Terça, 23 Abril 2024

Nenhum feminicídio pode ficar sem resposta

Nenhum feminicídio pode ficar sem resposta

Fotos: Divulgação/ Coletivo Mulheres que Lutam


Há anos, o Espírito Santo vêm aparecendo entre os estados líderes nas estatísticas de violência contra mulher e feminicídios, assassinatos de mulheres por conta de sua condição de gênero. Ao longo do ano, nos acostumamos a ler diversas notícias destes crimes, que, por vezes, colocam o Estado no noticiário nacional pela gravidade e crueldade de atos violentos contra mulheres.



Nesta segunda-feira, moradoras de Guarapari saíram às ruas para protestar contra mais um assassinato, ocorrido na última semana. A balconista Shirley Simões foi morta a tiros pelo ex-companheiro, preso no dia seguinte pela polícia. Não foi a primeira vez que a população do município foi às ruas contra o feminicídio. No ano passado, a Vigília Feminista aconteceu para manifestar a insatisfação com a morte de Maria da Conceição Bispo dos Santos, cantora gospel que utilizava o nome artístico de Ceissa Moreno.


A cantora também teve seu nome lembrado junto ao de Shirley e de Marinalva Castro Santos, outra mulher vítima de feminicídio no ano passado no município. 



O ato aconteceu no início da noite saindo da ponte de Guarapari, que chegou a ser fechada por alguns instantes em protesto, no qual as manifestantes traziam uma grande faixa e vários pequenos cartazes para enviar sua mensagem à população. Participaram familiares de Shirley e também seu ex-marido de uma relação anterior e a filha de oito anos que perdeu a mãe.


A ação seguiu pelas ruas e terminou na Praia do Morro, de frente para o mar, onde foi feita uma roda de encerramento. Apesar do pouco tempo de divulgação, o ato reuniu cerca de 30 pessoas diretamente envolvidas, um número que parece modesto mas que pode ser considerado significativo em municípios de médio porte, com perfil mais conservador e pouca tradição de manifestações públicas nos últimos tempos como Guarapari.



A mobilização foi feita a partir da convocação do Coletivo Feminista Mulheres que Lutam, que vem atuando nos últimos anos em Guarapari com manifestações e evento de fortalecimento das mulheres no âmbito político, pessoal e profissional.


O pedido das mulheres, que deve se estender também para os homens, é de criação e fortalecimento das políticas públicas de enfrentamento ao feminicídio. "Esse ato não deveria ter acontecido, mas houve a necessidade de acontecer", disse a advogada Elisa O'Neill, indignado com o fato deste tipo de crime continuar ocorrendo. Segundo ela, há necessidade de casa de acolhimento e de medidas de apoio para ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade diante de ameaças e violências. Dias antes do crime, a própria Shirley havia entrado com ação pedindo medidas protetivas contra o ex-companheiro que terminou tirando sua vida.


"Acontece muito descaso das autoridades, da própria política. Dentro de nosso grupo de mulheres temos relatos disso. O que nos resta é esse cuidado mútuo de mulher para mulher, a gente se cuida entre nós porque o Estado não garante nossa sobrevivência", diz.



Os avanços legais são evidentes, sobretudo a partir da tipificação do crime de feminicídio no Código Penal em 2015, resultado também da luta das mulheres no âmbito institucional e nas ruas. O combate à violência é um tema recorrente nos diversos eventos, publicações e manifestações do movimento feminista, incluindo nas marchas de 8 de Março convocadas pelo Fórum de Mulheres do Espírito Santo.


As mulheres tentam responder de todas maneiras à violência que pode significar o fim de suas próprias vidas. "O assassinato é uma última instância, geralmente acontecem muitas outras violências antes", lembra Elisa. Apesar da presença de familiares de Shirley, a maioria das presentes não a conheceu pessoalmente. "A luta é por todas mulheres, por qualquer uma delas. Toda mulher que morre é um pouquinho de nós que morre também", desabafa a advogada.


Que nenhum feminicídio fique sem resposta. Nem do Estado e nem da sociedade.

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