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‘O ES não é uma ilha. Se o País colapsar, nós também colapsaremos’, alerta secretário

Colapso pode acontecer mesmo tendo grande taxa de testagem, menor letalidade e tempo de internação

Nésio Fernandes

“Seria uma ingenuidade sanitária, intelectual e política acreditar que se o País inteiro colapsar nós não colapsaremos”. O alerta foi feito pelo secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, em coletiva na manhã desta terça-feira (5). 

“O Espírito Santo não é uma ilha. Ainda que toda a nossa estratégia de enfrentamento esteja acertada, se o conjunto estratégico do País não tiver um novo rumo, apontar um novo caminho, e o País colapsar, o ES pode colapsar junto. Nós estamos entre o Sudeste e o Nordeste, regiões com maior número de casos”, contextualizou.

Para Nésio, o Estado não pode ter a ingenuidade de acreditar que “uma doença que estava num bairro da China em dezembro, numa província da China em janeiro, e hoje já se espalhou pelo mundo, não esteja presente em todos os municípios brasileiros e capixabas”.

O alerta foi seguido de uma explanação sobre os bons números do Espírito Santo em comparação a de mais unidades da federação brasileira, principalmente em relação à capacidade de testagem – caminha para ser a maior do país – à taxa de letalidade geral e em Unidade de Terapia Intensiva (UTI – pouco mais de 3% e 20%, respectivamente) e ao período de internação dos pacientes em UTI, que é de 5,7 dias, enquanto no Brasil é de 16 dias.

Até o momento, foram feitas 20 mil notificações de casos suspeitos, tendo sido testadas 15 mil dessas pessoas, o que resultou em 3 mil testes positivos. Os resultados de 88% dos testes são liberados em até 48 horas. “Esse desempenho não se compara com qualquer outro laboratório público que testa como o Lacen [Laboratório Central] testa”, ressaltou Nésio.

Testagem ampliada

Diferentemente do protocolo nacional, o Espírito Santo adotou na semana passada o protocolo de testagem ampliada, que inclui a testagem de 100% dos pacientes com mais de 45 anos que tenham comorbidade e que apresentem síndrome gripal na evolução do seu quadro respiratório – público que representa 84% dos casos graves em UTI. “Teremos os resultados desses pacientes antes que eles sejam internados em enfermaria ou UTI, para que, quando ele tiver que ser internado, já vai pra um leito com outros pacientes de Covid, em vez de ficar dois ou três dias isolado, esperando confirmação do diagnóstico”, explicou.

Para essa massificação da testagem, já foram comprados 80 mil testes e outros 40 mil serão usados no inquérito sorológico, totalizando 120 mil testes. “Somente com eles, temos 30 mil testes por milhão de habitantes. É uma quantidade equivalente a países de primeiro mundo, caracterizado como testagem em massa. Nós calculamos que podemos chegar a 160 mil a 200 mil testes juntando os da rede privada e do governo federal”, calcula.

Avaliação médica presencial

“É necessário que todas as pessoas adotem medidas de distanciamento, de lavar as mãos, usar a máscara. Que toda pessoa com síndrome gripal procure avaliação presencial de profissional de saúde para fazer isolamento de 14 dias e seja notificado como suspeito”, pediu o secretário.

Leitos

Outro ponto importante foi a ampliação da rede hospitalar existente, tanto dos hospitais estaduais quanto filantrópicos e privados.

“Temos tido desempenho muito satisfatório, mas não estamos numa situação cômoda nem tranquila que nos permita qualquer aventura no que diz respeito a decisões de governo no manejo da crise”, ressalvou.

“Algumas preocupações estão na mesa. Não nos interessa ter muitos leitos pra que as pessoas adoeçam e vão para o hospital. A situação no Brasil e no mundo aponta para piora. Não nos interessa apenas leitos para pacientes graves. Nos interessa, como autoridade sanitária e governo progressista, que nós tenhamos menos mortes e menos pessoas que precisem de leito hospitalar”, destacou, enfatizando a necessidade de intensificar o distanciamento e isolamento social.

A previsão do governo do Estado é ter ,até o final de maio, 1,3 mil leitos de enfermaria e UTI em todo o Estado, com uma média de sete respiradores para cada dez leitos de UTI, à exceção de alguns hospitais de referência, que terão 100% dos leitos com respiradores.

