A taxa de letalidade por Covid-19 em Vila Velha deve subir substancialmente nesta e na próxima semana. Com a expansão da pandemia entre os bairros mais populares da cidade, a taxa de Vila Velha, ainda abaixo dos 3%, tende a se aproximar da registrada na Serra, que ultrapassou os 6% desde o início do mês de maio, sendo o maior percentual entre os municípios mais populosos da Grande Vitória.
A explicação, segundo o secretário de Estado da Saúde (Sesa), Nésio Fernandes, está no perfil de testagem das duas cidades. Enquanto no território canela-verde a pandemia chegou primeiramente nos bairros de renda média e alta, na Serra, ela atingiu mais rapidamente a população de classes mais populares.
A questão é que esses diferentes padrões socioeconômicos refletem em perfis de testagem diferenciados, explicou Nésio. “A população de setores A e B tem critério de testagem ligado aos planos de saúde. E essa testagem na rede privada contribui para que a letalidade em Vitória e Vila Velha seja menor que na Serra”, disse, em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (11).
O município serrano tem a menor cobertura de plano de saúde da região metropolitana, informou o secretário, e, sem a soma dos testes feitos pela rede privada, suplementar, a letalidade se apresenta maior.
“À medida que em Vila Velha migra nesta semana e na próxima para os bairros de periferia, esse comportamento de letalidade tende a ter uma proporção maior. É possível que a letalidade em Vila Velha aumente”, prevê.
Já em Vitória, a taxa não deve apresentar grande alteração, acredita Nésio, pois metade da população da Capital tem cobertura de planos de saúde.
Os três municípios, segundo o Painel Covid desta segunda-feira (11), apresentam as seguintes taxas de letalidade: 6,36% na Serra; 4,32% em Vitória; e 2,81% em Vila Velha.
No interior, chama atenção os municípios com letalidade superior a 7%. Nessa situação, segundo o Painel Covid desta segunda, estão: Ecoporanga e Iúna (50%); Pinheiros (20%); Nova Venécia (16,67%); Afonso Claudio (13,64%); Fundão (13,33%); Sooretama (12,50%), Barra de São Francisco, Castelo e Santa Maria de Jetibá (10%); Aracruz (9,76%); e Presidente Kennedy (7,69%).
A taxa de 7%, esclarece Nésio Fernandes, é a letalidade indicada na literatura internacional. Percentuais maiores que esse indicam haver necessidade de uma atenção especial, devido a uma subnotificação mais acentuada, pelo não diagnóstico dos casos suspeitos de síndrome gripal. “Para cada óbito, devem existir de 28 a 35 casos confirmados”, informa.
A discrepância observada nesses municípios está levando o governo do Estado a considerar a taxa de letalidade como mais um critério a ser adotado na Matriz de Risco e na atualização dos mapas de gestão de risco.
Independentemente da adoção do novo critério, no entanto, Nésio ressalta que as elevadas letalidades no interior do Estado acendem um alerta para as autoridades municipais e estaduais de saúde, que devem investir esforços para sanar essas possíveis subnotificações.
O Painel Covid também registrou mais 15 mortes e 220 casos confirmados, totalizando 196 e 4.819 até o momento. A taxa de letalidade do Estado subiu mais 0,13% ponto percentual, chegando a 4,07%. Foram feitos 20.818 testes, 866 nas últimas 24 horas; e 1.734 pessoas se curaram.
A taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na Grande Vitória é de 76,68%, já bem próxima dos 80% que acendem o alerta amarelo de 80%; e a média no Estado é de 68,59%.
O isolamento social neste fim de semana também caiu em relação ao fim de semana passado. Comparando os números de domingo, os percentuais baixaram de 54,96% para 52,39% na Grande Vitória e de 55,7% para 53,1% na média do Estado.
Mesmo de posse de todos esses dados que mostram o agravamento da pandemia no Estado, o secretário Nesio Fernandes afirma que “a Covid não será uma experiência cataclísmica no Espírito Santo” se a população colaborar com o distanciamento social.
“Não é possível entender que o coronavírus é um fenômeno epidemiológico de curta duração. Não será uma onda única com poucas semanas. Não haverá mais um normal do período pré-epidêmico. Viveremos um novo normal e é preciso que um conjunto maior de pessoas colaborem. Isolamento social não se restringe a comércio fechado”, reafirmou.
A curva pandêmica no Espírito Santo ainda não chegou ao seu platô e o mês de junho começará com números ainda elevados de casos ativos. O lockdown, no entanto, ainda é descartado. “Lockdown é uma medida extrema que acontece num contexto de crescimento acelerado e descontrolado do número de óbitos e esgotamento da capacidade de atendimento dos pacientes”, explicou Nésio Fernandes.
A expansão em andamento da rede hospitalar, iniciada em janeiro, ainda “é suficiente para comportar os pacientes graves”. Sem disciplina da população, porém, a sobrecarga pode acontecer em até 14 dias. “Para não acontecer o lockdown, precisamos da mobilização da sociedade, da atitude individual do conjunto da sociedade, no distanciamento social, uso máscaras e lavagem das mãos, para romper cadeia de transmissão”, pediu.