Sabrina Ribeiro Cordeiro explica que ANPSINEP atua há 10 anos no Brasil e pauta questão do racismo a partir da Psicologia
É nesse contexto urgente que, nessa sábado (21), psicólogos negros lançaram oficialmente no Espírito Santo o núcleo estadual da Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es), a ANPSINEP, que já possui dez anos de atuação no País. O grupo capixaba, composto por seis psicólogos e psicólogas e aberto a novos colaboradores, já se articula desde agosto deste ano, quando apoiou a campanha “Saúde Mental da População Negra Importa”, realizada nacionalmente pela entidade, com um mês de duração.
“A Articulação busca intervir nos processos sociais, articulando a produção de conhecimento e a ação política no campo da Psicologia, a partir da compreensão acerca dos impactos do racismo na construção das subjetividades e nas relações raciais no Brasil”, diz a carta de apresentação lançada a entidades do Estado.
Um dos pontos centrais é atuar com os profissionais e estudantes de Psicologia para dar visibilidade ao entendimento sobre os efeitos psicossociais do racismo e o que isso implica na prática profissional de psicólogos em seus mais variados espaços de atuação. “Nós avaliamos que a Psicologia como produção de conhecimento já nasceu com o propósito muito declarado de controle dos sujeitos para que se adequassem a certo funcionamento social, muito comprometido com a lógica colonialista”, critica Sabrina Ribeiro Cordeiro, uma das integrantes do grupo no Espírito Santo. Isso não implica, porém, abandonar a Psicologia como campo importante do conhecimento, pelo contrário, significa reivindicar a descolonização dos saberes para que se possa ter um entendimento ampliado que permita uma atuação mais efetiva para a realidade que encontramos em nossos territórios.
“A luta antirracista é importante e muitas pessoas têm falado sobre isso na Psicologia há bastante tempo. A violência e o racismo são estruturantes em nossa sociedade, é preciso pensar sua superação nas relações familiares, de trabalho, em todos âmbitos da vida. O racismo é uma ferida aberta o tempo todo sangrando, que coloca o povo negro no lugar de subalternidade no acesso a bens e serviços que poderiam proporcionar uma potencial igualdade”, pontua a psicóloga.
A próxima reunião do grupo capixaba será no dia 5 de dezembro, tendo em vista a estruturação da articulação a nível estadual e o planejamento de ações para 2021. Entre elas devem estar a aproximação com instituições e ensino superior em Psicologia, buscando inserir a discussão étnico-racial na formação dos profissionais e até repensar os currículos acadêmicos dos cursos de graduação e pós-graduação, incluindo disciplinas sobre o tema e também maior números de autores negros e brasileiros.
Além disso, está nos planos a criação de um grupo de estudos sobre saúde mental da população negra, incluindo acadêmicos, profissionais, estudantes e outros interessados. “Queremos avançar nessa construção do conhecimento, apresentar o que já vem sendo produzidos por muitos psicólogos e intelectuais negros brasileiros e estrangeiros e promover a produção de conhecimento, estimulando que após a graduação, alunos possam produzir teses e dissertações para avançar na construção do conhecimento e dar visibilidade a esses debates”, diz Sabrina. Ela acredita que o grupo da ANPSINEP-ES também poderá servir para promover e participar de discussões e servir de fonte de informação por meio da mídia e outros canais de comunicação.
“A ideia é que seja um grupo aberto às demandas da sociedade em relação às questões étnico-raciais, que pode acolher o que seja trazido pela categoria e pela sociedade em geral”, indica. A carta da entidade no Espírito Santo enfatiza que a população negra tem seu direito à vida muita vezes negado, e quando consegue acessar os saberes e práticas da Psicologia, “se vê novamente silenciada, não tendo sua dor reconhecida e legitimada por profissionais psicólogas(os) despreparadas(os) para lidar com essa realidade de opressão racial”.
É por isso que em sua carta de lançamento, a Articulação convoca psicólogos que atuem na construção de “uma Psicologia que esteja técnica, científica e eticamente alinhada com a construção de uma sociedade não racista e descolonizada”, para se somarem ao movimento, que pode ser contactado por meio do e-mail [email protected].
O grupo pretende ao poucos fazer levantamento e mapeamento de quem são os profissionais de Psicologia negros no Espírito Santo, onde estão inseridos, e que tipo de atendimento têm realizado. “Queremos aquecer as redes que nos conectam uns aos outros, reverberando para a nossa sociedade, para ter mais visibilidade sobre a questão racial”.
Além de Sabrina Ribeiro Cordeiro, o grupo fundador no Espírito Santo é formado por Sonia Penha Rodrigues, Janaina Pereira Coelho, Helom Oliveira, Fábio Bispo e Flávia de Melo dos Santos.