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Quem usa chapéu vai na Boné & Cia

Com a notícia de que prosperava o comércio no Centro de Vitória, o jovem Norberto Gorza arrumou suas malas e deixou João Neiva, norte do Espírito Santo. “Vem para cá, não fica em João Neiva, não”, advertira o irmão, que já tocava um comércio na Capital capixaba. Corriam os finais dos anos 50. Norberto chegou solteiro, mas, na lida cotidiana, constituiria não só família, mas também uma dos mais tradicionais estabelecimentos do ramo chapeleiro do Estado.

 
Norberto morreu ano passado, mas a Boné & Cia se mantém firme no ponto em que tudo começou: uma singela loja na Avenida República, ao lado do antigo Cine Santa Cecília e a poucos passos do Parque Moscoso. A Boné & Cia é um nome recente: o estabelecimento inaugurado em 1961 se chamava Casa Gorza.
 
Hoje quem comanda o negócio é o filho de Norberto, Fábio Gorza, que nos conta como a Boné & Cia nasceu. Uma vez em Vitória, Norberto abriu uma loja de Secos & Molhados na Rua Graciano Neves, onde, aliás, morava em uma pensão com outros comerciantes. Depois, montou um negócio de confecções, a Casa Gorza, inaugurado junto com o prédio que ainda hoje o abriga.
 
“Por coincidência, na mesma época, o seu José Costa, proprietário da Kimilly [tradicional indústria de confecções, sediada em Guarapari] começou a trabalhar e vender para ele. Uma parceria que dura até hoje”, diz Fábio, que, em meados dos aos 80, cursava Engenharia Civil na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e não vislumbrava um bom futuro – o mercado da engenharia não se mostrava tão promissor quanto o faz hoje. Então resolveu encarar o negócio da família.
 
O herdeiro explica que, nos últimos 20 anos, a venda de chapéu cresceu tanto que exigiu a setorização. A Casa Gorza se dedicava à confecção em geral, com o negócio dos chapéus sendo um entre muitos. O misto se especializou e aí nasceu a Boné & Cia.
 
Mas, no final, não importa. Com este ou aquele nome, a marca da família permanece, como atestam a longevidade e tradição do estabelecimento. Fábio conta que a Boné & Cia tem uma carta com mais de 100 modelos de chapéu, com, claro, o panamá sendo o mais procurado, e clientes espalhados por todo o Estado, leste de Minas Gerais e sul da Bahia.
 
Fábio cita personalidades públicas para quem a loja vende e já vendeu chapéu. Na lista de artistas nacionais que já atendeu está, por exemplo, o ator Jackson Antunes. Mas ele destaca mesmo é a clientela do interior capixaba, para quem o chapéu é acessório cotidiano.
 
Às vezes ele ouve, de outras pessoas: por que não abre uma loja na Praia do Canto ou em Vila Velha? Ele responde: o pessoal do interior não iria procurá-lo nem na Praia do Canto, nem em Vila Velha. Sua localização é estratégica para quem vem do interior, muitos para tratar de assuntos burocráticos nos órgãos públicos espalhados pelo Centro de Vitória.
 
Como o chapéu compõe o traje típico do samba, e estando a Boné & Cia no berço do samba capixaba, os chapéus da família Gorza não poderiam ficar de fora da festa popular. Fábio conta que Edson Papo Furado, um dos ícones do samba capixaba e figura simbólica do Centro de Vitória, é um de seus clientes. A cantora Vera da Matta é outra, assim como muitos componentes da velha guarda do samba.
 
Todos buscam o chapéu fedora, certo modelo de aba pequena, que todos já vimos e muitos conhecemos como “chapéu de malandro”. Há ainda uma parceria que se repete a cada Carnaval com escolas de samba para a produção de chapéus personalizados.
 

Trabalhar no Centro, para Fábio, é viver em um local que oferece um comércio diferenciado. “Tem coisas que você só encontra no Centro de Vitória. Você entra na Praia do Canto e encontra dois modelos de chapéu, mas não vai encontrar a variedade que eu tenho aqui”, desafia.

 
Ele lembra também que, além do sentimento pelo negócio que criou, foi o clima de amizade do Centro de Vitória que fazia Norberto continuar a trabalhar mesmo após a aposentadoria. “Aqui ele tinha todos os amigos de anos, ia na loja de um e na loja de outro conversar, os amigos vinham aqui. Como até hoje vem gente do interior perguntando por ele”, conta.

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