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Fake news têm dificultado vacinação da população indígena capixaba

Profissionais da saúde vão de casa em casa levar informações corretas. Dois terços da população já foi vacinada

As fake news sobre a vacina têm sido um empecilho para a vacinação da população indígena em Aracruz, norte do Estado, diz o representante dos indígenas no Comitê Popular de Proteção aos Direitos Humanos no Contexto da Covid-19 e apoiador técnico da Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, Lindomar José de Almeida Silva, da aldeia Pau Brasil. De acordo com ele, a equipe de profissionais da saúde tem ido de aldeia em aldeia conversar com os indígenas para desmistificar informações falsas. 

Lindomar relata que há indígenas que de fato acreditam na afirmação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que ao se vacinar a pessoa vira jacaré. Outra fake news que ganhou adesão entre eles foi a de que os vacinados perdem direito a benefícios sociais, como o Bolsa Família. “Estamos indos nas residências fazer um trabalho de conscientização, convencendo as pessoas a se vacinar, explicando o que é a vacina, para que serve. As fake news são um desserviço para a população”, diz Lindomar.

O apoiador técnico da Secretaria Especial de Saúde Indígena relata que, embora haja um número grande de indígenas que acreditam nas fake news, a vacinação está tendo boa adesão nas aldeias. Ao todo foram vacinados mais de 1,9 mil indígenas aldeados, faltando cerca de 800. A vacinação está sendo aplicada pelo governo federal por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena de Minas Gerais e do Espírito Santo. De acordo com ele, a equipe é formada por profissionais como técnicos, enfermeiros e médicos, que já foram em todas as doze aldeias vacinar parte da população indígena. 
A vacinação, informa Lindomar, tem previsão de prosseguir ainda esta semana, de acordo com afirmação da Vigilância Epidemiológica do Município de Aracruz. Porém, ele acredita que não será possível imunizar toda a população apta a receber a vacina por causa do trabalho de convencimento que precisa ser feito com aqueles que acreditam nas fake news. Ele relata que outro problema é que há indígenas que trabalham fora das aldeias, por isso estão sendo realizadas imunizações também à noite, para poder contemplar esse grupo. 

Falecimentos
Até o momento, segundo Lindomar, morreram duas indígenas aldeadas por causa da Covid-19. Uma delas é Jandira Pereira Coutinho, de 97 anos, falecida nessa terça-feira (26). Ela é avó do vereador de Aracruz, Vilson Jaguareté (PT). Jandira era da aldeia Caieiras Velha. A outra indígena falecida foi Ofélia Rodrigues Felipe, de 68 anos, da aldeia de Areal, em 16 de janeiro. Ambas eram da etnia Tupiniquim. O Painel Covid registra, ainda, outros cinco óbitos de pessoas que se declararam indígenas, porém a etnia é ignorada. Essas cinco não eram indígenas aldeados, informa Lindomar. 

Prevenção à Covid-19
Os indígenas, desde o início da pandemia, têm feito ações de prevenção à Covid-19. Uma delas, segundo Lindomar, foi antecipar a vacinação contra gripe para evitar síndromes gripais e restringir o contato entre as tribos. Também foi feito isolamento imediato das pessoas com suspeita e confirmação de Covid-19, além de isolar aqueles que tiveram contato. Lindomar destaca que foram feitas ações de prevenção como orientação de utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e uso de álcool em gel e máscara. 
Das 12 aldeias, seis foram completamente fechadas para pessoas de fora. Entre elas estavam Três Palmeiras, Piraqueaçu, Boa Esperança e Olho D’Água, da etnia Guarani. As outras foram Córrego do Ouro e Amarelos, da etnia Tupinikim. Na aldeia de Comboios, por ficar em uma ilha, não houve grande preocupação de fazer barreira sanitária. Nas demais, havia apenas a restrição de acesso de pessoas de fora. 
A realidade atual, segundo Lindomar, não é mais de isolamento total. Os índios podem circular entra as tribos. Entretanto, elas não estão abertas a pessoas de fora, o que é um empecilho para a prática do turismo, uma das principais fontes de renda dos indígenas, já que outras formas de subsistência foram impossibilitadas em virtude da destruição ambiental. Uma delas, segundo o cacique Toninho Guarani, da aldeia Boa Esperança, é a pesca no rio Piraqueaçu, dificultada após o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, em 2015.

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