A epidemiologista, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e representante do Estado no grupo de trabalho nacional que elaborou o plano para a campanha de vacinação, Ethel Maciel, critica que a estratégia preliminar, divulgada pelo Ministério da Saúde nessa terça-feira (1), tenha sido definida em um cenário de escassez, pautando-se na impossibilidade de vacinação para todo mundo. Para ela, é necessário repensar as estratégias, para contemplar todos os grupos que devem ser vacinados.
As vacinas, segundo o plano federal, serão aplicadas em quatro fases, que contemplam grupos específicos. Na primeira serão vacinados os trabalhadores da saúde, população idosa a partir dos 75 anos de idade, pessoas com 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência, como asilos e instituições psiquiátricas, e população indígena. Em um segundo momento, entram pessoas de 60 a 74 anos. A terceira fase prevê a imunização de pessoas com comorbidades que apresentam maior chance para agravamento da doença, como portadores de doenças renais crônicas e cardiovasculares. A quarta e última deve abranger professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade.
De acordo com as informações do Ministério de Saúde, a imunização será feita por meio da AstraZeneca, que é a vacina de Oxford, e da aliança Covax Facility. Porém, Ethel defende que o Brasil deveria buscar acordos com a vacina do Butantã e outras empresas como forma de garantir a vacinação para todos grupos que precisam ser vacinados.
A epidemiologista informa que o grupo de trabalho tinha um acordo de confidencialidade durante a elaboração do plano, não podendo falar detalhes do que estava sendo elaborado. Por isso, foi solicitado ao Ministério da Saúde que comunicasse o plano oficialmente para tornar viável o debate com a sociedade de forma rápida, tornando possível a reivindicação junto ao Governo Federal para que se compre mais vacina, se faça mais acordos, e se trabalhe grupos maiores.
Uma das decisões que Ethel questiona é o fato de os professores serem contemplados somente na quarta etapa. “Se a gente colocar previsão de início da vacinação em março, por exemplo, os professores podem ser vacinados somente no final do ano. Eu defendi que fosse antes, fui voto vencido, mas defendi, pois a gente não pode ficar mais um ano com as escolas fechadas”, relata.
Ainda no que diz respeito ao ambiente escolar, Ethel defende que não somente os professores devem ser vacinados, mas todos profissionais da educação, como as merendeiras e outros. Ela afirma o mesmo em relação aos profissionais da saúde, que foram inclusos na primeira fase. Para a epidemiologista, não se deve pensar somente nesse grupo, mas em todos as pessoas que trabalham nos hospitais. Outro questionamento é em relação a não inclusão de pessoas com deficiência em nenhuma das etapas.
“Defendi que as pessoas com deficiência deveriam estar nos grupos prioritários. Além da lei que preconiza que elas tenham prioridade em todas ações políticas, a gente já sabe de um estudo que fizemos aqui e levei para o Ministério, que as pessoas com deficiência têm maior letalidade. O problema é que temos que trabalhar com os dados disponíveis, publicados, e o Espírito Santo é o único estado do Brasil que tem a variável de pessoas com deficiência no seu banco de dados, então a gente só consegue analisar o Espírito Santo”, explica.
De acordo com o Ministério da Saúde, estão sendo negociadas novas aquisições de seringas e agulhas para atender à demanda para vacinação contra o coronavírus, estando em andamento processo de compra de 300 milhões de seringas e agulhas no mercado nacional para aplicação das doses, além de outras 40 milhões no mercado internacional. Para a aquisição interna, já foi realizada pesquisa de preços e emissão de nota técnica para elaboração do edital de compra, que será lançado na próxima semana. O Ministério destaca, ainda, que o Brasil possui atualmente garantidas 142,9 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, por meio dos acordos Fiocruz/AstraZeneca e Covax Facility, que totalizam, respectivamente, 100,4 milhões e 42,5 milhões.