Quinta, 25 Abril 2024

Primeiro clone de café crioulo cadastrado no Brasil é capixaba

Primeiro clone de café crioulo cadastrado no Brasil é capixaba

É capixaba o primeiro clone de café registrado no Cadastro Nacional de Cultivares Locais, Tradicionais ou Crioulos. Cultivado há 40 anos pela família Formetini em Baixo Tabocas, região de Santo Antonio do Canaã, em Santa Teresa,, o “Verdão Formentini” é um clone de conilon com muitas vantagens sobre as variedades hoje em uso no Estado. O principal diferencial é ser imune à ferrugem, uma das principais doenças que abatem os cafezais, o que reduz em muito o uso de agrotóxicos. Mas ele também compete em produtividade dos melhores clones do Estado e tem uma vida produtiva maior que a maioria. 



“A rusticidade e a resistência à ferrugem indicam que no sistema agoecológico ele também seja mais resistente que grande parte das variedades disponíveis”, avalia o engenheiro agrônomo Edegar Formetini, responsável técnico pelo registro do Verdão, e irmão de Roque e Frederico Formentini, responsáveis pela identificação da variedade crioula. “A gente fica bastante feliz, porque há 40 anos trabalhando na roça, lutando, e conseguir registrar uma planta, é uma satisfação muito grande”, declara Roque. 



O fato dele ter uma produção tardia, a partir do final de junho, também é um ponto positivo, na opinião de Roque. “Tem gente que não gosta porque ele é tardio. Eu particularmente acho que é vantagem, por causa da mão de obra. Depois que os outros acabam a colheita é que você começa, então encontra gente mais fácil pra trabalhar. E ganha mais trinta dias de colheita”, compara. 



Roque e Edegar contam que tudo começou no final da década de 1970, quando houve a erradicação do café devido à baixa produtividade e baixos preços no mercado. A família chegou a substituir o café pelo algodão, mas a chegada do conilon, trazida pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC), trouxe nova esperança. 



“Naquela época a gente plantava de semente na lavoura. Daí apareceu esse pé bastante resistente e produtivo. Ele foi ficando e fomos experimentando plantar de semente e não funcionou bem. Começamos então a clonar e vimos que funcionava. Hoje na nossa lavoura, metade é dele”, conta Roque.



A vantagem do clone sobre a semente acontece porque o conilon é um café cruzado, ou seja, as sementes são misturas de dois pés diferente, então ela nunca gera uma planta igual . “A variação é muito grande”, testemunha. No clone, pega-se um galho da planta que se quer reproduzir e faz-se uma muda dela, numa sacola. Depois de muita rega, colhe-se o broto pra formar uma muda, que após quatro a cinco meses, pode ser plantada na lavoura. 



“O conilon surgiu por causa da ferrugem, porque o arábica não aguenta. Só que foram selecionando o conilon pra produtividade e não olharam a resistência à ferrugem. A maioria hoje aí é muito frágil à ferrugem. Tem que bater muito veneno, perde folha, e fica fraco. O Verdão é resistente, tem mais flores, produz mais frutos e precisa de menos agrotóxicos”, explica Roque. 



No início das experiências com o crioulo nascida na Chácara Regina, a produtividade já surpreendia, extrapolando a média da época. “Ele produzia meio saco a um saco de café maduro. Era muito!”, recorda. 



Edegar lembra que a produtividade elevada para a época fez a lavoura dos Formentini se tornar referência na região. O IBC estava iniciando o trabalho de multiplicação do café conilon através de estacas e buscava clones mais produtivos para desenvolver esse trabalho, escolhendo então o clone da família. 



“Num primeiro momento, Roque produziu mil mudas de sementes, pois na época ninguém na região produzia mudas clonais, e instalou um talhão exclusivo destas mudas”, narra. A produção deste talhão, no entanto, foi um fracasso, diz Edegar. “Apareceram plantas de vários portes, com frutos de diferentes formatos e épocas de maturação. Isso comprova o alto grau de hibridismo que a planta original possui. Talvez seja esta a razão do alto vigor do clone", pondera. 



A partir da segunda metade da década de 1980 os viveiristas da região passaram a produzir mudas clonais de forma comercial. “Nesse momento, o Roque pediu aos viveiristas da comunidade Mauro Braz Martinelli e João Gleidson de Sá para que produzissem mudas clonais do café Verdão Formentini e implantou a primeira lavoura com o clone. Em função da fecundação cruzada da espécie de café, Roque optou por plantar uma fila do clone Verdão Formentini e uma fila de clones tradicionais”, descreve.



Nessas quatro décadas de observação e manejo, os Formetini constataram atualmente que, enquanto os demais clones precisam ser substituídos a partir do sétimo ano de produção, o Verdão permanece vigoroso até os 12 ou até 14 anos.



“Agora a gente tem que se esforçar nesse sentido, de reduzir mais o uso do agrotóxico. Hoje a gente vê que o agrotóxico é muito nocivo. A tendência é diminuir o veneno cada vez mais”, projeta.

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