Dois meses após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a utilização da CoronaVac para crianças entre 3 e 5 anos, a imunização desse grupo ainda é pequena, alertam movimentos sociais, que novamente postaram carta aberta denunciando a situação. “Desde julho até agora temos poucas doses, e não temos possibilidade de vacinação para crianças acima de seis meses. O descaso é preocupante”, reforça a epidemiologista e professora do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel.
O “Movimento Coronavac 3 a 5 Anos Já” e o “Movimento Vacina Já para Crianças 06 a 3 Anos” apontam que a falha na imunização acontece tanto por falta de doses da vacina quanto de campanhas de conscientização e incentivo à vacinação”. Por meio da carta aberta, também recordam que se passaram mais de quatro meses que as crianças de 5 a 11 anos receberam a segunda dose. Portanto, está no momento de tomarem a terceira, mas ainda não há autorização do Ministério da Saúde.
A carta aberta traz ainda a reivindicação para que sejam compradas as vacinas para crianças de 6 meses a 3 anos, já que em 29 de julho, a Anvisa afirmou que recebeu da Pfizer solicitação para incluir essa faixa etária na indicação para sua vacina contra a Covid-19. Porém, não há sinais de negociação com a fabricante a respeito disso, conforme apontam os movimentos no documento.
Ethel destaca que o Brasil é um dos países com mais mortes de crianças menores de cinco anos por Covid-19 e que a não vacinação infantil “é algo muito grave”. “Temos possibilidade de manutenção da transmissão, da pandemia, além das sequelas da Covid, como a longa, algumas, para sempre”, destaca. Entre as sequelas, informa, as neurológicas, pulmonares, renais ou cardíacas.
“Vamos ter crianças mais adoecidas, o que é ruim do ponto de vista individual e do ponto de vista da saúde pública, com um grupo que vai precisar mais dos serviços de saúde, do nosso SUS”, diz, destacando que, na contramão da possibilidade de aumento da demanda do SUS por causa da ineficiência na vacinação infantil, o Governo Bolsonaro (PL) encaminhou para o Congresso Nacional uma peça orçamentária com corte de mais de 50% na Secretaria de Vigilância em Saúde, onde fica o Plano Nacional de Imunização (PNI).
Entre os fatores que possibilitaram a utilização da Coronavac na faixa etária de 3 a 5 anos, está a pesquisa feita pelo Projeto Curumim, do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), que estudou a eficácia da Coronavac em idades pediátricas.
No Espírito Santo, não é possível verificar como está o andamento da faixa etária entre 3 e 5 anos, uma vez que, embora o Estado tenha dado início à vacinação, os dados não constam na plataforma Vacina e Confia ES. Entre as crianças de 5 a 11 anos, tomaram a primeira dose 61,19%. A segunda, 39,7%. O índice de atraso na segunda dose é de 21,30%.