Precariedade da saúde indígena de Aracruz é denúncia recorrente no Espírito Santo
As chuvas registradas no Espírito Santo têm afetado os espaços destinados à saúde indígena de Aracruz, no norte do Estado. Na unidade de Caieiras Velha, aldeia mais populosa do território Tupinikim, servidores registraram infiltrações no teto e nas paredes, além de poças d’água no chão. Em mais uma denúncia, profissionais apontam para um cenário de descaso da estrutura que atende às comunidades locais.
As infiltrações começaram a ser registradas na unidade de Caieiras Velha nessa terça-feira (19). Em um vídeo, é possível ver o corredor que dá acesso aos consultórios encharcados pela chuva. Renato Tupinikim, presidente do conselho local de saúde indígena, destaca que os problemas na unidade de saúde são recorrentes.
“Hoje, na aldeia Caieiras Velha, tem uma equipe de saúde indígena composta por um médico, um cirurgião dentista, uma enfermeira, três técnicos de enfermagem, três agentes de saúde indígena e um agente indígena de saneamento, mas, infelizmente, o local que faz a atenção à saúde da população e comporta todos esses trabalhadores, é precário e não oferece condições para atender a população”, ressalta.
Renato explica que a unidade de saúde atende um grande número de pessoas, já que só na aldeia Caieiras Velha, moram indígenas dos povos Tupinikim, Pataxó, Guarani e Pankararu. “É importante entender que o local, onde é prestado o atendimento à saúde da população indígena da aldeia Caieiras Velha e Amarelos, não foi construído para ser uma unidade de saúde, mas um setor administrativo, pelo fato de a aldeia não possuir unidade de saúde. Em 2010, aproximadamente, a comunidade ocupou o espaço para fazer dele uma unidade”, informa.
A médica Alda Regina Gomes, que atua na unidade de saúde de Caieiras Velha desde 2020, afirma que as infiltrações não começaram com as chuvas fortes de outubro. Em setembro, mesmo com as chuvas mais fracas, o consultório que ela atende já apresentava problemas como o mofo nas paredes.
A profissional, que já denunciou a situação da saúde indígena de Aracruz em outras ocasiões, afirma que as condições continuam precárias. “Quando eu saí de lá, já tinha infiltração no consultório, muito mofo na parede. A maca quebrou o pé e eu tive que colocar um apoio. Continua do mesmo jeito, não sei onde vamos parar”, declara a médica que, no momento, está de férias.
Em julho, Alda participou de uma reunião virtual com a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, quando apresentou os problemas, referentes desde falta de insumo à escassez de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) para os servidores.
Ela informa que o Conselho Regional de Farmácia chegou a fazer uma vistoria nos estabelecimentos de saúde indígenas no mês de junho e considerou as condições da unidade impróprias. “As farmácias das unidades indígenas do Espírito Santo estão precárias, não estão dentro dos moldes e das normas do Conselho Federal de Farmácia”, alerta.
(DSEI) de Governador Valadares (MG). O órgão é do Ministério da Saúde, responsável pela saúde indígena no Espírito Santo e em Minas Gerais. Após as denúncias, o Distrito Sanitário enviou máscaras novas às unidades.
Descentralização
Uma demanda antiga da comunidade indígena local é a descentralização do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Governador Valadares (MG) para a instalação de uma sede capixaba. Os Dseis pertencem à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde. Ao todo, são 34 Dseis em todo o Brasil.
A falta de uma unidade no Espírito Santo faz com que os problemas sejam recorrentes. “Não há condições de trabalho. O DSEI mal manda para gente uma pia. Tem que comprar uma torneira, como eu já comprei. A própria dentista, ela que faz toda a manutenção estrutural do consultório, com o dinheiro dela”, denunciou Alda a Século Diário em junho deste ano.
O vereador de Aracruz, Vilson Jaguareté (PT), se reuniu na ocasião com o senador Fabiano Contarato (Rede), para apresentar a necessidade de descentralização e os problemas da Saúde Indígena no Espírito Santo. Para melhoria no atendimento, o vereador também apresentou a urgência de uma Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Estado. Contarato afirmou que tentaria um diálogo com o Ministério da Saúde sobre o assunto.