A robusta e marcante estrutura metálica de nome poético instalada na região da Vila Rubim vai perder o ar sorumbático em que há anos se encontra mergulhada. Em solenidade nessa sexta-feira (4), na Vila Rubim, o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), e o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), oficializaram um convênio entre Estado e município para o restauro da Ponte Seca.
O convênio garantiu o repasse de R$ 5 milhões para a execução da obra. Rezende afirmou que as obras de recuperação e reurbanização do equipamento começam em outubro. O edital de licitação será publicado em 30 dias e em 60 será assinado o contrato com a empresa vencedora.
O município já tinha investido R$ 256 mil na contratação dos projetos executivos. Projeto da Prefeitura de Vitória, o restauro da Ponte Seca integra o conjunto de intervenções urbanas e viárias previstas pelo Complexo Viário Portal do Príncipe, cuja ordem de serviço para as obras da primeira etapa foi assinada na mesma solenidade.
O conjunto da Ponte Florentino Avidos, que compreende a Ponte Seca, é a tradução arquitetônica do processo de consolidação de Vitória em centro político, econômico e cultural do Espírito Santo. Diz muito o fato de que até 1920 a Ponte da Passagem era a única comunicação da ilha com o continente – e uma comunicação falha, já que o núcleo urbano da Capital se encontrava mais ao sul.
Um conjunto de intervenções urbanas toma Vitória a partir da última década do século XIX – com o primeiro gestor republicano do estado, Muniz Freire – e se estende pelas primeiras do século XX. Obras de saneamento, execução de aterros, instalação de estruturas portuárias e a construção de estradas de ferro ligando a cidade e outros destinos regionais e nacionais.
Cabe ao carioca Florentino Avidos um desafio: superar o vão viário entre o Porto de Vitória e as estradas de ferro Vitória-Minas e a Leopoldina Railway e, ademais, o sul cafeeiro. O então presidente do Espírito Santo encomenda uma ponte metálica a uma fábrica alemã. As estruturas chegam desmontadas nos porões dos navios para posteriormente serem armadas e edificadas sobre pilares já construídos.
A responsabilidade da construção da ponte fica a cargo de Moacir Avidos, filho de Florentino e diretor do Serviço de Melhoramentos de Vitoria. Em 1° de março de 1926 as obras começam. No ano seguinte, já estão concluídas.
A Ponte Seca, particularmente, liga a Ilha do Príncipe a Ilha de Vitória. É assim batizada após o aterramento do braço de mar entre as ilhas. São apenas 65 metros de extensão. O conjunto foi tombado pelo Conselho Estadual de Cultura, em 1986, como Patrimônio Cultural Arquitetônico.
A Ponte Seca é uma peça inegavelmente singular na paisagem sul de Vitória. A delicada sinuosidade do arco confere certa leveza à robustez da estrutura e a diferencia do frio pragmatismo que caracteriza as pontes que posteriormente nasceriam na ilha.
O restauro abrange a totalidade do equipamento. “Haverá ainda iluminação cênica, que a gente considera que vai valorizar muito esse restauro”, explica a secretária de Gestão Estratégica de Vitória, Lenise Loureiro. “A gente quer resgatar esse espaço como ponto turístico da cidade”, prossegue.
Para completar a requalificação urbana da área, embaixo da ponte será edificada uma praça com bancos, mesas e estacionamento. Os recursos, aqui, não virão dos cofres estaduais. O projeto da praça foi desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento da Cidade (Sedec).
De modo geral, o restauro da Ponte Seca cumpre dois objetivos: receber, e receber bem, quem chega à Capital capixaba pelo sul da cidade, e valorizar o mercado da Vila Rubim, o mais importante mercado popular da cidade. Ademais, como ela será fechada definitivamente para o tráfego veicular, a ideia é tornar a nova Ponte Seca um espaço de visitação e contemplação. De outro modo: reintegrá-la à paisagem da cidade.