“A atenção básica terá o desafio de retomar todas as suas atividades na fase de recuperação, na vivência da etapa de estabilização de casos e do momento de transmissão local da doença. E também na preparação dela para futuras novas ondas, quando a identificação rápida de surtos em bairros, locais de trabalho e escolas será fundamental para impedir que novas ondas assumam grandes proporções no Estado”.
A declaração é do secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, durante coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (10). “A atenção básica é de fato um nível de atenção reconhecido pelo nosso governo como um nível estratégico para reposicionar o Sistema Único de Saúde e garantir que a gente possa utilizar todos os recursos disponíveis na APS [Atenção Primária em Saúde] para enfrentar a Covid-19 e dar conta também das outras doenças”, enfatizou, citando o trabalho feito no setor pelo governo de Renato Casagrande (PSB) neste primeiro ano e meio de gestão.
Segundo Nésio Fernandes, foram implantadas até o momento 155 novas equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Espírito Santo, num esforço para “reorientar a rede de atenção à saúde”, antes focada em demasia na rede hospitalar. “Promovemos um conjunto de estímulos e debates com os municípios, com estratégias principalmente focadas na formação de especialistas em atenção primária em saúde, em medicina de família e comunidade, onde temos mais de 700 profissionais atuando por meio do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação, tendo ocorrido em abril a última “onda de ampliação das equipes”, proporcionando “experiências exitosas com atuação da atenção básica no diagnóstico, notificação, isolamento e monitoramento de casos”.
“A atenção básica no Espírito Santo nunca teve cobertura ampla, consolidada. Nós tínhamos a quarta pior cobertura da ESF no início do governo de Casagrande, foi a herança que recebemos de um modelo de atenção à saúde que consolidou a sua organização com foco na doença e nos hospitais”, comparou.
Especificamente sobre a Covid-19, Nésio Fernandes disse ainda que “a característica da pandemia de Covid-19 tem um elemento que não tem como principal característica a atenção primária”. O setor, avalia, “tem uma vocação muito grande para o cuidado de condições crônicas e longitudinal de populações nos seus territórios e tem sempre o desafio permanente de equilibrar oferta de serviços que ela garante àquele território entre as condições agudas e as condições crônicas”.
Por isso, ressaltou, a pandemia levou o Estado, o Ministério da Saúde e os municípios a organizarem “novos fluxos assistenciais na atenção básica, como por exemplo os fasts track, acessos rápidos dos pacientes respiratórios aos serviços de atenção básica para que ela pudesse garantir que os pacientes respiratórios não esperassem muito tempo, com pacientes que não tinham problemas respiratórios”.
Nesta semana, reafirmou o secretário, “começou a ser estabelecida uma agenda de resposta rápida da atenção primária em saúde, já em implantação nos municípios, que está reposicionando as ações da atenção básica para o enfrentamento ao Covid”, sem, no entanto, haver qualquer aceno para o aumento dos investimentos financeiros no setor.
O oxímetro domiciliar, no entanto, “é uma intenção, ainda não concretizada”, reforçou a Sesa por meio de sua assessoria de comunicação. “A proposta seria, conforme critérios clínicos, que equipes de saúde da família possam conceder o equipamento para um paciente utilizar por um tempo determinado”, explicou a secretaria.
Novas ondas
As novas ondas que possivelmente surgirão no segundo semestre deste ano, esclareceu Nésio Fernandes nesta sexta, virão “enquanto não houver vacina ou tratamento especifico real que salve vidas (…), e a partir do momento que retomar atividades mais amplas. É uma expressão do comportamento da doença que tem ocorrido em outros países”, contextualizou. Uma segunda curva, no entanto, “deve ter proporções menores que a primeira”.
“É importante que todos compreendam esse comportamento, para que, a partir da reabertura ampla de atividades, estejamos preparados para a ocorrência de nova curva de casos no Espírito Santo”, pediu, dizendo que, em função do novo comportamento do vírus, a Matriz de Risco foi atualizada e será apresentada ainda nesta sexta pelo governador Renato Casagrande.
Novas flexibilizações de atividades econômicas e sociais, no entanto, só serão feitas pelo governo do Estado “a partir da percepção de uma consolidação das diversas fases”. “Nós não modificamos as decisões estratégicas e estruturantes por avaliação de tendências”, ressaltou.
“Não obstante reconhecer que está se iniciando uma fase de recuperação que precisa ser confirmada, não iremos modificar as decisões de expansão de leitos”, ratificou, anunciando uma quinta etapa de expansão de leitos hospitalares, que poderá elevar para 800 o número leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para Covid em julho.
Tendência de recuperação
“Reconhecemos que estamos vivendo uma estabilização consolidada do número de casos na Grande Vitória e iniciando a tendência da fase de recuperação que deverá ser confirmada e acompanhada na evolução das próximas quatro semanas”, disse, explicando que esse comportamento é resultado da estratégia de isolamento social e expansão de leitos adotada no Estado e também de um comportamento natural da pandemia.
“Fomos o terceiro estado a reconhecer casos da doença e um dos primeiros a tomar medidas de afastamento social mais ampla no início da pandemia, o que permitiu retardar um pouco o avanço e a dimensão da curva de aceleração e do crescimento rápido da doença”, lembrou. “Nós conseguimos ajustar e dimensionar o tamanho do sistema de saúde, das medidas sociais e da coesão social a ponto de conseguir que o Espírito Santo não colapsasse”, argumentou.