Bruna Taño coordena projeto de apoio aos CAPSi. Falta desses profissionais no Estado afeta milhares de famílias
“Os CAPSi são o local estratégico do SUS [Sistema Único de Saúde] para acolher e tratar crianças e adolescentes que estão em sofrimento psíquico, com ou sem laudo médico. Principalmente quando se trata de tentativa de suicídio”, afirma.
O ideal, expõe, é que o próprio Hospital onde o menino está internado faça a notificação do caso e o encaminhe para o CAPSi, mas a família pode ir diretamente para lá, mesmo sem o encaminhamento hospitalar. “É um serviço de portas abertas”, ressalta a especialista, que também é mãe de uma criança autista.
A legislação, explica, recomenda a existência de uma unidade de CAPSi para cada 75 mil habitantes. O espaço recebe também crianças e adolescentes com depressão, envolvidos em drogas, além dos diagnosticados com as doenças e síndromes mentais e intelectuais. “Há uma diversidade de perfis acolhidos nos CAPSi e isso também é positivo para o tratamento de todos”, sublinha a coordenadora.
Nesses espaços, o tratamento não é feito somente com profissionais de psiquiatria e neurologia pediátrica. “Tem uma equipe multidisciplinar, com terapeuta ocupacional, psicólogo, assistente social, enfermeiro, educador físico, oficineiros, musicoterapeuta, arteterapeutas (…)”. E na base de tudo, a formação em direitos humanos e saúde coletiva. “O que nos interessa é o cuidado em saúde com participação e garantia de direitos das famílias”, destaca Bruna Taños.
Mesmo tendo um corpo técnico exclusivamente voltado ao atendimento pediátrico, os CAPSi também acolhem a mãe, orientando-a e encaminhando-a para uma consulta médica, uma terapia ou outros serviços públicos que melhor podem lhe atender.
Muitas vezes, conta a professora, apenas a rotina das assembleias dos grupos de famílias dos CAPSi já é um grande auxílio para quem se sente sozinho para lidar com os problemas de saúde dos filhos. “Nelas falamos sobre práticas parentais e direitos. Isso também é uma forma de cuidado. São utilizadas diferentes abordagens aos familiares”.
A coordenadora do Ponto e Rede alerta que “há um grande mercado em torno do autismo hoje. Um campo de disputa, também, por narrativas e abordagens. Disputa em que o discurso de entidades médicas e clinicas de reabilitação afirmam que só esses tratamentos são efetivos. O que não é verdade”, expõe a especialista.
“O pediatra e o médico da família também podem prescrever medicamentos utilizados por autistas, não somente os neuro e psiquiatras”, informa, acrescentando que essas especialidades médicas, que compõem a atenção primária em saúde, junto à ginecologia, também podem tratar a família dos pacientes, inclusive receitando antidepressivos para quadros de depressão baixa. Mas, reconhece, existe um grande receio desses outros profissionais em adentrar o espaço que historicamente a neurologia e a psiquiatria procuram manter exclusivos.
Além disso, prossegue, “o direito à saúde da criança não é só ter acesso aos serviços da rede primária, secundária e terciária; é também estar legitimamente incluída nos espaços sociais, nas escolas, nas áreas de lazer e cultura”.
Outro diferencial dos CAPSi é o seu trabalho em rede. “Escola, CRAS [Centro de Referência em Assistência Social], CREAS [Centro de Referência Especializado em Assistência Social], unidades de saúde, conselho tutelar, varas de Justiça…”, elenca a pesquisadora.
A importância dos CAPSi, acentua, é diametralmente oposta à sua visibilidade dentro da sociedade e do próprio SUS, contextualiza Bruna, lembrando uma tentativa recente de fechamento de uma unidade em Vila Velha, que foi barrada pela equipe do espaço, com apoio da comunidade local. “Nosso problema é gestão e investimento”, aponta.
Criança autista tenta suicídio por sofrer bulling na escola
https://www.seculodiario.com.br/direitos/crianca-autista-tenta-suicidio-por-sofrer-bulling-na-escola