Estados devem exigir auxílio financeiro do governo federal para lockdown nacional, orienta Ethel Maciel
O Brasil atravessa “o maior colapso sanitário e hospitalar” de sua história, na avaliação da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). A conclusão é do Observatório Covid-19 da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e consta no boletim extraordinário publicado nessa terça-feira (16).
Neste momento, ressalta a Fiocruz, das 27 unidades federativas, 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estão com essas taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%.
O Espírito Santo e a capital Vitória estão no risco mais alto, em vermelho no mapa. Apenas Roraima e Rio de Janeiro estão em amarelo, este último, no entanto, com tendência de agravamento do quadro e taxa de ocupação de leitos de UTI em 79%.
No boletim, os pesquisadores defendem a adoção rigorosa de ações de prevenção e controle, como o maior rigor nas medidas de restrição às atividades não essenciais, com ampliação do distanciamento físico e social, uso de máscaras em larga escala e aceleração da vacinação.
“Esse conjunto de ações se faz necessário de forma coordenada e com monitoramento do panorama epidemiológico nos estados, até que a vacinação seja intensificada e atinja uma ampla cobertura vacinal. Também é importante a comunicação efetiva dos riscos de transmissão, cuidados necessários e a justificativa das medidas”, afirma a entidade.
A publicação desta edição do boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz se deu simultaneamente ao anúncio, pelo governador Renato Casagrande (PSB), da quarentena de 14 dias em todo o Espírito Santo, devido ao risco extremo atingido em função da ocupação de 91% dos leitos de UTI dedicados aos doentes pelo coronavírus.
Alinhada com as recomendações da Fiocruz nesse momento trágico da pandemia em território brasileiro, a epidemiologista e professora-doutora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel afirma que “as medidas anunciadas pelo governo do Estado são insuficientes diante do colapso em que nós estamos”.
De fato, o boletim da Fiocruz traz dados sobre o uso correto de máscaras. As de pano com multicamadas podem diminuir entre 70%-80% o risco de infecção. O uso delas ou das máscaras PFF2 ou N95 por 80% ou mais da população proporciona uma redução muito acentuada da transmissão, mas se somente 50% da população utilizá-las, a redução será mínima.
Reduza as interações diárias
Diante de medidas ainda insuficientes por parte dos governos estaduais, em função, em grande medida, da falta de apoio do governo federal, o apelo é para que as pessoas diminuam o número de interações por dia. “Se é possível ir ao trabalho de bicicleta, vá de bicicleta, evite o transporte coletivo. Se você pode trabalhar de casa, negocie com seu empregador. Nós precisamos que, todos que puderem, reduzam o número de pessoas que encontram por dia. É isso que a gente precisa fazer pra diminuir essa transmissão acelerada do vírus e poupar vidas”.
Recordes de mortes e casos diários
Nas três últimas semanas (desde 21 de fevereiro, Semana Epidemiológica 8/2021), o número de casos cresce a uma taxa de 1,5% ao dia, e o número de óbitos por Covid-19 aumenta em 2,6% ao dia, “valores elevados se comparados à primeira fase da pandemia no Brasil”, ressalta a Fundação, que menciona o agravamento da condição de saúde também de pessoas não contaminadas pelo SARS-CoV-2, mas que não estão podendo acessar o serviço de saúde já colapsado pela pandemia; bem como os graves adoecimentos dos trabalhadores da saúde, exauridos pelas jornadas excessivamente longas e as más condições de trabalho, sem sequer poder contar com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados.
Com base na Carta dos Secretários Estaduais de Saúde à Nação Brasileira, a Fiocruz elenca medidas urgentes a serem adotadas no país: proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional; suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país; toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana; fechamento das praias e bares; adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público quanto no privado; instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual; redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos; e ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.
O exemplo de Araraquara