“O nosso distanciamento social está insuficiente pra vencer a pandemia. Precisamos ultrapassar os 50%, idealmente chegar a 55%”. É muito franca e direta a mensagem transmitida pelo secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes, e pelo subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin em coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (22): sem isolamento e distanciamento social, é impossível controlar a pandemia de Covid-19.
Por mais leitos que se façam disponíveis em enfermarias e Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais, sejam públicos, particulares, filantrópicos ou de campanha, nenhum quantitativo será suficiente para atender a todos os infectados graves da doença, se ao menos metade da população capixaba não assumir o distanciamento e o isolamento como conduta individual ética primordial enquanto perdurar o período mais grave da pandemia, período este, já instalado, com grau de intensidade variando um pouco entre os municípios.
“Faço um pedido franco, transparente, honesto, a todos os setores do comércio, serviços e todas as instituições e cidadãos: que reforcem o distanciamento social. A pandemia está instalada e o mês de junho será um mês muito intenso. Que nessa semana, o conjunto da sociedade se mobilize e melhore o distanciamento social. Se nós tomarmos essas medidas, nós venceremos. E é possível vencer a pandemia”, conclamou Nésio Fernandes.
“Não queremos perder a vida de mais pessoas. O momento exige. As próximas semanas serão muito intensas. E até o presente momento nós temos acertado nas previsões. Temos dado todas as recomendações corretas ao conjunto da sociedade. Nós alertamos que o interior do Espírito Santo passaria pra um aumento do número de casos. Nós estamos alertando que se o conjunto da sociedade não aumentar o isolamento social, teremos em junho um mês muito intenso. Nós em junho podemos ter que tomar medidas extremas no Espírito Santo”, admitiu, citando um possível lockdown de sete, quatorze ou 21 dias, caso o sistema de saúde colapse, devido à chegada simultânea de pessoas necessitando internação hospitalar por complicações em decorrência do novo coronavírus.
De fato, o distanciamento social tem caído nas últimas semanas em praticamente todos os municípios, incluindo os da região metropolitana, chegando a 47% na última quarta-feira (20) na média estadual. Isso faz com que cada pessoa infectada transmita o vírus para mais de uma pessoa. Somente com isolamento das pessoas suspeitas e infectadas e com distanciamento de todos os que precisam se movimentar nas ruas e comércios, o isolamento pode passar de 50% ou 55% e fazer com que cada infectado transmita o vírus para menos de uma pessoa, garantido um mínimo de segurança na gestão da crise. Esse foi o caminho trilhado pelos países que conseguiram preservar vidas e, minimamente, a economia.
Imunidade de rebanho é inviável
Reblin relembrou que, segundo os resultados da primeira fase do inquérito sorológico, apenas 2,1% da população capixaba já teve contato com o novo coronavírus, pouco mais de 80 mil pessoas. Outros 4 milhões, portanto, ainda estão suscetíveis à infecção. Se a curva epidêmica não for achatada, o caos é inevitável, fazendo com que o confinamento, fechamento de ruas, comércio e até indústrias seja decretado, elevando o sofrimento humano e os prejuízos na economia, absolutamente evitáveis a partir de um comportamento mais responsável, disciplinado e ético por parte de cada cidadão.
“Há uma quantidade muito grande de pessoas ainda sem contato algum com o vírus. Não é possível pensar em pico a partir da estratégia da imunidade de rebanho com 2,1%. É preciso romper a cadeia de transmissão pelo distanciamento social. Nós não podemos esperar 40%, 50% da população seja infectada. Isso significaria uma quantidade desproporcional de vidas perdidas. Se com 2% da população temos toda essa mobilização de serviços, todo esse impacto, imaginem se tivéssemos 40%, 50%!”, exclamou Nésio.
Nesse sentido, o secretário destacou a transparência dos dados sobre a pandemia por meio do Painel Covid-19, onde os números de notificações, confirmações, óbitos, taxa de letalidade, ocupação de leitos hospitalares, percentual de isolamento social, bem como perfil dos bairros e pessoas notificadas, são disponibilizados à população, com atualização diária.
Sobre a recente inserção dos dados do isolamento social no Painel, Nésio ressaltou a importância estratégica do novo dado. Com ele, explicou, os poderes de governo, as instituições e os cidadãos poderão se reconhecer. “Olhar pra si e ver qual é a contribuição pessoal para aumentar o isolamento social, necessário para romper a cadeia de transmissão de uma doença que não tem tratamento específico nem vacina, e que é conhecidamente transmitida pelo contato direto entre as pessoas”.
“Que o conjunto da sociedade se mobilize, se reconheça participando desse enfrentamento. Porque o resultado do distanciamento social é um resultado coletivo. Você individualmente se distancie, respeite toda as orientações sanitárias, para que toda a sociedade se beneficie. E você individualmente também terá benefício. O resultado não é percebido ao longo do dia, mas ao longo das semanas, que é o impacto positivo de um conjunto de cidadãos disciplinados e coesos”, rogou.
Atenção básica
Na próxima semana, novas orientações serão acordadas com as prefeituras, no que se refere à atenção básica de saúde. É fundamental, explicou, que os pacientes com sintomas gripais sejam notificados como suspeitos no e-SUS VS, recebam orientação expressa de se isolarem por 14 dias em casa e sejam monitorados pelo sistema municipal de saúde, que receberá mais 18 mil testes rápidos nos próximos dias.
O protocolo estadual já vem procedendo também na testagem precoce dos suspeitos que integram o grupo formado por pessoas com mais de 45 anos e alguma comorbidade, pois esses representam 84% dos casos que chegam nas UTIs.
“Sem isso, não conseguiremos romper a cadeia de transmissão. É fundamental fazer diagnóstico médico dos pacientes suspeitos de Covid”, ressaltou.
Matriz de Risco
Essas informações dos municípios, por sua vez, podem alimentar de forma mais precisa a Matriz de Risco do Estado, permitindo que as decisões sejam tomadas com base em números mais próximos da realidade. “A Matriz de Risco não é uma forma matemática desenvolvida pela Secretaria de Saúde em conjunto com o Centro de Comando e Controle pra constar em relatórios internos. É uma demonstração clara que esse governo tem uma estratégia cientifica para reconhecer o real grau de risco e vulnerabilidade do Espírito Santo”, qualificou.
“Não iremos prescindir do poder pra tomar as decisões. O poder é um instrumento de libertação, um instrumento de superação da sociedade. E nós utilizaremos todo o poder que a República concede ao Estado pra tomar as decisões mais hercúleas e coesionar a sociedade frente à pandemia”, afirmou.