Início é na próxima segunda-feira. Pessoas com deficiência têm mais que o dobro da letalidade que a população em geral
Todas as pessoas com deficiência (PCDs) no Espírito Santo serão vacinadas contra a Covid-19 a partir da próxima segunda-feira (31), independentemente de serem ou não beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
A decisão foi tomada em reunião realizada pelo Ministério Público Estadual (MPES) nessa quarta-feira (26) com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), e representa mais um pioneirismo capixaba na proteção das PCDs, visto que o Painel Covid-19 do governo do Estado é o único no Brasil a ter uma aba para esse grupo. Por meio do painel, sabe-se, por exemplo, que a letalidade das pessoas com deficiência (5,2%) é mais do que o dobro da população capixaba em geral (2,2%).
“Soubemos pela Sesa que pela baixa adesão do grupo, vão disponibilizar para todas as PCDs sem o recorte do BPC. Menos de 50% das 148 mil pessoas com deficiência permanente receberam a vacina”, relata a presidente da Associação Vitória Down e diretora regional da Região Sudeste da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, Lisley Sophia Nunes Dias.
Num primeiro momento, recorda, junto com o grupo de comorbidades, foram incluídas as pessoas com Síndrome de Down – que possuem letalidade dez vezes maior que a população em geral – e deficiência intelectual. Depois, o Plano Nacional de Imunização (PNI) estendeu para as PCDs que recebem BPC. Mas o recorte não foi considerado correto.
“A legislação e a letalidade não distinguem quem recebe BPC ou não. É uma questão de coerência, o que determina a vulnerabilidade é a deficiência e não a condição social”, explica. Por isso, o critério de beneficiário do BPC é “imoral, ilegal e discriminatório”.
A diretora regional da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down afirma que em nenhuma outra categoria foi utilizado recorte socioeconômico, mas sim epidemiológico. “Procuramos então o Ministério Público, que conseguiu essa reunião com a Sesa”, conta.
“Todos saímos com compromisso de fazer uma busca ativa. Acreditamos que as PCDs querem tomar a vacina, mas não vão por dificuldades diversas, falta de internet, analfabetismo, transporte”, descreve. Nesse sentido, foram sugeridas ações como um Dia D de vacinação, em que o Programa Mão na Roda estaria a serviço do transporte das pessoas até os locais de imunização, que por sua vez, devem ter mais fácil acesso, como o Crefes de Vila Velha e algumas unidades das Apaes.
Há também, ressalta Lisley, falha na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e outros modelos de Atenção Primária em Saúde (APS). “Essas pessoas poderiam estar sendo atendidas em casa”, salienta.
A conversa foi conduzida pela dirigente do Centro de Apoio Operacional de Implementação das Políticas de Saúde (Caops) e coordenadora Gabinete de Acompanhamento da Pandemia do Novo Coronavírus (GAP-Covid-19) do MPES, promotora de Justiça Inês Thomé Poldi Taddei, e contou com a colaboração da 11ª promotora de Justiça Cível de Vitória, Sandra Maria Ferreira de Souza; da coordenadora do Programa Estadual de Imunizações da Sesa, Danielle Grillo Pacheco Lyra; da epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel; e da representante dos cadeirantes, Mariana Reis.
Trabalhadores de portos e aeroportos
Outro grupo que terá sua imunização prioritária operacionalizada na próxima semana é o dos trabalhadores de portos e aeroportos, de acordo com definição anunciada na última terça-feira (25) pelo Ministério da Saúde. A expectativa é que 19,8 mil trabalhadores sejam imunizados no Espírito Santo.