Sidney Parreiras defende que as gestões estadual e municipais façam campanhas informativas e educativas
No dia quatro de fevereiro, uma mulher trans foi assassinada pelo parceiro, em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado, após relatar que vivia com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). O crime, afirma o representante do Espírito Santo na Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e conselheiro estadual de Saúde, Sidney Parreiras, é mais do que transfobia, sendo marcado também pela sorofobia e falta de atuação do poder público na disseminação de informações que possam combater o preconceito.
No Espírito Santo, de acordo com Sidney, nem a gestão estadual nem as municipais têm cumprido esse papel. “É tão assustador, em pleno século XXI, uma pessoa matar a outra por descobrir que ela é soropositiva. É muita falta de informação sobre a evolução do tratamento. O que está sendo feito? Nada. Em São Paulo, por exemplo, há cartazes no metrô falando sobre a PrEP [Profilaxia Pré-Exposição], sobre a Pep [Profilaxia Pós-Exposição], sobre carga viral indetectável. Aqui não há nada disso”, denuncia.
Sidney acredita que se houvesse campanhas educativas nas mídias, as pessoas não teriam tanto preconceito em relação a quem vive com HIV, por saber que quando se tem carga viral indetectável, é possível viver normalmente, até mesmo se relacionar com uma pessoa que não está infectada, pois não se transmite a doença. Para ele, muitos ainda associam o HIV à morte, como disseminado nos anos 80, quando o vírus foi descoberto e o tratamento ainda não tinha evoluído tanto.
Sidney faz críticas não somente à falta de empenho do poder público em desmistificar essa imagem, mas também ao fato de que os serviços, em termos de prevenção e assistência, “deixam a desejar”. “O SUS [Sistema Único de Saúde] é maravilhoso, o que estraga são os gestores, que não dão continuidade às políticas corretamente, devidamente”, afirma, destacando que na Capital, Vitória, faltam profissionais para atender à demanda dos pacientes.
Os comprimidos aos quais a infectologista se refere são os antirretrovirais, tomados diariamente e que deixam a carga viral indetectável, ou seja, os exames não conseguem detectar a circulação do vírus no organismo. Essa condição, explica Rubia, permite à pessoa ter uma vida normal, não transmitindo o vírus até mesmo em relações desprotegidas. “A pessoa com HIV pode se relacionar com quem ela quiser, seja o parceiro soroconcordante, quando também é positivo; ou sorodiscordante, quando é negativo para vírus, seja homem com homem, mulher com mulher ou homem e mulher, tanto faz”, afirma.
A médica aponta que, tomando os remédios diariamente, sem falhar, a carga viral fica indetectável entre três e seis meses. Há casos em que isso ocorreu em 30 dias. Rubia explica que, para evitar a infecção, além da conhecida camisinha, também existem a PrEP e a Pep. A primeira é tomada diariamente, como forma de precaução, mesmo sem haver exposição ao risco. A segunda é pós-exposição, em situações como relação sexual sem camisinha ou com rompimento do preservativo. Nesse caso, são três antirretrovirais, que devem ser tomados entre 28 e 30 dias após a relação. Tanto a PrEP quanto a Pep podem ser adquiridas gratuitamente nos centros de referência.
Rubia destaca que essas medicações foram muito bem estudadas, seguras, e têm pouquíssimo efeito colateral. “Tudo que é colocado para dentro do nosso corpo tem efeito colateral. O mais comum é enjoo, principalmente quando começa a tomar e se estiver de barriga vazia. Pode ter efeitos nos rins e no fígado, como qualquer medicação que a gente usa. Não têm um risco maior do que as outras medicações. O benefício de não pegar o vírus é maior do que ter efeito colateral”, reforça.
Casais sorodiscordantes
Sua investida foi ignorada, pois Estevão estava se aproximando de outra pessoa naquele momento. Entretanto, Valdisney não desistiu e, tempos depois, mandou novamente uma mensagem. Dessa vez, obteve resposta, dando início a um relacionamento virtual, que depois de três meses tornou-se presencial.
Valdisney não contou de imediato que vive com HIV. Seu namorado descobriu por acaso. “Ele foi na minha casa, viu a caixa de antirretroviral e me perguntou o que era aquilo. Eu estava me preparando ainda para contar, mas tive que fazer isso naquele momento”, recorda Valdisney, que tinha medo da rejeição, pois isso aconteceu com alguns amigos soropositivos.