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​Falta de profissionais prejudica tratamento de IST/Aids em Vitória

Há apenas um infectologista para mais de dois mil pacientes no Centro de Referência, apontam usuários

Pacientes atendidos no Centro de Referência em IST/Aids de Vitória, localizado no Parque Moscoso, Centro, reclamam da queda da qualidade do serviço prestado. Entre as queixas estão falta de profissionais, como infectologista, farmacêutico e técnico de laboratório.

Segundo o representante municipal de Vitória na Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids e conselheiro municipal de saúde, Sidney Parreiras de Oliveira, a cidade, que era referência em política de Aids entre as capitais, hoje perde inclusive para municípios vizinhos, como Vila Velha e Cariacica.

Sidney afirma que existe somente um infectologista para atender mais de 2 mil pessoas, o que causa longa espera para consultas, prejudicando não somente quem já faz o tratamento, mas também quem foi diagnosticado e precisa dar início a ele. O médico, relata o conselheiro, convive com a sobrecarga de trabalho, o que faz os pacientes temerem a possibilidade do profissional abandonar o posto.

Além da dificuldade para marcar consulta, os pacientes têm que conviver, muitas vezes, com a impossibilidade de marcar exames devido à falta de técnicos de laboratório. Outro problema destacado por Sidney é a falta de acesso à Profilaxia Pré-Exposição de risco à infecção pelo HIV (Prep). Trata-se de medicamentos antirretrovirais que impedem que o HIV se estabeleça e se espalhe pelo corpo, prevenindo, assim, uma possível infecção. A Prep é utilizada principalmente por pessoas soronegativas que se relacionam com soropositivos, ou seja, que formam um casal sorodiscordante, e também por profissionais do sexo.

O acesso ao Prep, segundo Sidney, está dificultado em virtude da ausência de profissionais no Centro de Referência em IST/AIDS. Ele explica que, para fazer uso do medicamento, é preciso uma equipe com trabalhadores como médicos, assistentes sociais, enfermeiro e técnico de laboratório, pois a pessoa necessita de acompanhamento contínuo em virtude dos possíveis efeitos colaterais que o medicamento pode trazer, por exemplo, problemas renais.
Diante da falta de profissionais, afirma Sidney, acontecem dois problemas principais. Um é a possibilidade de a pessoa ter a saúde comprometida. O outro, é não poder dar início ao uso dos medicamentos, aumentando a possibilidade de infecção do HIV.
Quem já contraiu o HIV e faz o tratamento, também passa pela dificuldade de acesso a medicamentos. O conselheiro municipal aponta que a receita para aquisição de remédios é complexa, sendo esse um dos fatores que fazem com que seja necessário o atendimento de farmacêuticos, para que não haja erro na entrega. Entretanto, os pacientes são atendidos por uma auxiliar de farmácia, que não pode tirar dúvidas, por não ser sua atribuição, e que pode ter dificuldades para compreender a receita. Para ser atendido por farmacêutico, informa Sidney, é preciso marcar uma conversa online devido à pandemia, o que torna o procedimento moroso.
O conselheiro acredita que toda essa situação pode fazer com que Vitória não cumpra a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de garantir que pelo menos 95% dos diagnosticados tenham acesso ao tratamento e fiquem com a carga viral indetectável, ou seja, com quantidade de vírus inferior a 40 cópias por ml de sangue, o que impede a transmissão do HIV. A meta é um passo para que, em 2030, o Brasil alcance a porcentagem de 100%.
Agravamento da situação

Para Sidney, a situação do Centro de Referência em IST/Aids de Vitória, que já passava dificuldades na gestão do prefeito Luciano Rezende (Cidadania), se agravou na atual de Lorenzo Pazolini (Republicanos). “Piorou muito. A gestão está perdida, colocaram pessoas sem preparo para coordenar os serviços”, critica. Ele afirma que levou as reivindicações dos pacientes para a secretária municipal de Saúde, Thais Campolina Cohen Azoury, que disse “estar vendo as possibilidades”, mas sem anunciar algo concreto.

Os pacientes já haviam denunciado ao jornal Século Diário, em fevereiro de 2020, a falta de infectologista, que persistia desde dezembro de 2019, com as férias seguidas de aposentadoria da única profissional especializada. Na ocasião, também se queixaram da falta de profissionais preparados no Espírito Santo para aplicar o Prep. Após denúncia publicada por este Século Diário, a Câmara de Vitória, por meio da Comissão de Saúde, convocou a então secretária de Saúde do município, Cátia Lisboa.
Sidney recorda que, depois disso, foram contratados dois infectologistas, mas os contratos de ambos foram encerrados no final de 2020, não ocorrendo as devidas substituições.

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