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‘Não podemos ficar esperando três mil pessoas morrerem por dia’

Epidemiologista Ethel Maciel recomenda: somente expandir leitos é errado; doença infecciosa requer investimento em prevenção

Hélio Filho/Secom

“Nós temos que compreender que a estratégia de abrir leitos esperando as pessoas chegarem doentes está equivocada, está errada”, afirma, enfaticamente, a doutora em Epidemiologia, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e uma das mais respeitadas autoridades sanitárias do país, Ethel Maciel, em vídeo publicado nessa sexta-feira (5) em suas redes sociais, no já habitual balanço da semana.

Neste caso, a crítica se dirige diretamente às declarações atribuídas à “cúpula do Ministério da Saúde” em reportagem publicada no jornal Valor Econômico, dando conta de que o governo federal estima que, ainda neste mês de março, o Brasil irá atingir picos de mais de três mil mortes diárias pela Covid-19. Segundo a reportagem, o alto escalão da pasta de Saúde do governo federal entende que a única coisa a fazer diante dessa tragédia é abrir mais leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e enfermaria.

“Não podemos ficar esperando três mil pessoas morrerem por dia no Brasil!”, refutou Ethel Maciel. Só pra fazer uma analogia, disse, “é como se na pandemia de HIV/AIDS, a gente dissesse para as pessoas que elas podem continuar fazendo tudo o que fazem, terem relações sexuais sem preservativos, continuar indo em todos os lugares, inclusive nesses que propiciam atividade sexual com mais de uma pessoa. E que, se a pessoa ficar doente, existem os hospitais e talvez algum medicamento que possa tratar essa doença”, explicou.

Doença infecciosa, ressaltou Ethel, requer investimento em prevenção. “Nós temos que compreender que não podemos investir na doença, temos que investir na prevenção, ampliar a testagem, ampliar o isolamento, oferecer oxímetro pra todas as pessoas que fazem teste no SUS [Sistema Único de Saúde], oferecer máscara filtrante no SUS”, elencou.

São medidas eficientes para proteger as pessoas e salvar vidas e “eu posso dizer pra vocês, que isso é mais barato do que pagar leito de UTI”, salientou, citando uma pesquisa recente feita por vários hospitais brasileiros que aponta elevado percentual de mortes entre ex-pacientes Covid. “Não temos que comemorar recuperados. Uma em cada quatro pessoas que saem da UTI com Covid, morrem dois meses depois devido a sequelas”, informou.

Detalhando as orientações, Ethel destacou que a primeira medida é distribuir os oxímetros, que medem a saturação de oxigênio no organismo, a todas as pessoas que testam positivo para Covid-19 no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). “Se a saturação estiver abaixo de 92, a pessoa tem que voltar para o serviço de saúde. O que acontece nessa doença é que ela evolui muito rápido. As pessoas, mesmo com comprometimento pulmonar importante, continuam se sentindo bem e quando chegam no serviço de saúde, já estão com muita inflamação nos pulmões”, explica.

O oxímetro, explica, é um aparelho barato, de fácil manuseio e muito eficiente. “A gente já sabe desde o ano passado e temos dito várias e várias vezes. Não fizemos isso até agora, mas podemos ainda salvar muitas vidas”, reforçou.

A distribuição de máscaras, também pelo SUS, é outra medida urgente, ressalta a epidemiologista. Mas é preciso que sejam as máscaras filtrantes, chamadas de PFF2 ou N95. “Distribuir no SUS assim como o governo distribui preservativo. A gente já sabe que isso salva vidas”.

O lockdown também é necessário, afirmou Ethel. O governo federal, ressalta, teria que apoiar toda a restrição de circulação dos estados para fazer um lockdown efetivo. “É isso que vai diminuir a circulação e impedir que tenhamos três mil pessoas indo ao hospital, precisando de leito e morrendo”, rogou.

“Leitos hospitalares não são garantia de sobrevida”, reforçou, com base em estudos que indicam que um percentual entre 40% e 60% das pessoas morrem em leitos de UTI, exatamente por não haver um trabalho de prevenção. “É isso que a gente tem que mudar: doença infecciosa, nós temos que investir em prevenção”.

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