Espírito Santo foi o que mais abriu leitos per capita, mas “o que salva vidas mesmo é o distanciamento’, conclamou governador
“É bom que a gente numa hora dessas tenha empatia e possa ter sucesso como sociedade. A gente não pode fracassar como sociedade. Temos que, individualmente, ter condições de compreender o sofrimento do outro, se preocupar com a nossa vida e a dos outros, para que a gente possa ter um sucesso, um resultado como sociedade”.
O pedido foi feito pelo governador Renato Casagrande em pronunciamento extraordinário feito nesta terça-feira (23), após a confirmação de que o Espírito Santo registrou, nas últimas 24 horas, 72 óbitos pela Covid-19, somando já 7.053 mortes até o momento.
“A maioria da sociedade apoia a medida do governo”, ressaltou Casagrande. Mas “para poder de fato ter um efeito nessa quarentena, preciso do envolvimento de vocês”, enfatizou, mencionando os questionamentos sobre atividades sociais, como a proibição de frequentar as praias e realizar festas privadas.
“Nós vamos apertar a fiscalização, mas é bom que a gente peça a colaboração de todo mundo e a colaboração individual, para que você não vá à praia, não aglomere, não vá onde tem muita gente, que você se recolha nessa hora, porque é uma tristeza chegar ao final do dia e ver que 72 pessoas perderam a vida. No Brasil, quase três mil pessoas. Isso entristece o coração e faz com que a gente se preocupe com a vida de outras pessoas”, ponderou.
O apelo, insistiu, é pra que o Estado reduza a velocidade de transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e possa atingir um platô, com menos internações e mortes diárias, e podendo “continuar com o sistema de saúde com condições de atender a todo mundo, como a gente fez até agora”.
No dia 1º de março, informou Casagrande, o Espírito Santo tinha 525 pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e hoje são 747 pacientes. “Foram 222 pacientes a mais em leitos de UTI em 23 dias!”, exclamou. Em relação aos leitos disponíveis, eram 724 leitos no dia 1º e 818 nesta terça-feira (23). Foram 94 leitos a mais, porém, a demanda extra foi de 222 pessoas.
“O que estamos começando a enfrentar no setor público, o setor privado já está enfrentando. Muitos hospitais privados não têm vaga pra internar pessoas com Covid ou outra enfermidade. No sistema público de saúde [entre 93% e 94% de ocupação], abrindo leitos permanentemente, estamos tentando dar um passo à frente, mas a doença está no nosso calcanhar”, alertou.
Desde o início da pandemia, ressaltou o governador, “o Espírito Santo foi o estado que mais abriu leito per capita no Brasil e quer continuar dando dignidade às pessoas, atendendo bem as pessoas, salvando vidas”, afirmou.
“Agora, o que salva todas as vidas mesmo, é a sua colaboração e a nossa disciplina, para que a gente possa cumprir os protocolos e as medidas preventivas que impedem a transmissão do vírus”, pediu.
Casagrande lembrou que as novas variantes do vírus, que já circulam no Estado, são mais agressivas. “Estão atingindo com muito mais gravidade e pessoas de menor idade, abaixo de 60 anos”. Além disso, descreveu, os pacientes têm chegado aos hospitais em condições mais graves.
A decisão de propor a quarentena de 14 dias foi tomada já prevendo o agravamento do cenário pandêmico não só no Espírito Santo, mas em todo o país, disse Casagrande.
A vacina, contextualizou, ainda não chegou em quantidade suficiente pelo Ministério da Saúde. “Ainda estamos vacinando pessoas de 70 anos pra cima“, informou. Assim, “o único meio de tentar salvar vidas e manter o sistema de saúde mais ou menos organizado, é fazendo o distanciamento”.
As manifestações contrárias ao fechamento de atividades econômicas e sociais em função da quarentena, salientou Casagrande, são legítimas. “Há pessoas de boa-fé, preocupadas com seu negócio e seu emprego”, evidenciou, “mas também há pessoas interessadas em objetivos eleitorais e políticos. Tem que separar isso. E pedir a quem tem boa-fé, a compreensão e envolvimento de vocês”, rogou.
Reconhecendo se tratar de uma medida impopular, Casagrande ressaltou, no entanto, que “quem governa numa época de guerra mundial que vivemos, com o vírus como o inimigo, não pode ser preocupar se a medida é simpática e se vai te dar popularidade. Tem que fazer o que é justo, correto”, destacou.
“É mais um apelo que eu faço, mais um pedido, um dia triste, que a gente bate um recorde de 72 pessoas que perderam a vida”, conclamou.