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Falsa sensação de proteção com a D1 pode criar variantes resistentes às vacinas

É preciso completar o esquema vacinal, orienta Ethel Maciel. ES tem 60 mil em atraso com D2 e intensifica busca ativa

Uma falsa sensação de proteção com apenas uma dose de vacina contra a Covid-19 pode colocar em risco todo o esforço empreendido pela imunização da população, num cenário de escassez de vacina no território nacional. No Espírito Santo, 60,5 mil pessoas estão em atraso com a D2, sendo 34,6 mil referentes à AstraZeneca (Oxford/Fiocruz) e 25,9 mil à Coronavac (Butantam).

O contingente é elevado e tem feito o governo do Estado e os municípios intensificarem os esforços de busca ativa dos faltosos. “O Estado tem trabalhado para melhor operacionalização na distribuição das doses aos municípios, de forma a enviar em tempo oportuno aquelas destinadas às segunda doses. Além disso, entre as estratégias adotadas, está o serviço de SMS enviado às pessoas que estão com a D2 em atraso e, junto a ele, o trabalho dos municípios, que merece todo o reconhecimento por realizar a busca ativa desses pacientes, por meio de uma listagem que disponibilizamos semanalmente”, informou o subsecretário de Estado de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin.

O levantamento dos faltosos é da Secretaria da Saúde (Sesa), por meio do Programa Estadual de Imunizações e Vigilância das Doenças Imunopreveníveis (PEI), que utilizou o novo Sistema de Informação sobre a imunização contra a Covid-19 aos municípios capixabas, disponibilizado aos gestores na plataforma Vacina e Confia. São considerados em atraso as pessoas que tomaram a primeira dose da AZ há mais de 85 dias e, da Coronavac, há mais de 29 dias.

“A primeira dose inicia o processo de imunidade, e é com a segunda dose que consolidamos esse processo. Quem deliberadamente não busca pela complementação do esquema vacinal com a D2 contra a Covid-19 está cometendo um ato de irresponsabilidade consigo mesmo e com aqueles com quem convive”, explica.

Falsa sensação de segurança

As variantes, especialmente a Delta, trazem um agravante a essa irresponsabilidade, alerta a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel. “Essa é a grande preocupação agora. Porque com uma dose só, a eficácia fica muito baixa e você tem um nível de infecção ainda alto. A pandemia está descontrolada no Brasil, com 1,4 mil mortes por dia”, expõe.
A cientista lembra que a cada vez que o vírus é transmitido de uma pessoa para outra, ele pode sofrer mutação. Se ele infecta uma pessoa vacinada apenas com a primeira dose, a mutação provocada pode gerar uma variante resistente à vacina. Por isso, é fundamental que os 60 mil faltosos no Estado corram para completar seu esquema vacinal.

“É muita gente! É bem preocupante. Precisa fazer busca ativa. As pessoas têm a falsa sensação de que estão protegidas e podem se colocar em risco, ameaçado também toda a estratégia vacinal”, reforça.

Reduzir o intervalo entre doses
A epidemiologista defende ainda a redução do intervalo entre as duas doses da AstraZeneca e a Pfizer, para que o país alcance o mais rápido possível um maior número de pessoas com esquema vacinal completo.
Num cenário ainda de escassez de vacinas que vive o país, a decisão de reduzir ou não o intervalo é difícil de ser tomada, explica Ethel, e os estudos científicos por vezes apontam evidências diferentes.

A própria Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), fabricante da AZ no Brasil, posicionou-se, na semana passada, em favor da manutenção do intervalo de doze semanas, de forma a cobrir mais pessoas com a primeira dose, diante da escassez do imunizante, baseando-se em estudos que apontam 70% de eficácia da D1 da AZ diante das variantes, inclusive a Delta.

Um novo estudo publicado no Reino Unido nessa quarta-feira (20), no entanto, mostrou uma eficácia de apenas 30% com a D1 da AZ e da Pfizer. As informações, sublinha Ethel, já estavam disponíveis anteriormente e fizeram o Reino Unido rever o intervalo adotado originalmente, de doze semanas, para oito ou dez, dependendo do grupo populacional. O Espírito Santo tem adotado dez semanas.

“Quanto menos gente vacinada com a segunda dose, maior será a probabilidade de surgir variantes que irão escapar da vacina. Neste momento crítico de alta circulação do vírus, não se pode arriscar perder a única estratégia que é efetiva. A pandemia segue descontrolada!”, alertou nas redes sociais nessa quinta-feira (22).

Pfizer
A epidemiologista, que integrou o comitê de planejamento do Plano Nacional de Imunização (PNI), explica ainda que o caso da Pfizer é talvez ainda mais delicado. O intervalo longo, de doze semanas, foi adotado pelo Reino Unido e, no Brasil, mesmo não sendo aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi seguido pelo Ministério da Saúde no cenário de escassez. “Era defensável antes da variante Delta, mas agora isso muda um pouco”, ressalva.
“O centro de controle de doenças dos Estados Unidos criticou bastante essa medida do Reino Unido de estabelecer as doze semanas da Pfizer. Depois de seis semanas, a gente não tem evidências da eficácia dessa vacina. E o Brasil tem o agravante de estar com a pandemia descontrolada”, reiterou.

No Espírito Santo, segundo a Sesa, as primeiras doses Pfizer chegaram no início de maio e sua distribuição se deu, inicialmente à Capital, seguindo orientação do Ministério da Saúde. Com a suspensão da AstraZeneca em gestantes e puérperas, o Estado passou a dispensar as doses da Pfizer para atender este grupo com distribuição a municípios-polos em 26 de maio, e a distribuir aos demais municípios capixabas no início de junho.

Assim, os primeiros esquemas iniciados com este imunizante no Estado datam do início de maio, e a sua complementação ocorrerá a partir do dia 26 de julho, quando completará 84 dias de intervalo (12 semanas). A Secretaria ressalta que, seguindo a estratégia estadual de operacionalização das doses, essas já são distribuídas aos municípios, garantindo tempo hábil para organização da aplicação da D2 em cada território.

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