Sexta, 19 Abril 2024

População 'invisível' se sente excluída e vê o ódio legitimado

População 'invisível' se sente excluída e vê o ódio legitimado

"Que ódio é esse que se estampou nessa eleição? De onde vem isso?”. Esse questionamento é de um dos 12 participantes do Grupo Focal conduzido pela socióloga especialista em políticas públicas, Viviane Medeiros Chaia, segunda-feira passada (22), em Vitória, e dá uma mostra de que a linguagem da campanha presidencial no segundo turno está longe de alcançar as classes C e D, a população “invisível”. 


A percepção é que essa campanha, além de ódio e acirramento, tem alvo: pobre e preto. O medo e a insegurança estão colocados em dias de incertezas, constata a especialista, que coordenou o grupo composto por 12 eleitores dos bairros de Jaburu, Gurigica e São Benedito, em Vitória, áreas com alto índice de criminalidade.



”Essa violência sempre existiu, nossa sociedade sempre foi violenta, mas agora a violência é legitimada, tem respaldo”, opina um dos participantes, mantidos no anonimato por motivos óbvios que o próprio clima tenso explica.  



Os participantes pertencem às classes mais desassistidas da população, com idades entre 19 a 72 anos, com diferentes ocupações no mercado de trabalho, além de aposentados. O trabalho foi realizado na Igreja Católica de Jaburu.



Apreensão é o sentimento mais marcante da maioria do Grupo, acompanhada de desesperança. Para eles, se Fernando Haddad (PT) vencer, fica tudo como está, ele daria continuidade aos governos do PT, de Lula e Dilma Rousseff.



“Na minha visão, hoje, se o 13 [Haddad] ganha, ficar como está, não vai mudar nada. Se o 17 [Jair Bolsonaro, PSL] ganha, vai virar de cabeça pra baixo”, diz outro participante. 



A percepção do Grupo, segundo a socióloga, é de que “[Michel] Temer está finalizando o mandato de Dilma. E caso Bolsonaro seja eleito, acredito as coisas podem piorar”.


O que fica claro, para Viviane, é que as classes D e C não se identificam com nenhum dos dois candidatos, Bolsonaro e Haddad, mas se identificam com o ex-presidente Lula, que está preso.


“Para o Grupo, nenhum dos dois candidatos é portador de mudança ou de dias melhores. Mas, certamente, Bolsonaro representa dias piores. Esse é o sentimento da maioria, principalmente para a população pobre, preta e das comunidades carentes”.


A socióloga afirma que o Grupo não tem afinidade ou identificação com Haddad, não tem empatia por ele. Talvez pela sua origem acadêmica e de classe mais abastada. Haddad não é Lula, que tem origem na pobreza e nordestino. 



“Além disso, o acirramento entre os candidatos, com trocas de insultos e de denúncias, sem apresentação de propostas claras, torna as eleições ainda menos palatáveis”, diz.   



”Estamos num momento difícil, vai ficar ruim com os dois, mas com um vai ficar pior, vão matar preto e pobre”, diz um integrante do Grupo. O outro completa: “Na eleição passada já havia ódio e, nessa, além do ódio tem alvo, ameaças reais. Não sabemos o que vai acontecer. Medo”...



A maioria do Grupo afirma não conhecer as propostas dos dois candidatos e acha que as campanhas estão em dissintonia com a realidade e anseios dessa população, representada pelo Grupo, que está focado nas necessidades e no cotidiano das comunidades menos favorecidas. 


”Essa eleição está diferente, está pior, difícil, não se tem proposta, um fala de matar, de ódio, está um terror, da vontade de não votar em ninguém”, lamenta outro participante. 



Entre essas necessidades, a moradia própria para quem vive com salário mínimo, a educação, o atendimento das unidades de saúde, a oportunidade de emprego, a sobrevivência e, sobretudo, o respeito a essas pessoas e suas comunidades carentes. 



”Eles falam em armar as pessoas, a gente já vive num mundo que tem violência dentro de casa, nas periferias, entre os jovens que não estudam, que não têm emprego. Os jovens estão precisando de mais educação, mais apoio, que às vezes na família não tem”, afirma, expressando desesperança e temor. 



O mesmo sentimento de quando se desce do ônibus fora da área onde habita, que o leva a se preocupar, porque sabe que ali é um ser estranho, distante das mensagens emitidas nas campanhas políticas. Ele é “invisível” em relação às propostas apresentadas. 



”Tem me assustado o ódio, o ódio das pessoas, se você for de um lado a outro, te odeiam, e nem posso ficar neutro, que as pessoas cobram”, assim é a fala de outro, expressando um medo ainda não detectado nos discursos eleitorais, que os marginalizam ainda mais. 

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