A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) advertiu para o risco de urbanização da febre amarela no País. O alerta, em carta aberta divulgada no Rio de Janeiro, é datado desta segunda-feira (29). No documento, a Abrasco afirma que a situação “nos obriga a definir políticas de curto e médio prazo para prevenir futuros surtos”.
Em outro trecho, assinala que “atualmente, o controle da doença depende primariamente da imunização da população de risco, a qual, neste momento, vem se estendendo rapidamente para mais municípios. Consideramos que não se pode mais afirmar com segurança que ainda não existe transmissão urbana da doença”.
A entidade lançou há um ano carta aberta sobre a febre amarela no Brasil, documento assinado por mais seis instituições do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira. Apelava para que o Ministério da Saúde, dentro de seu papel constitucional, organizasse e coordenasse o combate à febre amarela, mobilizando e integrando ações dos estados, municípios, centros de pesquisa, universidades e meios de comunicação.
A entidade registra que 12 meses depois, “se dirige novamente às autoridades sanitárias do Ministério da Saúde, das Secretarias Estaduais e Municipais de saúde e à sociedade brasileira para fazer o alerta: a ameaça da urbanização da Febre Amarela nos obriga a definir políticas de curto e médio prazo para prevenir futuros surtos”.
O aumento do número de casos e de mortes por febre amarela registrado nas últimas semanas em Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Distrito Federal está preocupando e causando insegurança na sociedade devido à gravidade desta doença e do risco de sua urbanização.
A Abrasco também cita o Espírito Santo entre os estados com mortes nas últimas semanas, mas a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que não há mortes neste ano. No Espírito Santo, no ano passado, a febre amarela matou 100 pessoas das 330 contaminadas com o vírus da doença.
A Sesa afirma que os 330 casos confirmados no Estado são de febre amarela silvestre, ou seja, ocorridos na área rural. E que o último caso de febre amarela no Espírito Santo foi registrado em julho de 2017.
Macacos
O documento da Abrasco relata que é sabido “que uma extensa epizootia, epidemia em macacos suscetíveis a doença, vem acontecendo, simultaneamente, em vários estados brasileiros, em áreas próximas a cidades densamente populosas. Os atuais surtos de febre amarela têm sido atribuídos a pessoas picadas por mosquitos que vivem em áreas de mata, a febre amarela silvestre”.
Explica ainda a Abrasco que a febre amarela é uma doença imunoprevenível, ou seja, pode ser evitada desde que se adote medidas de prevenção adequadas, o que inclui elevadas coberturas vacinais e informações e ações de educação em saúde para que as pessoas não adentrem as matas ou permaneçam nas áreas consideradas de risco sem estarem imunizadas.
Estas ações, que devem ser contínuas e intensificadas quando se detecta epizootias, evitariam a crise pela qual estamos passando com dezenas de mortes até o momento. Em área urbana, a febre amarela é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que tanto dano causa aos brasileiros, ao transmitir a Zika, a Dengue e o Chikungunya.
A entidade também cita que as dificuldades de controlar este vetor são conhecidas. No ritmo em que vem aumentando o número de casos de febre amarela silvestre em humanos, torna-se assustadora a possibilidade de haver uma epidemia urbana da doença, na medida em que mais de 90% das cidades do país encontram-se infestadas por este vetor.
A Abrasco alerta: “Caso haja transmissão pelo Aedes aegypti em áreas urbanas, além das mortes que fatalmente ocorreriam até se detectar o problema e realizar um amplo bloqueio vacinal, o real controle da situação exigiria um enorme esforço e imenso quantitativo de vacinas para se proteger as populações residentes nas áreas urbanas infestadas”.
Atualmente, o controle da doença depende primariamente da imunização da população de risco, a qual, neste momento, vem se estendendo rapidamente para mais municípios. Consideramos que não se pode mais afirmar com segurança que ainda não existe transmissão urbana da doença.
Preocupadas com a gravidade do atual surto de Febre Amarela silvestre em diversos estados brasileiros, as entidades integrantes do Fórum da Reforma Sanitária Brasileira abaixo assinadas reconhecem a necessidade de unir esforços para contê-lo o mais rapidamente possível.
“Prioritariamente, faz-se necessária a vacinação seletiva, imediata e abrangente das populações residentes ou que visitam as áreas onde estão ocorrendo casos de Febre Amarela. Isto somente será possível com um reforço da produção e da distribuição de vacinas, bem como da rede de frio. Ademais, deve-se considerar a importância de ampliar o quantitativo de recursos humanos treinados para indicar com segurança (vacinação seletiva) e aplicar o imunógeno em cada posto de vacinação”.