Nésio Fernandes afirma que possível reabertura do comércio dia 4 pode ser suspensa caso haja aglomerações
“Todos os argumentos são legítimos. Nós estamos considerando todos eles e sábado teremos certamente a decisão mais equilibrada. E ela será temporária”.
A resposta do secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, sobre as reais possibilidades de reabertura ampla do comércio a partir da próxima segunda-feira (4), inclusive na Grande Vitória e outros municípios de risco alto de transmissão do novo coronavírus, se deu na manhã desta quinta-feira (30) em reunião coletiva com a imprensa, após uma hora de longa e detalhada explanação sobre as diferentes variáveis que incidem sobre a maior ou menor gravidade que a pandemia de Covid-19 passará a adquirir no Espírito Santo, considerando o histórico já vivido em outros países e estados brasileiros e o planejamento diferenciado adotado no Estado desde janeiro.
Como previsto em fevereiro, o primeiro pico da pandemia no Espírito Santo está mesmo acontecendo entre a segunda quinzena de abril e a primeira quinzena de maio. É possível que a curva de contaminação forme um platô nesse período, antes de começar a cair.
E justamente no auge da crise – pelo menos o primeiro auge, já que a pandemia se estenderá por um ano a um ano e meio, alternando vários ciclos de picos e reduções do número de contaminações – está o segundo feriado anual mais importante para o comércio mundial e nacional: o Dia das Mães.
‘Pandemia extrapola o campo da saúde’
A pressão das entidades do setor é enorme, incluindo anúncios de demissões e falências em massa. O apoio econômico a empresários e trabalhadores por parte da União é ínfimo – assim como “é ridículo” o volume de recursos enviados pela União ao Estado para a pandemia, afirmou Nésio – e o disponibilizado pelo governo estadual também está aquém das necessidades.
Nas redes sociais, a população se divide sobre a possibilidade de abertura das lojas no momento mais grave da pandemia. “O melhor presente para a sua mãe é a vida. Fique em casa!”, pedem os críticos da medida. A mensagem/clamor se multiplica em infinitas versões. Especialistas alertam, pedem que a decisão seja pela manutenção das restrições, enquanto as grandes lojas e shoppings já avisam seus funcionários a ficarem de plantão para as vendas a partir da primeira segunda-feira de maio.
Enquanto isso, pessoas continuam lotando os calçadões das orlas das cidades, justamente nos bairros com maiores números de contaminações. Continuam enchendo as ruas e lojas sem a devida precaução com o distanciamento seguro, com o uso de máscaras e com a limpeza das superfícies.
O cenário é de pesadelo. “A pandemia extrapola o campo da saúde. No meio disso, está nas mãos do governador tomar uma decisão. A mais acertada”, lembra Nésio, ressaltando que será temporária, seja qual for, pois a avaliação diária da evolução da pandemia pode mudar qualquer decisão de Estado.
A responsabilidade é de todos, enfatizou o secretário em vários momentos, ao longo dos mais de 60 minutos de explanação. Ao governo do Estado cabe tomar as decisões macro, tanto de infraestrutura e organização da rede de saúde, quanto de orientar os municípios, as entidades civis e a sociedade em geral. Sobre os municípios, recai a necessidade de adequar as determinações estaduais sempre que necessário e somente se em direção a mais restrições de movimentação de pessoas.
Controle social
O setor produtivo deve cumprir as determinações do poder público e, com a sociedade, está o dever intransferível de se auto-organizar, “criar mecanismos de controle social”, nas palavras do secretário.
“Precisamos aumentar o grau de poliarquia no Espírito Santo”, convoca, referindo-se a alcançarmos uma situação ideal de coexistência de lideranças políticas avançadas e povo avançado, no que se refere à capacidade de disciplina individual e vigilância mútua sobre os estilos de vida e comportamentos mais seguros e eficientes na redução da velocidade dos contágios.
“O que eu vi em Jardim Camburi nesses últimos dias é desesperador”, exclamou Nésio. “A quantidade de gente na rua, aglomerada!”, relatou, referindo-se ao bairro de Vitória com mais casos da Covid-19.
“Se não conseguirmos distanciar as pessoas, evitar o contato direto, não conseguiremos romper a cadeia de transmissão”, asseverou. “Para romper o ciclo de transmissão da doença, que é por gotículas, contato direto, precisamos distanciar as pessoas, limpar as superfícies, lavar as mãos, ter uma vida diferente. Não depende somente de uma atividade econômica, de ter comércio aberto ou fechado”, reafirmou.