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Sesa e Ufes testarão Covid-19 em aldeias indígenas de Aracruz

Testagem é uma reivindicação das lideranças indígenas, que apontam 91 casos nas aldeias

A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), em parceria com Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), vai realizar testagem de Covid-19 nas aldeias indígenas de Aracruz, norte do Estado. Até agora, nas aldeias Guarani e Tupinikim do Estado, foram registrados 91 casos e nenhum óbito.

Segundo a epidemiologista e professora da Ufes, Ethel Maciel, que integra a Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública do Governo do Estado para a Covid-19, ainda não foi decidido se as testagens serão feitas em todos os moradores das aldeias ou por amostragem. A iniciativa é uma reivindicação das lideranças indígenas, articulada por meio do Comitê Popular de Proteção aos Direitos Humanos no Contexto da Covid-19, onde os indígenas têm representação. 

Ethel Maciel em visita à aldeia para conhecer as demandas dos indígenas. Foto: Facebook

Ethel afirma que as lideranças indígenas têm a necessidade da testagem para que se tenha elementos para elaboração de um protocolo de biossegurança que possibilite tomar decisões como a reabertura das aldeias para o turismo. Essa atividade econômica, segundo Ethel, é uma das fontes de renda dos indígenas, já que outras formas de subsistência foram impossibilitadas em virtude da destruição ambiental. Uma delas, segundo o cacique Toninho Guarani, da aldeia Boa Esperança, é a pesca no rio Piraqueaçu, dificultada após o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, em 2015.

De acordo com Lindomar José de Almeida Silva, da aldeia Pau Brasil, representante dos indígenas no Comitê Popular de Proteção aos Direitos Humanos no Contexto da Covid-19 e apoiador técnico da Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, algumas medidas de combate à Covid-19 têm sido tomadas pela equipe da Secretaria, composta por indígenas e não indígenas.

Uma delas, informa, foi antecipar a vacinação contra gripe para evitar síndromes gripais e restringir o contato entre as tribos. Também foi feito isolamento imediato das pessoas com suspeita e confirmação de Covid-19, além de isolar aqueles que tiveram contato. Lindomar destaca que foram feitas ações de prevenção como orientação de utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e uso de álcool em gel e máscara. No caso de pessoas que trabalham fora, elas também se isolam na aldeia depois de voltar do trabalho, como forma de prevenção.

Lindomar relata que, das 12 aldeias, seis foram completamente fechadas para pessoas de fora. Entre elas estão as aldeias Três Palmeiras, Piraqueaçu, Boa Esperança e Olho D’Água, da etnia Guarani. As outras são Córrego do Ouro e Amarelos, da etnia Tupinikim. A aldeia de Comboios, que fica em uma ilha, já é isolada, não havendo, segundo ele, grande preocupação de fazer barreira sanitária. As demais não estão completamente isoladas, mas os indígenas restringem o acesso de pessoas de fora.

Descaso do poder público

Ao conhecer a realidade dos indígenas, a professora e epidemiologista Ethel Maciel afirma que ficou impactada com a situação, pontuando que as unidades de saúde precisam de mais investimento e há casos de problemas de saúde mental e uso de drogas. “Pretendemos, junto à universidade, fazer um trabalho mais amplo daqui a algum tempo, com uma equipe formada por diversos profissionais, com foco na saúde como um todo”, planeja

O cacique Toninho Guarani denuncia a ausência do poder público. “A gente tem que ser visto como cidadão, precisa de apoio do Estado, do município, do Governo Federal, tem que ter ações em nosso benefício”, enumera. Ele destaca que indígenas de todo o Brasil tiveram que utilizar recursos financeiros de organizações nacionais e internacionais, destinados à elaboração de laudo antropológico para possibilitar a demarcação das terras para adquirir alimento em meio à pandemia.

No que diz respeito à saúde, Lindomar relata que há cinco unidades de saúde, mas em três faltam equipamentos e acomodação adequada para atendimento.

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