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​’Expectativa é que Cabotegravir seja disponibilizado no SUS’

Medicamento injetável para pessoas vivendo com HIV demandará estruturação dos SAE IST/Aids, aponta conselheiro estadual

Com a aprovação do Cabotegravir pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a expectativa é que o medicamento, em um espaço curto de tempo, seja disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio dos Serviços Especializados de Atendimento ao HIV (SAE IST/Aids). O conselheiro estadual de saúde e representante em Vitória da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV, Sidney Parreiras, aponta que usuários da profilaxia pré-exposição (Prep) e pessoas já infectadas pelo vírus estão em diálogo com o Ministério da Saúde para que isso seja efetivado.

O Cabotegravir é uma nova opção de PreP, só que injetável. Para que seja disponibilizado no SUS, é preciso aval do Ministério da Saúde, que, caso acene positivamente, precisará criar regras para isso. “Há receptividade por parte do Ministério da Saúde, da Anvisa e da Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] para atendimento desse pleito, com possibilidade de repasse para os estados e encaminhamento para os municípios”, destaca Sidney.

Ele recorda que com a quebra das patentes do antiretrovirais, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o Brasil passou a ser referência mundial na prevenção e tratamento do HIV. Contudo, o Governo Bolsonaro (PL) fez com que o país perdesse esse posto, que, acredita Sidney, vai ser retomado no Governo Lula. “O atual governo tem dado oportunidade de participação da sociedade civil no diálogo para a construção das políticas”, compara.

O preço do medicamento é alto. No atacado, custa 3.960 dólares por mês nos Estados Unidos. A dose de iniciação, que é oral, custa US$ 5.490. Entretanto, Sidney acredita que na compra de grandes lotes, é possível negociar a redução dos preços. “Somos 26 estados. Só no Espírito Santo, temos 19 Serviços Especializados, imagine em estados maiores, quantos são?”.

Sidney destaca que, caso seja aprovada a disponibilização pelo SUS, será preciso, porém, fazer um mapeamento dos SAE IST/Aids para averiguar quais ainda não têm a infraestrutura necessária para a aplicação do Cabotegravir.

Essa necessidade surge diante do fato de que há Serviços que nem ao menos têm sala de injeção nem técnicos para fazer aplicação do medicamento. Entre os principais municípios da Grande Vitória, somente Vila Velha e Vitória têm sala para aplicação de injeção. Caso o Cabotegravir seja disponibilizado no SUS, em Viana, Cariacica, Serra e no Serviço Especializado do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), os usuários teriam que pegar o medicamento para que fosse aplicado em outro local, como Unidades de Saúde (UBS).
A ideia é que o remédio seja adquirido na farmácia do Serviço e aplicado também no equipamento. Sidney relata que a Prep, hoje disponibilizada em comprimidos, é utilizada por pessoas de maior poder aquisitivo. Essa realidade, afirma, é vista como uma falha do poder público no que diz respeito à divulgação de medidas de prevenção para além da camisinha, o que acaba excluindo as camadas populares do acesso à informação, e, consequentemente, as coloca em um risco maior de infecção.
Por isso, informa, será feito na Câmara Técnica, para a qual os municípios encaminham suas demandas, o reforço de uma reivindicação antiga, que é a realização de campanhas de divulgação dessas medidas de prevenção. Os municípios, acrescenta Sidney, recebem repasse federal para fazer as campanhas, mas há aqueles que não o utilizam. Por isso, a gestão estadual estuda a possibilidade de transferir o recurso dessas cidades para as que cumprem a função. A reivindicação é que todas gestões municipais façam a sua parte.
Assim, aumentará a quantidade de pessoas das camadas populares a buscar a Prep. Caso o Cabotegravir venha a ser de fato disponibilizado na rede pública de saúde, a adesão das camadas populares ao medicamento pode ser dificultada diante da ausência das salas de injeção, uma vez que nem todos terão condições financeiras de pegar o remédio no SAE IST/Aids e pagar mais uma passagem para se deslocar para uma UBS e aplicar o medicamento.
Para Sidney, a aprovação do Cabotegravir é um avanço em termos de eficácia e de desafogamento dos serviços. O remédio é aplicado a cada dois meses, enquanto os comprimidos são tomados diariamente, fazendo com que a pessoa corra risco de esquecer de ingeri-lo, o que pode interferir nos efeitos. Quanto à possibilidade de melhora do fluxo dos Serviços, Sidney aponta que em alguns deles os usuários pegam o medicamento mensalmente. Com o Cabotegravir, portanto, haveria redução do número de idas ao SAE IST/Aids.
A Prep é uma alternativa de precaução à infecção do HIV, mesmo sem haver exposição ao risco. É utilizada, por exemplo, por profissionais do sexo e pessoas não infectadas que se relacionam com aqueles que convivem com o vírus, formando um casal sorodiscordante.

O Cabotegravir foi aprovado em 2021 na FDA, a agência reguladora dos Estados Unidos. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou o uso do remédio. Também em 2022, a Fundação Oswaldo Cruz e a Unitaid, agência global de saúde ligada à OMS, anunciaram um estudo de implantação do remédio no Brasil, para avaliar a viabilidade de implementação no SUS. As duas primeiras doses do Cabotegravir são aplicadas com quatro semanas de intervalo, seguidas de uma injeção a cada oito semanas. As aplicações são intramusculares, na região dos glúteos

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