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‘Os protocolos de biossegurança exigem financiamento’

Para Ethel Maciel, só deve haver anúncio de possível abertura das escolas após garantidas condições de implementação

Retorno à condição de transmissão local do coronavírus (SARS-CoV-2) em todo o território capixaba; inquérito sorológico da comunidade escolar; garantia de dignidade aos usuários do transporte coletivo; e definição de orçamento e cadeia de responsabilidade para a implementação dos protocolos de biossegurança definidos pelas secretarias de Estado da Saúde e da Educação (Sesa e Sedu). 

Esses são os quatro pilares defendidos pela epidemiologista Ethel Maciel para que se possa pensar em um retorno das aulas presenciais na educação básica do Espírito Santo. Os argumentos foram debatidos com o matemático Etereldes Gonçalves Junior, também professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em uma live realizada nesse domingo (16).

“É um investimento. Os protocolos de biossegurança exigem financiamento. A gente não pode ter um anúncio de possível abertura sem que as condições estejam muito bem estabelecidas. Primeiro se estabeleçam as condições, para depois a gente pensar num possível tempo pra isso. Hoje nós não temos essa segurança, essa possibilidade, não sabemos o que é responsabilidade de quem”, disse a especialista. Sem essas garantias, enfatizou, a única segurança é a vacinação.

Assim, propõe, esse é o momento pra lutar para que essas condições sejam alcançadas. Os protocolos de biossegurança, acentuou, poderão proteger as crianças não só da Covid, mas de vários outros vírus e bactérias. “A gente nunca fez isso no Brasil, mas agora é uma oportunidade de fazer. Assim como brigar pelo transporte coletivo. Não é possível pagar tão caro para que as pessoas andem em condições indignas, não só pra Covid-19, mas pra outras doenças respiratórias. Se não conseguirmos agora, será difícil conseguir com qualquer outro momento”, avalia.

Pensando no dia a dia da implementação dos protocolos na vida escolar, enfatizou a epidemiologista, envolve considerar por exemplo com quem fica uma criança que for diagnosticada com síndrome gripal, se os pais estiverem trabalhando e só estiver em casa o idoso, que é grupo de risco. Ou como isolar uma pessoa testada positiva numa casa com nove moradores e dois cômodos.

As responsabilidades precisam bem definidas e assumidas pelo Estado. “Os protocolos de biossegurança têm uma dificuldade muito grande de adesão, porque quem vai ter a responsabilidade de fiscalizar? Como isso se dará? A gente precisa entender muito bem as responsabilidades de cada um, porque cada rompimento na cadeia de responsabilidades vai colocar alguém em risco”, advertiu.

Surtos

E o investimento estatal, sublinhou, precisa ser robusto, coordenado e refletindo as realidades de baixa infraestrutura, escassez de pessoal. Na Alemanha, comparou, há uma rotina de limpeza dos banheiros e outras áreas sensíveis no mínimo três vezes por turno. Como implementar essa rotina em unidades onde a regra é faltar papel toalha e sabonete e onde nem os surtos de piolho são controlados?

“É um investimento”, reafirma, lembrando que ainda é preciso elaborar os protocolos para possíveis surtos, incluindo a definição de surto – quantas pessoas contaminadas caracterizam um surto? – e como proceder quando eles acontecerem – fechar todas as escolas da cidade, do bairro ou só aquela? 


Cenários

O inquérito escolar é uma urgência, defenderam os dois especialistas. “Nós já deveríamos estar preparando o inquérito sorológico da comunidade escolar”, pediu Etereldes. É ele que vai permitir entender como está a pandemia entre as pessoas, quantas estão imunizadas e ainda suscetíveis, para poder simular o tamanho do impacto de uma reabertura e fazer os cenários prováveis para conhecer como reabrir de forma segura. “Entender como podemos proteger as nossas crianças, a comunidade escolar como um todo”.

Transmissão local

O retorno à transmissão local – e não comunitária, como vivemos há mais de quatro meses – é outro aspecto fundamental, e precisa estar estabelecido em todo o território capixaba. Nessa condição, explicaram os pesquisadores, é possível conhecer todo os doentes e os seus contatos.

“Quando identifica cada doente e cada contato e isola, a taxa de transmissão fica muito perto de zero, muito baixa. Pode perder o controle se tiver muita gente suscetível, mas tendo passado a fase mais aguda, provavelmente a transmissão vai ser mínima, porque já tem muita gente contaminada, o que já impede a circulação natural do vírus”, expôs o matemático.

Nessa condição de transmissão local, no entanto, será necessário ter capacidade de testagem e de isolamento. “É preciso estabelecer como isso vai se dar”, disse Ethel, retomando a necessidade de cuidado para as populações mais vulneráveis, chamadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de aglomerados subnormais. “O Espírito Santo é o segundo estado do Brasil com mais aglomerados subnormais”, informou.

Fatores e grupos de risco

Quem está em casa ainda, lembrou Ethel, referindo-se ao segundo inquérito sorológico, é a população mais protegida, os idosos, aposentados, e as crianças. Os idosos têm mais probabilidade de ficar grave, como já se sabe, mas há um percentual grande de crianças com comorbidades, com obesidade e asma, por exemplo.

Para além das doenças pré-existentes, as crianças menores, principalmente de cinco anos, são um grupo de risco devido ao fator comportamental. Os fatores de risco epidemiológicos, explica, podem ser biológicos, comportamentais ou ambientais. Biológicos estão relacionados às condições de saúde individual, como obesidade. As comportamentais envolvem a dificuldade das crianças em lavarem as mãos corretamente, ficar com a máscara ou em distanciamento social. E as ambientais têm no transporte coletivo um dos principais exemplos. “Todas as pessoas com obesidade formam um grupo de risco. Todas as pessoas que andam no transporte coletivo compõem um grupo de risco”, exemplificou.

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