Conforme consta no Boletim Epidemiológico de 2022 da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), no período de 2011 a 2021, houve um aumento de 60% dos novos casos de HIV/Aids no Espírito Santo. Esse índice, segundo o representante estadual e municipal da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, Sidney Parreiras de Oliveira, é resultado da falta de informação e da precarização dos serviços.
Ele afirma que falta ao poder público a iniciativa de fazer campanhas de prevenção não somente ao HIV/Aids, mas também a outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), e de socialização de informações sobre os serviços de saúde. Também critica o fato de que nas poucas campanhas que existem, usa-se muito a estratégia do medo. “Não pode simplesmente mostrar a foto de um pênis com gonorreia, ferido, sendo ditador, e não educador. Tem que educar e não amedrontar”, defende.
A falta de ações educativas, de acordo com Sidney, parte também das escolas, pois o conservadorismo faz com que muitos defendam que não sejam concretizadas aulas de educação sexual e “para falar de HIV tem que falar de sexualidade”. Um dos reflexos da falta de informação sobre prevenção e tratamento ao HIV/Aids, acrescenta, é que a maioria das pessoas que têm acesso aos serviços têm maior grau de instrução e são de classe média, ou seja, os mais pobres e que não tiveram oportunidade de estudar, acabam excluídos.
Além das aulas de educação sexual, Sidney sugere que o poder público faça campanhas educativas nas mídias e espaços públicos de grande circulação, como terminais. “Temos direito de conhecer nosso corpo, de ter prazer, de nos proteger, inclusive nos proteger de todo tipo de violência, como a violência da desinformação, que faz da Aids uma mitologia, e não uma infecção que tem tratamento e controle”, destaca.
Do total de novos infectados no período de 2011 a 2021, 75,4% são homens, sendo que 39% deles, jovens de 20 a 29 anos. No caso dessa faixa etária, além da falta de acesso a aulas de educação sexual e de campanhas educativas, segundo Sidney, há o fato de que a juventude tem uma vida sexual mais ativa. Quanto à maioria dos infectados ser homem, o representante estadual e municipal da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids atribui à “sociedade machista, patriarcal, em que os homens têm mais liberdade sexual”.
Precarização dos serviços
Segundo o boletim epidemiológico, considerando o número de casos novos por 100 mil habitantes, em 2021 o indicador estadual de detecção da Aids foi de 28,5%. No entanto, em alguns municípios, esse percentual ficou acima: Vitória (50,9%), Vila Velha (67,4%), Serra (53,3%), São Mateus (44,6%), Conceição da Barra (31,8%), Montanha (42,2%) e Colatina (30,6%).
Isso não significa, necessariamente, que esses municípios possuem mais casos. A razão das taxas mais elevadas pode ser o maior acesso à rede de saúde e, consequentemente, maior realização de exames e diagnósticos. Na Grande Vitória, aponta Sidney, somente os municípios da Serra e de Vila Velha tem dado conta de atender quem busca os serviços como forma de prevenção ou para controle e tratamento da infecção. A prevenção é possível, por exemplo, por meio de medicações, que são a profilaxia pré-exposição (PReP) e a profilaxia pós-exposição (PEP).
De acordo com Sidney, esses municípios contam com um quadro de profissionais da saúde suficiente, ao contrário de Vitória e Cariacica. Na Capital, afirma, o número de infectologistas é insuficiente e ainda carece de profissionais como técnicos em enfermagem, laboratório e farmácia. Em Cariacica, há carência de médicos e o município não consegue atuar de maneira eficiente tanto na prevenção quanto no controle e tratamento.