Desta vez o trabalho de restauro do Índio Araribóia não exigiu tanto de Jânio Leonardelli. Pelo menos em comparação com a última vez, em 2012, quando a mítica estátua chegou-lhe ao ateliê, em Santo Antônio, bastante danificada. Mas nada que justifique as avarias encontradas: o índio estava sem os arcos e a flecha, com danos na região dos pulsos, pichações no pedestal de granito. Tudo isso exigiu cerca de 60 dias de trabalho de Jânio, realizado em uma área do Clube Saldanha da Gama.
Em 2012, após vencer um edital para restauro da escultura, o restaurador e artista plástico encaminhou a obra para seu ateliê. Como tem fundição própria, produziu então as matrizes, por exemplo, do arco e da flecha, o que de certa forma deixou o trabalho menos árduo, para, agora, confeccionar novos arco e flecha. “Tive, ainda, que refazer toda a pátina, que escurece a peça e a protege das intempéries”, diz. A ação de restauro foi conduzida pela Secretaria Municipal de Cultura (Semc).
A estátua é profundamente arraigada à paisagem do Centro de Vitória. Ao entrarmos no Centro pela Avenida Beira-Mar, é quase impossível ignorar aquela portentosa figura em bronze que se lança com ímpeto inabalável em direção a algo, retratando uma índole guerreira. O Índio Arariboia nasceu no início da década de 50, quando o então governador Jones dos Santos Neves encomendou a obra ao escultor italiano Carlos Crepaz.
O artista acabara de chegar a Vitória. É 1951 quando Crepaz, nascido na cidade de Ortisei Delomi, em 1919, se fixa na capital capixaba para, a partir de então, ajudar a escrever a história das artes plásticas produzidas no Espírito Santo. “Ele trouxe técnicas da Itália para cá e foi o primeiro professor de escultura da Ufes [Universidade Federal do Espírito Santo]”, diz Jânio.
Embora seja a mais representativa, Crepaz não legou ao Centro apenas a escultura de Araribóia. Seus traços estão inscritos na paisagem da região em outras cinco obras: os bustos de Ubaldo Ramalhete e de Dr. Zerbini (Praça Ubaldo Ramalhete), de Antenor Guimarães (Praça Francisco Teixeira da Cruz), de Afonso Cláudio (Praça Costa Pereira) e a estátua de Dona Domingas (Praça Presidente Roosevelt).
Para Jânio, a escultura do Índio Araribóia se destaca no conjunto de obras escultóricas do Centro de Vitória sobretudo pela temática. A região reúne inúmeros bustos, ou seja, representações de personalidades. “Ele destoa também por causa do tamanho. É um monumento. E ainda porque é uma obra bem constituída, bem feita”, analisa o artista plástico.
Para resguardá-la de possíveis danos e, ainda, oferecer-lhe um local que valorize sua grandiosidade, a Prefeitura de Vitória transferiu o Índio Arariboia da Praça Américo Poli Monjardim, na Avenida Beira-Mar, para o pátio do Clube Saldanha da Gama. O guerreiro da Beira-Mar também ganhou um piso em seu entorno e, como mais uma estratégia de valorização, iluminação cênica em tom de amarelo.