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‘A morte do Kevinn é a ponta de um iceberg de descasos e discriminações’

Uma semana após tragédia, familiares, amigos e militantes antirracistas realizam protesto e cobram justiça

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Uma semana após a tragédia, a praça Jerônimo Monteiro, no centro de Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado, recebeu, manhã deste sábado (7), um protesto pacífico por justiça a Kevinn Belo Tomé da Silva. 

O adolescente foi morto no dia 30 de abril dentro de uma ambulância, após ficar quase cinco horas sem conseguir um leito para internação no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha.

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A manifestação reuniu parentes, militantes antirracismo, amigos e colegas da família de Kevinn. A mãe de Kevinn não foi à manifestação, pois ainda está muito abalada e debilitada, sendo cuidada por familiares. Professores e colegas de Kevinn na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Fraternidade e Luz, onde ele cursava o nono ano marcaram presença, além de outros escolares, onde parentes de Kevinn trabalham ou estudam. 

Empunhando diversos cartazes, os manifestantes fizeram momentos de silêncio e emitiram relatos, desabafos, súplicas e gritos por justiça diante de múltiplas negligências que acabaram por ceifar a vida e um jovem, dilacerar a família e consternar a todos os que tomam ciência do caso.

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“Foi importante haver muitas pessoas na manifestação, eu fiquei até um pouco chocada com a quantidade. As pessoas bem revoltadas com a situação, querendo justiça pelo Kevinn. E não só por ele, porque é uma coisa que pode acontecer com outras pessoas, pode ter acontecido com outras, que se calaram”, relata Maria Eduarda Belo, prima de Kevinn. 

Estudante de Medicina em uma faculdade particular de Cachoeiro, Maria Eduarda entende que a morte do primo reflete um enredado de injustiças sociais. “É a ponta de um iceberg de falhas do sistema [de saúde], de discriminações, de descasos”.

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“Por que?” é a pergunta mais frequente feita entre seus colegas e professores. “Por que ele não foi atendido em Cachoeiro? E por que não foi atendido em Vila Velha? Por ele era negro?”, questiona. “Os meus professores médicos pensam, e eu também penso, que ele não devia ter saído de Cachoeiro. Deveria ter sido transferido [do Pronto Atendimento (PA) Paulo Pereira Gomes, onde estava internado há alguns dias com dor no lado esquerdo do corpo, respiração ofegante e dificuldade de levantar] para um hospital daqui, nem que fosse particular, que fosse depois custeado pelo Estado”, pondera. 

Na faculdade, nas escolas, na cidade em geral, conta a jovem, “todos têm sido muito solidários. Entramos juntos numa causa”. 

Homicídio doloso

Em entrevista a Século Diário, a advogada que defende a família de Kevinn e prima do adolescente, Fayda Belo, declarou entender que o caso pode ser classificado como crime de “homicídio por dolo eventual”

O “homicídio por dolo eventual” é uma variação do crime de homicídio doloso, em que a pessoa tem intenção de matar (ao contrário do homicídio culposo, em que não há intenção), mas que a morte decorre não da ação direta de assassinato, e sim da recusa em prestar socorro por parte de alguém que tem obrigação legal de fazê-lo, assumindo o alto risco que tal negativa carrega. 

“No momento em que as médicas da emergência não receberam o Kevinn, que elas e outros agentes de saúde envolvidos não o atenderam, por mais de quatro horas, e que não efetuaram a internação hospitalar que ele precisava, esses agentes assumiram o risco de produzir a morte dele”, aduz. 

“Vamos continuar uma busca implacável para enviar alguém até o banco dos réus, ou mais de uma pessoa, porque não vejo que foram só as médicas que erraram. A gente precisa que a mãe [Suzana Belo da Silva] tenha uma resposta jurídica à altura do seu sofrimento”, reivindica.

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