A Força Aérea Brasileira (FAB) irá transferir os pacientes de Manaus, até os hospitais capixabas e de outras unidades da federação que ofereceram ajuda para a capital do Amazonas, no norte do país, entre eles, Goiás, Piauí, Maranhão, Distrito Federal, Paraíba e Rio Grande do Norte.
No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) disponibilizou, a partir da madrugada desta sexta-feira (15), 30 leitos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) dedicadas exclusivamente aos infectados pelo novo coronavírus (UTI-Covid), 22 deles no Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, a principal referência para o tratamento da doença no Estado.
O anúncio da oferta foi feito pelo governador em suas redes sociais nesta quinta-feira (14). “O ES está disponibilizando 30 vagas de UTI-Covid para atender pacientes do Amazonas. Temos condições de recebe-los a partir desta madrugada. O momento exige solidariedade e união dos estados em prol das vidas humanas”, disse Casagrande.
Em seguida, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, fez um pronunciamento informando mais detalhes sobre a logística da transferência dos pacientes. “Esse é um momento importante pra expressar solidariedade e empatia do povo capixaba ao povo do Amazonas. Temos hoje, livres no Espírito Santo, 150 leitos de UTI para atender pessoas atingidas pela Covid-19. Vinte por cento dessa oferta está garantida para esse gesto de solidariedade e temos condições plenas de atender qualquer paciente que em solo capixaba seja atingido pela Covid”, explicou.
Mutação do vírus
Nésio Fernandes destacou que o recrudescimento da segunda fase da pandemia no Brasil pode estar relacionado às mutações que estão sendo identificadas no novo coronavírus, uma delas, inclusive, tendo se originado em Manaus e identificada, primeiramente, no Japão.
Até o momento, as mutações têm se mostrado mais transmissíveis, mas no Amazonas, tem sido observada um agravamento mais rápido dos pacientes internados. “O relato do secretário de Saúde do Amazonas é de que os pacientes evoluem a quadro grave num tempo menor que durante a primeira fase, estão descompassando mais rapidamente. Eles estão sistematizando os dados e devem publicar em breve”, relatou Nésio.
No Espírito Santo, informa o secretário capixaba, observa-se, nessa segunda fase, um aumento do tempo de internação hospitalar, mas ainda não foi verificado agravamento mais rápido.
Na primeira fase, lembra, o Estado conseguiu ter um desempenho de permanência em hospital menor que a média da rede pública nacional. “Agora, no Brasil inteiro, há em média um a três dias a mais de internação. Aqui, acreditamos, primeiro, que isso se deve a um melhor manejo do paciente, o que faz com que ele seja mantido em tratamento por mais tempo, sem ir a óbito”, conta, mas a hipótese da maior agressividade da mutação ainda precisa ser investigada.
“Ajuda humanitária é o mais importante”
O pesquisador Edson Delatorre, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e integrante do núcleo de pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) que identificou a mutação originária de Manaus, parabenizou o governo do Estado pelo gesto de solidariedade e afirma que a mutação já deve estar presente em todo o país, mesmo que a vigilância epidemiológica genômica brasileira ainda não tenha conseguido comprovar essa expansão em todos os estados, para além do Amazonas. Por isso, a vinda dos pacientes amazonenses não apresenta risco considerável de introdução da nova variante. “Essa preocupação tem que ser secundária à ajuda humanitária”, declarou.
“No final das contas, estabelecer um lockdown e impedir essas pessoas de saírem de lá não adiantaria em relação a essa variante. A variante provavelmente emergiu em dezembro. Ela foi detectada no final de dezembro e início de janeiro, então ela já está há semanas circulando, ela já conseguiu sair de lá, foi pro Japão. As pessoas que levaram pro Japão provavelmente não fizeram um voo direto, fizeram escalas, então tinha mais gente junto com eles. A transmissão em si já está ocorrendo, não tem como controlar a saída dessa variante por conta de alguns pacientes que estarão entubados num hospital, que é um ambiente de maior controle do que em lugares que sofreram aglomerações nas festas de final de ano”, argumentou.
Mais restrições para controlar a pandemia
Também nesta quinta-feira, conforme noticiado pela Agência Brasil, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), anunciou novas medidas para tentar conter a disseminação do novo coronavírus, entre elas, a proibição da circulação de pessoas nas ruas de todo o Amazonas, das 19h às 6h, com exceção para as pessoas que trabalham em atividades estratégicas e essenciais, como saúde, segurança pública e profissionais de imprensa.
O governo amazonense também recorreu à Justiça para que a empresa White Martins seja obrigada a fornecer todo o oxigênio hospitalar de que a rede pública de saúde do estado precisar.
Nesta quarta-feira (13), a demanda por oxigênio em estabelecimentos hospitalares públicos de saúde do Amazonas superou em mais de 11 vezes a média diária de consumo da terça-feira (12). Os hospitais particulares também já enfrentam dificuldades de abastecimento.
Nos últimos dois dias, a Justiça estadual deu decisões favoráveis a estabelecimentos privados para que as empresas White Martins e Nitron da Amazônia sejam obrigadas a manter o fornecimento de uma quantidade mínima do produto.
Frentes
De acordo com o governo estadual, até ontem (13) à tarde, o Amazonas contabilizava 219.544 casos confirmados da covid-19 e 5.879 óbitos, com 540 pacientes internados com a suspeita de terem sido infectados pelo novo coronavírus.
No início da semana, o governo estadual já tinha proibido o transporte fluvial e rodoviário intermunicipal de passageiros. A suspensão desses serviços foi estabelecida por decreto publicado na terça-feira (12), e vai vigorar até 17 de janeiro.
No mesmo decreto, foram suspensas o funcionamento de marinas para atividades de lazer e de academias, centros de ginástica e estabelecimentos semelhantes. Também devido aos reflexos da covid-19, o governo estendeu até 31 de janeiro a determinação para que os órgãos e entidades da administração direta e indireta do Poder Executivo estadual que não estejam diretamente envolvidos com o enfrentamento da pandemia mantenham no mínimo 70% de seus servidores e empregados em trabalho remoto.
A gravidade da situação no Amazonas motivou o governo do Pará a proibir a entrada em seu território de embarcações de passageiros provenientes do Amazonas, em vigor a partir desta quinta-feira (14).