O Espírito Santo registrou, nesta terça-feira (6), o recorde de 110 mortes em decorrência do novo coronavírus (SARS-CoV-2), totalizando 7.877 óbitos até o momento. O número de casos confirmados é de 393.385, sendo 2.501 nas últimas 24 horas.
O governador Renato Casagrande (PSB) lamentou o fato em suas redes sociais. “Notícia dramática para quem luta dia após dia para que os números caiam. Não podemos deixar de registrar, com dor enorme essa tragédia. Não podemos nos acostumar com isso. Por amor a você, a sua família, cuide-se. A Covid só vai acabar quando cada um se proteger dela”.
A estimativa é que o Estado alcance, ainda neste mês de abril, a marca de 130 óbitos por dia, como alerta o doutor em Matemática e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Etereldes Gonçalves Junior, membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que assessora tecnicamente o governo do Estado na gestão da crise pandêmica.
“Infelizmente não podemos esperar resultados diferentes de ações iguais. Eu disse que chegaríamos a 90 óbitos diários aqui há um mês. Agora podemos esperar 130 óbitos registrados num único dia aqui, pois São Paulo atingiu 1.369 e não fizemos nada de diferente [do estado paulista]!”, afirmou, em sua conta no Twitter.
O número, explica, é uma regra de três simples, baseada no comportamento da pandemia nesta última fase de expansão, a partir do final de fevereiro, quando o Espírito Santo passou a registrar 10% do número de mortos de São Paulo, proporcionalmente ao tamanho da população, que também equivale a um décimo da paulista.
“Quando começou a terceira expansão aqui, eu disse que tínhamos iniciado uma inclinação inédita e era prenúncio do que havia acontecido nos outros estados”, relata, com indignação. “A volta às aulas presenciais e o Carnaval [em fevereiro] foi uma baita irresponsabilidade. Ainda mais com a tragédia já desenhada em vários outros estados!”, critica.
A quarentena de 18 dias iniciada em meados de março, explica o matemático, deve começar a surtir efeito na próxima semana, logo após esse pico de óbitos, mas a retomada das atividades e,
principalmente do transporte coletivo, fará com que os números subam rapidamente mais uma vez.
“A metáfora que a gente vem dizendo desde o início da pandemia é: estamos num transatlântico, as mudanças demoram muito tempo para fazer mudar a direção. A quarentena, com a suspensão do transporte, deve gerar um alívio, mas não deve ser muito duradouro.
Retornando o transporte coletivo e as atividades, como tem muita gente contaminada ainda, com o vírus ativo, é inevitável subir rapidamente com essas novas cepas em circulação”, explanou, ressaltando que “as mudanças de direção do transatlântico pandêmico” levam cerca de duas semanas para chegar na velocidade de contaminação e mais uma semana para modificar a velocidade de mortes.
Colapso nacional em abril
Publicado também nesta terça-feira (6) pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), o mais novo Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz alerta que a pandemia pode permanecer em níveis críticos ao longo do mês de abril, prolongando a crise sanitária e colapso nos serviços e sistemas de saúde nos estados e capitais brasileiras. A análise mostra que o vírus Sars-CoV-2 e suas variantes permanecem em circulação intensa em todo o país. Além disso, a sobrecarga dos hospitais, observada pela ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), também se mantêm alta.
“Ao longo da última Semana Epidemiológica 13, houve uma aceleração da transmissão de Covid-19 no Brasil. Devido ao acúmulo de casos, diversos deles graves, advindos da exposição ao vírus ainda no mês de março, o vírus permanece em circulação intensa em todo o país”, explicam os pesquisadores.
Segundo os dados, foi observado ainda um novo aumento da taxa de letalidade, de 3,3 para 4,2%. Este indicador se encontrava em torno de 2,0% no final de 2020. Os pesquisadores do Boletim alertam que esse crescimento pode ser consequência da falta de capacidade de se diagnosticar, correta e oportunamente, os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais.
Com base neste cenário e a partir da premissa de que o “essencial é proteger à saúde e salvar vidas”, os pesquisadores do Observatório Covid-19 Fiocruz, responsáveis pelo estudo, defendem que é fundamental neste momento a adoção ou a continuidade de medidas urgentes, que envolvem a contenção das taxas de transmissão e crescimento de casos através de medidas de bloqueio ou lockdown, seguidas das de mitigação, com o objetivo reduzir a velocidade da propagação. Tendo como referência a Carta dos Secretários Estaduais de Saúde à Nação Brasileira, publicada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) em 1 de março de 2021, a análise aponta para a necessidade de maior rigor nas restrições das atividades não essenciais para todos estados, capitais e regiões de saúde que tenham uma taxa ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos.
Para que se alcance os resultados esperados, o estudo destaca que essas medidas de bloqueio precisam ter pelo menos 14 dias de duração e, em algumas situações, mais tempo, dependendo da amplitude do rigor da aplicação. Na visão dos pesquisadores, é fundamental a adoção de medidas combinadas e complexas, assim como a coerência e a convergência dos poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como dos diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal), em favor destas medidas de bloqueio.
“Coerência e convergência são fundamentais neste momento de crise para que as medidas de bloqueio sejam efetivamente adotadas de forma a sair do estado de colapso de saúde e progredir para uma etapa de medidas de mitigação da pandemia, diminuindo o número de mortes, casos e taxas de transmissão e efetivamente salvando vidas”, afirmam.
Dentre as medidas de bloqueio propostas, estão a proibição de eventos presenciais, como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional; a suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país; o toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana; o fechamento das praias e bares; a adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público quanto no privado; a instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual; a adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos; a ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.
Os resultados da investigação apontam ainda que é fundamental insistir nos esforços para o fortalecimento da rede de serviços de saúde, incluindo os diferentes níveis de atenção e de vigilância, com ampla testagem, compra e ampliação da produção de vacinas, e aceleração da vacinação. “É imprescindível ainda garantir condições para que a população possa se manter em casa protegida, limitando a circulação de pessoas nas cidades apenas para a execução de atividades verdadeiramente essenciais”, orientam os pesquisadores.
Leitos de UTI para Covid-19
Entre os dias 29 de março e 5 de abril de 2021, as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) apresentaram reduções em Roraima (de 62% para 49%), Amapá (de 100% para 91%), Maranhão (de 88% para 80%), Paraíba (de 84% para 77%) e Rio Grande do Sul (de 95% para 90%). Na direção oposta, destaca-se piora em Sergipe, com a taxa subindo de 86% para 95%. Exceto por essas mudanças, os dados obtidos em 5 de abril de 2021 ainda indicam relativa estabilidade do indicador, em níveis muito críticos, na maior parte dos estados e no Distrito Federal.