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‘Saúde única’ guiará gestão em secretaria federal, ressalta Ethel Maciel

Equipe teve pouco acesso a informações do governo anterior. Entre as inovações já decididas, incremento do PNI

Ales

A epidemiologista e professora do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, assumiu a gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. Há dois dias na função, ela aponta as perspectivas e desafios dessa secretaria no Governo Lula (PT), mas deixa claro que, em virtude de os trabalhos ainda estarem muito no início, diagnósticos ainda estão sendo feitos e novos ações e enfrentamentos apontados.

Ethel informa que a Secretaria tem como um de seus papéis pensar e direcionar protocolos de políticas públicas. Antes chamada de Secretaria de Vigilância em Saúde, foi acrescido ao órgão o tempo Ambiente, pois, conforme explica Ethel, abarca o conceito de saúde única, levando em consideração também a natureza. A Secretaria é composta pelo Instituto Evandro Chagas e pelo Centro Nacional de Primatas, ambos em Belém, no Pará, que pesquisam e fazem análise de dados do que acontece na região amazônica.

Também abrange 10 departamentos, entre eles, o que tratam de doenças em eliminação, como a hanseníase; Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs); doenças crônicas; o Departamento de Inteligência, que funciona 24 horas por dia, sete vezes por semana, para monitorar o que está acontecendo nacionalmente e internacionalmente, como as pandemias; e o recém criado Departamento de Imunizações; que nada mais é do que o antigo Programa Nacional de Imunização (PNI), que antes era uma coordenação.
“É como se o PNI estivesse em uma caixinha lá embaixo e crescesse em patamares hierárquicos”, diz Ethel. A epidemiologista recorda que o PNI foi criado há exatamente 50 anos e explica que o termo Programa remete à ideia de ações pontuais, com começo, meio e fim. A mudança, portanto, possibilitará a implementação de ações estratégicas, como análise de síndromes gripais e presença de profissionais especializados nas coberturas vacinais de Estados e municípios para acompanhar metas.
Ethel afirma que ainda está sendo feito diagnóstico da realidade encontrada na Secretaria, mas acredita que até o final da próxima semana haverá uma visão melhor da situação. O fato de os trabalhos estarem em uma fase inicial não é o único obstáculo para se ter uma noção mais ampliada do órgão, pois a equipe de transição teve dificuldade de obter acesso a informações que deveriam ter sido dadas pelo Governo Bolsonaro. Segundo Ethel, a gestão anterior impôs sigilos a diversos dados, entre eles, os do contrato com a Pfizer.
Um dos desafios, aponta, é reorganizar as vacinações. No que diz respeito à Covid-19, por exemplo, serão restituídos os comitês científicos, além de estudar a possibilidade de revisão da necessidade de restituição do decreto de emergência, levando em consideração o agravamento da pandemia na China. Também serão feitas campanhas de vacinação contra Covid-19 e a inclusão da vacinação no calendário anual para os grupos de maior risco, uma vez que se observou aumento de internações e óbitos nesse segmento com variante BQ.1, da Ômicron.
Consta ainda nos projetos da Secretaria a aquisição de vacinas bivalentes. Ethel destaca também que o Departamento de Doenças em Eliminação vai se empenhar na eliminação de enfermidades como a hanseníase. A epidemiologista explica que o êxito do Brasil nessa empreitada contribui para que o mesmo aconteça no restante das Américas, uma vez que o país ainda tem grande incidência de casos de doenças desse tipo.

Currículo

Graduada em Enfermagem pela Ufes, Ethel se apaixonou pela pesquisa e seguiu se especializando na área de epidemiologia. Realizou o doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e, na universidade referência mundial nos estudos epidemiológicos, a Johns Hopkins University (EUA), concluiu o pós-doutorado.

Foi presidente da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose, cargo que deixou para assumir a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Desponta também em seu currículo sua participação na gestão universitária como vice-reitora, na gestão de Reinaldo Centoducatte. Apesar de no último pleito ter sido eleita para o cargo de Reitora, foi preterida pela nomeação do então presidente Jair Bolsonaro

Outro ponto forte em seu trabalho dentro e fora da universidade envolve a causa das mulheres na ciência, sendo, inclusive, autora do livro “Mulher na Ciência – Lutar e existir em tempos de pandemia”, lançado em setembro último. A professora chegou a integrar, em 2020, o corpo técnico da Sala de Situação para o coronavírus do governo do Espírito Santo no início da crise sanitária e também integrou a equipe do Plano Nacional de Vacinação contra Covid-19, tendo decidido sair quando percebeu o estelionato por parte do governo federal.

Durante todo o tempo, defendeu o fortalecimento da atenção primária e se posicionou contrária à postura negacionista do governo Bolsonaro. Em março de 2021, por exemplo, Ethel apontou o equívoco da estratégia de abrir leitos esperando as pessoas chegarem doentes. Isso aconteceu após declarações atribuídas à “cúpula do Ministério da Saúde” em reportagem publicada no jornal Valor Econômico, dando conta de que o governo federal estimava que, ainda naquele mês, o Brasil atingiria picos de mais de três mil mortes diárias pela Covid-19. Segundo a reportagem, o alto escalão da pasta de Saúde do governo federal entendia que a única coisa a fazer diante dessa tragédia era abrir mais leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e enfermaria.

Apesar de ter declarado apoio à reeleição de Casagrande nas eleições 2022, durante a pandemia Ethel não poupou críticas a ações do governo estadual quando as considerava equivocadas, como no início de 2022, quando reforçou a posição a favor da vacinação infantil antes do retorno às aulas diante da afirmação do secretário estadual de Educação, Vitor de Ângelo, de que não era necessário aguardar a conclusão da vacinação das crianças de cinco a onze anos para o início do ano letivo de 2022.

“União e reconstrução”

Após a cerimônia de posse em Brasília, nessa segunda-feira (2), Ethel comentou em suas redes sociais sobre “a imensa honra e alegria” com que aceitou o convite. “Após estes últimos anos, que pareceriam não ter fim, vamos trabalhar por um futuro melhor. Temos a confiança de que isso é possível: o nosso SUS é a maior prova do quanto o Brasil pode fazer na área da Saúde. Agradeço ao convite e à confiança da ministra Nísia Trindade, bem como de toda a equipe do novo Governo Federal, principalmente do presidente Lula”, declarou. “Seguirei dedicada à luta por um país cada vez mais justo e acolhedor a todos e todas. É momento de união e de reconstrução. Contamos com a colaboração de vocês”.

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