Os hospitais privados já possuíam respiradores guardados, de reserva, em leitos ociosos, explica Nésio. Por isso, a expansão projetada junto à rede filantrópicas e privada não depende da chegada de mais respiradores. Somente a expansão robusta da rede própria, estadual. E para ela “estão sendo efetuadas as compras, bem como uma troca; respiradores mais simples, que não atendem Covid, estão sendo levados a leitos destinados a outras doenças, cujos respiradores melhores estão indo equipar leitos exclusivos de Covid”, explicou.

Além desses 1,3 mil leitos previstos até maio, há 15 dias foi encaminhado aos gestores municiais documento que trata de atualização de estratégia de combate à Covid, em que os municípios devem construir box de isolamento individual para Covid em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Pronto Atendimentos (PAs) e hospitais públicos e filantrópicos do interior, mesmo não sendo referência para Covid.

Junto aos secretários da Grande Vitória, de Linhares, Colatina, São Mateus e Cachoeiro de Itapemirim, segundo Nésio, também estão sendo providenciadas unidades modulares (tendas de campanhas) acopladas às UPAs e Pronto Atendimentos, melhorando o fluxo de atendimento pré-hospitalar, para que não sejam misturados pacientes suspeitos com pacientes confirmados como não-Covid. 
‘Visitamos as UPAs e PAs para desenhar esses box de leitos”, garantiu.

Nésio afirmou ainda que, “com a estratégia de expansão da rede própria, privada e filantrópica de hospitais, temos praticamente três hospitais de campanha construídos”. Leitos que funcionarão de forma muito mais eficiente que os hospitais de campanha feitos em outros estados, sublinhou, onde as fragilidades já apresentadas são muitas.

“Não necessariamente representam a melhor solução. Particularmente entendo que se o governo federal apresentar, para o conjunto de hospitais existentes, uma tabela mais generosa de verba, é melhor ter uma oferta de leitos melhores pra sociedade”, defendeu.

Lockdown
Mesmo com toda essa expansão já feito e em construção, ressalva Nésio, a possibilidade de lockdown é real, na Grande Vitória, assim como em outras capitais e grandes centos urbanos no País.

“Não depende somente da existência ou não de uma boa ou pior taxa de ocupação de leitos. Se nós continuarmos tendo a cada sete, dez dias, a letalidade dobrando, ainda que as pessoas estejam morrendo dentro do hospital, não podemos assumir que a estratégia de enfrentamento está correta. O comportamento e o crescimento exponencial da letalidade precisa estar na tela de todos na sociedade”, rogou.

Vitória sobre a pandemia

A garantia de “vitória sobre a pandemia” exige três elementos, enfatizou o secretário: durante 1’4 dias, ter a redução sustentada da letalidade geral e da letalidade de pacientes graves internados; e redução da quantidade de pacientes positivos testados, num ambiente de grande testagem, como o que o Estado prepara.

No começo da pandemia, lembrou Nésio, tínhamos uma confirmação para cada onze testes. Hoje já se chegou a uma confirmação para cada 2,5 testes. “Em algumas carreiras de testes do Lacen, chegamos a ter metade das placas com positivos”, enfatizou.

Platô da curva de contaminação em maio e junho

“Esse mês é muito crítico. O nosso estudo apontava a segunda quinzena de abril e primeira de maio, como a fase de aceleração da curva. Alguns estudos nessa semana apontam que o pico da curva tenha um platô maior em maio e junho”, informou, ressaltando necessidade de aumentar o isolamento social, hoje abaixo dos 50%, quado o ideal é estar no mínimo em 55%.

Nesse sentido, o Estado se prepara para intensificar a fiscalização e punição das pessoas que infringirem as normas de distanciamento social. “Vamos punir sim, sem dúvida alguma!”, avisou.

Pacto pelo distanciamento

Um acordo nesse sentido foi construído entre as forças estaduais e municipais, nas áreas sanitárias e de segurança. “No entanto, nós queremos pactuar com as pessoas um grande pacto social para que as medidas de coerção não sejam necessárias. Um pacto pelo distanciamento. E também um apelo pra que se criem instâncias de controle social sobre o respeito ou não a essas normas. Associações de moradores, ONGs, conselhos de idoso, de saúde, de direitos humanos: mobilizem-se, colaborem na fiscalização dessas medidas!”, conclamou.

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