Defensoria investiga se a não internação em UTI ocorreu por negligência médica, como acusam hospital e Sesa
Por que o adolescente Kevinn Belo Tomé da Silva, de 16 anos, não foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, assim que chegou ao hospital, acabando por vir a óbito na madrugada de sábado (30), dentro da ambulância que o trouxe de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, após quatro horas de espera? Negligência médica ou da direção do hospital?
Em busca da resposta para a pergunta, a Defensoria Pública Estadual (DPES), por meio da Coordenação e do Núcleo da Infância e Juventude, instaurou procedimento administrativo e oficiou, nesta segunda-feira (2), a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e a direção do Himaba, que é administrada por uma Organização Social de Saúde (OSS), o Instituto Acqua, sob responsabilidade do diretor Fábio Renato de Souza Diehl, para obter informações sobre o caso.
Entre os pedidos da instituição estão: as comprovações do atendimento médico inicial dado ao jovem; a relação dos responsáveis pela direção e coordenações técnicas médica e de enfermagem que estavam no plantão; informações referentes às providências adotadas para apuração do caso. “A partir de uma análise das respostas da Sesa e do Himaba, a Defensoria Pública vai apurar se houve negligência”, afirma a DPES.
Também nesta segunda-feira, a Sesa abriu auditoria “para avaliação de todo o processo que envolve o atendimento do adolescente”. Em suas declarações públicas até o momento, o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, tem sustentado a posição da direção do hospital, de que a não internação do adolescente foi de reponsabilidade de duas médicas plantonistas, que ainda não se manifestaram publicamente sobre o caso.
Em nota, a Sesa disse que a direção do hospital “registrou ocorrência policial contra o que considera flagrante negligência médica por parte das profissionais plantonistas”. Afirma ainda que “as duas médicas foram afastadas de suas funções, o que é garantido no Código de Conduta da instituição diante de fraude, escândalo ou algo do gênero por parte do colaborador ou prestador de serviço até a apuração da investigação, garantindo a ampla defesa” e que “fez representação junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM) para que a conduta das profissionais envolvidas seja devidamente avaliada”.
O hospital, afirma a Sesa, “estava preparado para receber o paciente, com disponibilidade de leito, profissionais e equipamentos necessários ao atendimento”.
Em nota pública, a Associação dos Médicos do Espírito Santo (AME-ES) “repudiou veementemente” a postura da Sesa, “por realizar pré-julgamento dos médicos envolvidos no caso do falecimento do adolescente”. Para a entidade, “o afastamento sumário sem processo administrativo disciplinar para apuração dos fatos, precocemente feita pela Sesa denota uma tentativa de retirar de si qualquer responsabilidade sobre o caso”.
Tragédia
Kevinn aguardou mais de quatro horas na porta do Himaba, dentro da ambulância que o havia transportado do hospital onde já estava internado em Cachoeiro desde a semana passada, com respiração ofegante, dor no lado esquerdo do corpo e dificuldade de levantar, além de infecção. Ele saiu da cidade com uma vaga garantida no pronto-socorro do Himaba, mas durante a viagem, teve agravamento do quadro, sofrendo duas paradas cardíacas no caminho e uma na porta do hospital, tendo sido entubado para continuar respirando.
Ao chegar em Vila Velha, a equipe de plantão verificou a necessidade de internação em UTI, mas o rapaz não teve autorização para ocupar um leito, permanecendo na ambulância, que dispunha de serviço de UTI móvel. A informação é de que a vaga na UTI do Himaba já estaria reservada para um paciente internado em um hospital de São Mateus, norte do Estado, e que chegou no Himaba horas depois de Kevinn. O caso é investigado pela Polícia Civil.