Seu Diniz não sabe porque seu nome é nome, e não sobrenome. Mas esse pernambucano não parece insatisfeito com o que ganhou quando nasceu, em 3 de abril de 1934, em Catende, a 142 quilômetros de Recife. Cidade famosa, como ele diz, com certo traço de orgulho: “Tinha a maior usina de açúcar do Brasil”. Mas seu Diniz não ficaria lá: 20 anos depois, em 1954, desembarcaria em Vitória para começar uma triunfante história no Centro.
Desde 1962 uma loja de roupas íntimas femininas de letreiro singelo e vitrine simples abre-se para a Rua Sete de Setembro. É A Fada, fundada pelo pernambucano que chegara a Vitória oito anos antes.
O jovem Diniz Francisco da Silva veio para Vitória sozinho. Como a vida no Nordeste não era fácil e o emprego, raro, atendeu ao chamado de um amigo de Recife já estabelecido em Vitória como agente de vendedor ambulante de artigos de cama e mesa. Afora pernambucanos, José Antônio da Silva empregava cearenses e paraibanos, também fugidos da vida severina.
Todos moravam em um hotel na Vila Rubim, onde seu Diniz também se fixou ao chegar. Os vendedores percorriam todo o Espírito Santo inteiro, além da parte leste de Minas Gerais. Em 58, o amigo o chamou para ser seu sócio; Diniz aceitou e assumiu a direção dos vendedores.
Mas pouco depois o amigo renunciou à sociedade. Se Diniz ficou sozinho e, ainda no mesmo ano, abriu a Galeria dos Bordados, loja, também de artigos de cama e mesa, no comecinho da Sete de Setembro. Seu Diniz lembra todo satisfeito que ainda hoje há pessoas que se lembram da Galeria dos Bordados.
A dinâmica da vida no comércio forçou seu Diniz a vislumbrar novos horizontes. Os supermercados, com sua natural condição de maior competitividade, começava a explorar o ramo da cama e mesa. Seu Diniz se viu ameaçado. Mas como na Galeria dos Bordados ele recebia algumas mercadorias de roupas íntimas femininas de grandes redes do ramos, viu ali uma oportunidade. “Vi que esse ramo feminino era um ramo muito fértil. Melhor que o meu”, lembra.
Em 62 ele avança algumas lojas e se estabelece no número 65 da Sete de Setembro inaugurando A Fada. A clientela que conquistara nos anos da Galeria dos Bordados ajudou bastante a sustentar a nova empreitada. “As senhoras que eram nossas clientes na década de 50 traziam as filhas, as netas…”, diz, para completar, sorridente, apertando os miúdos olhos azuis: “E hoje eu atendo as bisnetas”.
“Roupa íntima é um ramo bom. Estamos introduzindo alguma coisa de masculino também, porque a mulher vem e pergunta por um pijama bonito para o marido”, analisa. Ele confia que seus filhos darão prosseguimento ao negócio: seu Diniz tem três filhas e um filho.
Seu Diniz mora na Cidade Alta com a mulher – com quem cultiva um longo e duradouro matrimônio. Casaram-se em 61. Até hoje ele ostenta a aliança no anelar esquerdo. Ele gosta do Centro, de trabalhar e morar. “Vitória é uma cidade boa, me acolheu muito bem quando cheguei em 54”. Gosta também da tranqüilidade da região e, sobretudo, de poder ir trabalhar a pé, renunciando ao carro e ao ônibus.
Aos 80 anos, seu Diniz ainda zela por trabalho. Na manhã dessa terça-feira (12), ele se encontrava de pé, ao lado da loja, contemplado o movimento da Rua Sete. Além da loja no Centro, ele também tem outra, no Centro da Praia Shopping, na Praia do Canto, tocada por uma das filhas.
Além do tino comercial, seu Diniz também mostra sensibilidade para captar o que se passa na cabeça das senhoritas capixabas. Desde 58, lida com o público feminino. Ele diz que busca ficar atento às novidades que as empresas oferecem. “Mulheres gostam de novidades”, diz.