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Falta de estrutura limita acesso a ambulatório trans do Hospital Universitário

Demanda ultrapassa capacidade de atendimento, afirma coordenadora

Hucam

Referência no acompanhamento clínico, hormonal e psicológico da comunidade transgênero capixaba, o Ambulatório Multidisciplinar de Diversidade de Gênero (ADG) do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), funciona como referência em serviços de hormonioterapia, atendimento psicológico e acompanhamento pré e pós-operatório de cirurgias de redesignação sexual, seguindo os protocolos do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Ministério da Saúde. Apesar disso, muitas pessoas trans ainda não acessam essa estrutura, e a maioria da população capixaba desse recorte realiza a transição sem o suporte multiprofissional necessário.

Segundo a coordenadora do ADG, Neide Aparecida Tosato Boldrini, professora do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Ufes, cerca de 60% das mulheres trans e 40% dos homens trans chegam já hormonizados ao ambulatório, que enfrenta desafios estruturais que limitam o acesso a grande parte da comunidade no Estado. 

“O objetivo para este ano é realizar os acolhimentos mensais, trazendo as pessoas que estão na fila da regulação da Sesa [Secretaria de Estado da Saúde]. Queremos acolher essas pessoas para oferecer um acompanhamento adequado e garantir uma transição mais segura, já que a maioria delas realiza o processo por conta própria, o que representa um grande problema”, avalia.

A equipe multidisciplinar, composta por profissionais como ginecologistas, psicólogos, assistentes sociais, endocrinologistas, entre outros, atende cerca de 200 pacientes ativos. Porém, a demanda é muito maior, resultando em longas listas de espera. Para ingressar no programa, os pacientes precisam ser encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e participar de uma reunião de acolhimento mensal, em que são apresentadas as etapas do atendimento e realizados encaminhamentos de acordo com as demandas específicas. 

Para a coordenadora, um dos maiores obstáculos que o ambulatório enfrenta é a necessidade de mais funcionários e de um concurso para ampliar a estrutura limitada, que impossibilitou a realização de cirurgias de redesignação sexual desde 2019. “Nos primeiros anos, foram atendidas muitas pessoas, até que a gente limitou esse número por causa da nossa possibilidade de atendimento. A falta de equipe, somada às mudanças na gestão hospitalar e a falta de pactuação com a SESA, nos impediu de continuar com as cirurgias. A pandemia também agravou a situação”, explica.

A primeira cirurgia de redesignação sexual realizada no Hucam ocorreu em 1998, com a cineasta capixaba Sandy Vasconcellos. “Hoje, nossa principal função é oferecer o acompanhamento pré e pós-operatório, além de hormonioterapia para aqueles que optam por esse caminho, mas sem cirurgia”, complementa. Diante da falta de condições para realizar cirurgias no Hucam, muitos pacientes buscam alternativas, como recorrer ao poder judiciário. Neide conta que, recentemente, uma paciente foi encaminhada para realizar a cirurgia em Santa Catarina, com apoio do ambulatório. 

Divulgação/ Hucam

‘Estamos engatinhando’

A coordenadora ressalta que o ambulatório também atua em colaboração com a Ufes e promove a formação de residentes em ginecologia e outras áreas da saúde para o atendimento à população trans, que precisa de suporte para lidar com o estigma, a rejeição familiar e os desafios de se afirmar em uma sociedade que ainda discrimina. Para ela, a falta de preparo de muitos profissionais de saúde reflete a necessidade de disciplinas específicas nos cursos de graduação.

“Quando discutimos isso nas capacitações, falamos que parece que ainda estamos engatinhando, essa população mereceria que a gente estivesse andando um pouco mais rápido. As tecnologias evoluem, mas ainda não conseguimos ampliar os tratamentos, pelo contrário, deixamos de oferecer a cirurgia. Eles têm um lugar para chamar de deles, mas é um começo”, conclui.

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