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​Quilombolas do Estado se organizam no combate à Covid-19

Representantes do movimento quilombola capixaba vão debater situação nas comunidades em transmissão ao vivo

O Espírito Santo está entre os nove estados brasileiros que já registraram casos de Covid-19 nos territórios quilombolas, segundo registro do último boletim epidemiológico da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), que completa 24 anos de existência neste mês de maio.

No Brasil, já foram registrados ao menos 21 óbitos de quilombolas entre os estados do Amapá, Bahia, Goiás, Maranhão, Pará, Pernambuto e Rio de Janeiro. Apesar de não haver mortes por coronavírus registradas nos territórios quilombolas capixabas, o sinal é de alerta e preocupação com a chegada da doença e também com as consequências que as mudanças decorrentes do isolamento social provocam para as comunidades.

Questões como essas serão discutidas nesta segunda-feira (18), às 17h, numa roda de conversa ao vivo transmitida na página da Campanha Nem Um Poço a Mais no YouTube. Numa parceria da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional no Espírito Santo (Fase/ES) com a Coordenação Estadual de Comunidades Quilombolas Zacimba Gaba e a Conaq, lideranças de diversas comunidades e das entidades estarão presentes para uma conversa com o tema “Territórios em tempos de Covid-19: quilombolas do Espírito Santo”.

Os convidados são Kátia Penha, da comunidade de Divino Espírito Santo, em São Mateus (norte do Estado), Arilson Ventura, de Monte Alegre em Cachoeiro de Itapemirim (região sul), e outras lideranças das comunidades de Conceição da Barra (norte): Luzinete Serafim Blandino (comunidade São Domingos), Gessi Cassiano (Linharinho), Domingos Firmiano, o Chapoca (Angelim-DISA), Josineia Serafim Blandino (São Domingos) e João Batista (Angelim I), além de Selma Dealdina, representando a Conaq.

Arilson Ventura explica que além da preocupação por já haver registros de Covid-19, embora sem óbitos, as comunidades também enfrentam problemas por conta da redução ou corte de transporte, que implica que pessoas que trabalham fora das comunidades não consigam chegar ao local de trabalho, ou de levar seus produtos agrícolas às feiras, já que algumas delas foram suspensas. Com o fechamento das escolas também há dificuldade para escoar a produção, já que parte dela ia para o programa de alimentação escolar.

Assim, muitas famílias que vivem em condições simples estão em dificuldades e também não conseguem o auxílio emergencial do Governo Federal, seja por pouco acesso às formas de cadastro ou porque aguardam há tempos uma liberação do recurso que não sai. Isso fez com que o movimento quilombola buscasse o governo do Estado para viabilizar ajuda de emergência por meio da doação de cestas básicas. A secretaria de Estado de Direitos Humanos (Sedh) acolheu a demanda e já começou a distribuição, que havia alcançado cerca de 350 das mil famílias que o movimento quilombola pediu auxílio, após um levantamento por município com base nos cadastros do CadÚnico.

A nível nacional, a luta também continua com força, por meio da campanha #VidasQuilombolasImportam, promovida pela Conaq. Em seu aniversário, a entidade lançou um manifesto relembrando sua trajetória na luta contra discriminação e a favor de políticas para as comunidades, além de tecer críticas aos ataques constantes que ocorrem nos últimos anos buscando retirar conquistas consolidadas pela Constituição e leis brasileiras.

“Resistimos por nenhum direito a menos porque as vidas quilombolas importam!”, conclama o manifesto. A Conaq ainda respondeu recentemente aos ataques promovidos pela Fundação Cultural Palmares, encarregada de zelar pelas políticas de apoio à população quilombola e que está nas mãos do bolsonarismo e usou sua página oficial para criticar Zumbi dos Palmares, considerado o maior ícone da luta do povo negro contra a escravidão.

Sobre a Covid-19, a entidade representativa se manifestou: “Devido à falência estrutural de sucessivos governos e dinâmicas de racismo institucional, os quilombo não contam com um sistema de saúde estruturado, ao contrário, os relatos da maior parte dos quilombos é de frágil assistência e da necessidade de peregrinação até centros de saúde melhor estruturados. As condições de acesso à água em muitos territórios são motivo de preocupação, pois também dificultam as condições de higiene necessárias para evitar a propagação do vírus. Essa situação tende a ser agravar exponencialmente com as consequências sociais e econômicas da crise da Covid-19 na vida das famílias quilombolas”.

Diante das dificuldades, a Conaq e algumas comunidades lançaram também campanhas de doações para apoiar populações quilombolas pelo Brasil neste momento. 

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