Medida é repudiada por conselho e associação de médicos, que consideram “vexatório” cortar salário
Enfermeiros e servidores técnicos de saúde do Espírito Santo apoiam a aplicação de punições para os profissionais de saúde que se recusarem a receber a vacina contra a Covid-19, disponibilizada de forma prioritária para esse segmento da população no Plano Nacional de Imunização (PNI) e na implementação do mesmo pelo governo do Estado e os municípios capixabas.
As penalidades começarão a ser aplicadas no dia 1º de maio, segundo informou o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, e estão estabelecidas na Portaria nº 016-R, de 29 de janeiro de 2021, que “dispõe sobre o acesso de profissionais de saúde em estabelecimentos da rede pública estadual no Espírito Santo no contexto da pandemia do novo coronavírus”.
Os profissionais que deixarem de comparecer aos hospitais devido à sua recusa pessoal em tomar o imunizante, por sua vez, terão suas faltas registradas e sofrerão “os devidos descontos nos vencimentos/salários/bolsas, sem prejuízo, quando for o caso, da possibilidade de rescisão dos respectivos contratos e da adoção de outras providências admitidas pela legislação de regência”.
No caso de pessoas jurídicas que prestam serviços por meio de contrato e das Organizações Sociais que celebraram contrato de gestão, estas “deverão executar as suas obrigações nos estabelecimentos de saúde da rede pública estadual por meio de profissionais de saúde que tenham sido imunizados nos termos do caput, incumbindo, às referidas pessoas jurídicas, proceder à substituição do profissional que não atender à regra de imunização”.
O Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES) e o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado do Espírito Santo (Sindisaúde-ES) manifestaram seu apoio às medidas previstas na Portaria 16-R, de punição a quem se recusar a receber o imunizante contra a Covid-19.
“Não se trata de uma escolha individual, baseada em ‘crenças’. Nosso exercício profissional precisa estar pautado no embasamento científico. É inaceitável que profissionais de saúde permaneçam nos serviços de saúde sem estarem imunizados. Nossas ações profissionais impactam de várias formas em nossas vidas e na dos pacientes”, afirma a presidente do Coren-ES, Andressa Barcellos.
“Nós entendemos que a vacinação é um meio de proteção coletiva. Isso está consolidado com a erradicação de algumas doenças transmissíveis. A exposição do trabalhador da saúde ao agravo e o número de óbitos mundial só reforçam a nossa responsabilidade em garantir a imunização dos cidadãos. Os resultados da vacina contra a Covid-19 já podem ser observados na população que já foi imunizada”, pondera.
Posição semelhante tem o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do Espírito Santo (Sindisaúde-ES). “O Sindisaúde concorda com a portaria. Se nós defendemos a vacinação já e para todos e todas, é incoerente a gente falar que quem não quiser se vacinar não vai ser punido”, declara a presidente da entidade, Geiza Pinheiro.
“Um profissional de saúde no hospital contrário à vacinação pode estimular a população a se sentir desobrigada a cumprir as regras do isolamento. É incoerência. Nós somos profissionais que defendemos a saúde pública e as vacinas. Não concordamos que, num momento de pandemia, a pessoa falar que não vai se vacinar e não sofrer nenhum tipo de punição”, reforça.
Punir é ‘vexatório’
Já a presidente do Sindicato dos Odontologistas do Espírito Santo (Sinodonto-ES), Rossana Bezerra de Rezende, diz ser favorável à vacinação e tem percebido grande adesão entre os cirurgiões-dentistas capixabas, mas não concorda que deva haver punição de corte de salários dos servidores que rejeitarem a imunização ofertada pelo Estado.
“Sou totalmente favorável à vacinação, ela tem que ser para todo mundo. Os cirurgiões-dentistas do Espírito Santo certamente estão se vacinando, com a consciência de que estão se protegendo como também a equipe, os pacientes e a família. Até hoje não vi nenhum que tenha dito que não vai tomar a vacina. Eu mesma já tomei as duas doses, mas não concordo com punição. A gente já está vivendo um momento tão difícil e ainda haver sanções com corte de salário! Não concordo”, argumenta.
O repúdio às sanções é ainda mais veemente por parte do Conselho Regional e da Associação dos Médicos do Estado (CRM-ES e Ames, respectivamente). Em nota publicada na última quinta-feira (15), as entidades afirmam ser “inaceitável a aplicação de medidas punitivas a médicos não imunizados”.
Em “consonância com o Conselho Federal de Medicina (CFM)”, as entidades “defendem que a vacinação é uma medida preventiva contra as mais diversas doenças e deve ser incentivada, salvo em casos específicos de contraindicações”, entretanto, externam “preocupação em relação às declarações do secretário de Estado da Saúde do Espírito Santo no que diz respeito ao corte de salário dos profissionais de saúde que ainda não foram imunizados contra a Covid-19”.