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‘Afrontar e afirmar outras lógicas a partir da experiência com o inconsciente’

Projeto Ocupação Psicanalítica lança livro que aponta horizontes para uma psicanálise antirracista e decolonial

Divulgação

Um movimento para “afrontar e afirmar outras lógicas, a partir da experiência com o inconsciente”. Assim se autodefine o Coletivo Ocupação Psicanalítica-ES, desenvolvido pelo Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e que celebra dois anos de existência com o lançamento do livro Ocupar a psicanálise: por uma clínica antirracista e decolonial, que será realizado no próximo dia 17, às 16h30, no campus de Vitória.

O projeto tem objetivo de “ocupar política, teórica e clinicamente o espaço psicanalítico, a fim de produzir novos conceitos e práticas orientados à formação antirracista de psicólogos e psicanalistas, assim como promover o acolhimento e atendimento do sofrimento mental da população negra e intervir no pacto narcísico e hierárquico branco”. A realização é feita em parceria com as universidades federais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e do Recôncavo Baiano (UFMG, UFRJ e UFRB).

Desde 2021, tem atendido estudantes de Psicologia da Ufes e estudantes negros em geral da universidade, além de pessoas negras moradoras de bairros periféricos da Grande Vitória e membros de comunidades quilombolas e indígenas do interior do Estado. Também tem promovido o aprofundamento de estudos e supervisão clínica junto a estudantes e psicológicos formados pela Ufes e a psicólogos e psicanalistas negros que necessitem de apoio para a continuidade da formação clínica.

“No Espírito Santo, temos trabalhado em parceria com coletivos de movimentos sociais de juventude do Território do Bem e com estudantes cotistas da Ufes, encaminhados pela Pró-Reitoria de Assistência Estudantil e Cidadania. Em Minas, além do público de estudantes, existe a conexão com um quilombo urbano. No Rio, há parcerias com coletivos que lutam contra a violência de estado, como o Portal Favelas. E na Bahia, têm sido acolhidas demandas de comunidades indígenas do interior do estado. Em cada território, o trabalho se organiza de um jeito, mas sempre partindo de uma conexão com coletivos, de modo a ter espaços de conversas coletivas e atendimentos individuais”, explica o professor do Departamento de Psicologia da Ufes Fabio Bispo, um dos coordenadores do projeto e do livro.

Ele explica que a ocupação da Psicanálise com profissionais, pacientes e pensadores negros está longe de ser uma ação de interesse exclusivo da população negra, pois beneficia toda a sociedade. “O enfrentamento ao racismo é um desafio de todos, não somente de pessoas pretas. Profissionais que ocupam as políticas públicas, as escolas, as universidades podem contribuir para uma valorização de cosmologias e referências da negritude que são constantemente apagadas ou violentadas, como acontece com o racismo contra religiões de matriz africana”.

O professor aborda dados do Programa de Atividades para a Implementação da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que publicou uma análise das condições de vida da população brasileira, a partir de dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra as gritantes desigualdades sociais e étnicas.

A taxa de subutilização de mão de obra, por exemplo, é de 18,8% entre pessoas brancas e 29% entre pretas. Ocupação de cargos gerenciais tem 68,6% de brancos e 29,9% de pretos. A representação política por deputados federais eleitos nas eleições de 2018 foi de apenas 24,4% de pretos. Tudo isso, dentro de uma realidade brasileira em que 56,4% da população se declara negra.

Citando o atual ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, Fábio Bispo afirma que “o racismo estrutural grita, humilha e adoece a população negra”. A necessidade de políticas públicas de saúde especificas para essa população, afirma, são abordadas no documento “A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN): Uma Política do SUS”, publicado pelo Ministério da Saúde em 2017. Que afirma “um compromisso no combate às desigualdades e na promoção da saúde da população negra de forma integral, tendo em mente que a ausência de saúde é um resultado de “injustos processos socioeconômicos e culturais – em destaque, o vigente racismo – que corroboram com a morbimortalidade das populações negras brasileiras”. 

Escrita coletiva

O livro a ser lançado na próxima quarta-feira foi tecido coletivamente e, segundo os autores, “aponta horizontes para uma clínica antirracista e decolonial no terreiro da Psicanálise”. A obra é composta por três seções. A primeira, “Ocupar a Universidade: ações afirmativas contra o racismo”, conta com a participação de convidados que tem atuado como intervisores do projeto, como o pró-reitor da Proaeci da Ufes, Gustavo Forde, Lia Schucman e Maria Lúcia da Silva. A segunda e a terceira seção, “Ocupar a psicanálise: a crítica ao racismo estrutural” e “Ocupar a clínica: por uma práxis antirracista” conta com artigos escritos por professores e psicanalistas integrantes do Ocupação Psicanalítica.

O evento terá uma mesa redonda, composta por Fábio Bispo, Gustavo Forde, Sonia Rodrigues da Penha (a psicanalista e co-coordenadora do Coletivo e coautora do livro) e Thiago Balbino (artista plástico, ilustrador, produtor cultural e autor da arte da capa do livro). A mediação é da professora da Ufes Luizane Guedes Mateus. 

A participação é aberta ao público, sujeito a lotação, 130 pessoas.

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo link: https://forms.gle/j3MYfKM5PLchUifF9

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