunes, 41, pardo, e Willian das Virgens Félix, 20, pardo, desocupado. Assassinados às 16h30 de sábado (4) em uma via pública de Feu Rosa, na Serra. 

João Vitor Vasconcelos de Oliveira, 19, pardo, ambulante. Assassinado no sábado (4) em uma via pública de Prolar, em Cariacica. 

Felipe Martins Paiva, 24, pardo, desocupado. Assassinado à 00h05 de domingo (5) em uma via pública de Alvorada/Vila Velha. 

Wesley Lourete, pardo. Assassinado às 4h de domingo (5), em uma via pública de Itapuã, Vila Velha. 

Thiago de Freitas, 31, pardo, motorista. Assassinado na madrugada de domingo (5), em um bar em Morada de Laranjeiras/Serra. 

Evaldo Freitas Cardoso, 47, pardo, pedreiro. Assassinado às 3h de domingo (5), em Piranema, Cariacica. 

Carlos Roberto Ignocêncio da Silva, 35, pardo, segurança. Assassinado às 10h de domingo (5) em um bar de Campo Grande, Cariacica. 

Katia Ferreira Almeida, 19, parda, desocupada. Assassinada às 11h de domingo (5) em uma via pública de Riviera da Barra, Vila Velha. 

Caio Pereira, 19, pardo, e Piter Gomes Clem, 20, pardo, assassinados no domingo (5) em uma via pública de Pedro Fonte/Cariacica. 

Rhaislan Henrique Gaiba Salles, 15, pardo. assassinado no domingo (5), em uma via pública de Pedro Fonte, Cariacica. 

Luciano Conceição Lima, 21, pardo, e Vinicius Boeker dos Santos (20), pardo, assassinados às 20h de domingo (5) em uma via pública de Conquista, Vitória. 

Thiago de Jesus Bendel, 26, pardo. assassinado às 16h48 de domingo (5) em uma via pública de Marcílio de Noronha, Viana. 




Essas foram as 16 primeiras vítimas fatais do período mais sangrento da história recente do Espírito Santo, registradas na região metropolitana da Grande Vitória. A greve da Polícia Militar de 2017, ocorrida do dia quatro ao dia 25 de fevereiro, deixou um rastro de mais de 200 pessoas assassinadas no Espírito Santo, cerca de metade delas no interior do Estado. Outras duas centenas aproximadamente sofreram tentativas de homicídios e roubos seguidos ou não de morte. 



Das vítimas na região metropolitana, mais de 80% foram homens; quase 90% negros e pardos, e mais de 50% jovens com idade entre 18 e 29 anos, havendo ainda 10% de menores de idade. 



Os números não são oficiais e são estimados com base em informações repassadas pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) às organizações da sociedade civil que lutam pelos direitos das vítimas. 



Muitos deles não tiveram ainda investigações concluídas, algumas nem iniciadas. E há três anos, um conjunto de organizações da sociedade civil se mobiliza em prol dos direitos das vítimas e de seus familiares, como o Círculo Palmarino, o Fórum Capixaba de Lutas Sociais, o Fórum Igrejas e Sociedade em Ação e o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH). 





Foto: Vitor Taveira



No terceiro aniversário do massacre, nesta terça-feira (4), as entidades realizam um ato na Praça Costa Pereira, no Centro da capital, às 17h, com cerimônia inter-religiosa e dois lançamentos: do Decreto Popular de Luto no Estado do Espírito Santo em Memória às Vítimas de Homicídios ocorridos durante a Greve da Polícia Militar em Fevereiro de 2017; e o edital para Elaboração de Proposta de Monumento em Memória às Pessoas Mortas durante a Greve da Polícia Militar no Espírito Santo em fevereiro de 2017, a ser instalado na Praça Costa Pereira.



Os artistas, artesãos, estudantes e outras pessoas ou entidades que atuem na luta por direitos humanos podem enviar suas propostas a partir desta quarta-feira (5), no endereço . As inscrições ficam abertas até o dia 29 de junho. A comissão julgadora das propostas será composta por representantes das organizações proponentes e três artistas convidados. O resultado final será divulgado no dia 10 de agosto, nas páginas das redes das organizações proponentes.



“O desafio aos participantes deste edital é criar uma intervenção artística que demarque a morte de mais de 200 capixabas e, ao mesmo tempo, expresse a luta popular por uma sociedade menos excludente, menos racista, menos violenta”, explica o edital.



Esquecimento 



Em paralelo, as organizações também aguardam resposta do governo do Estado para o pedido de criação de uma Política Estadual de Assistência às Vítimas e Familiares de Vítimas da Violência. O pedido foi feito há um ano, em encontro do Círculo Palmarino, da Associação de Mães e Familiares de Vítimas da Violência do Estado do Espírito Santo (AMAFAVV) e do subsecretário de Estado de Segurança Pública, Guilherme Pacífico. Desse encontro, o indicativo foi de que a proposta seria tocada pelas secretarias estaduais de Planejamento e de Direitos Humanos. Após um ano, a solicitação foi renovada à SEDH, mas continua sem resposta. 



“O Estado foi o principal responsável por essas mortes, devido ao seu regime de austeridade fiscal que privilegiou o suposto sucesso econômico em detrimento de vidas humanas”, sublinham as entidades, em ofício à SEDH, ressaltando que, “após as mais de 200 mortes, o Estado não desenvolveu qualquer política de reparação aos familiares, e sequer foi capaz de concluir a investigação da maioria dos inquéritos para o prosseguimento da devida ação penal, ou seja, muitos dos casos seguem sem respostas”. 



Em suas redes sociais, o Fórum Capixaba de Lutas Sociais lembra que, “à época, o Governador Paulo Hartung ilustrou a situação comparando-a com um ‘sequestro da população’ e indo na contramão das recomendações do seu próprio exemplo, afirmou que não negociaria, deixando a população à deriva por semanas. No entanto, quais foram as consequências do ‘não pagamento do resgate’?”, pergunta. “Foram vítimas os moradores das periferias, aqueles que vivem nas comunidades humildes e que sofrem diuturnamente com a ação de um Estado cada dia mais truculenta e abusiva”, afirmam.



A ampliação de uma política de morte e encarceramento é fato no Espírito Santo, enfatiza o Fórum, citando a presença da Força Nacional de Segurança em Cariacica, o frequente crescimento de investimento em presídios, o encarceramento em massa da juventude pobre e preta, a dispensa de profissionais das áreas de saúde e assistência social no setor de formação e recursos humanos do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), e o aumento do adoecimento desamparado da própria PM, que tem levado integrantes da corporação ao suicídio velado e não notificado.



“Não podemos deixar esse trágico momento da história do nosso Estado cair no esquecimento, sob pena dele se repetir”, advertem as organizações. 

 

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