Desde outubro de 2017, óbitos de prematuros começaram a disparar na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Infantil de Vila Velha (Heimaba). Segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde no Estado (Sindsaúde-ES), que passou a receber denúncias de pais, acompanhantes e até de trabalhadores que atuam na unidade, os relatos apontavam que, apenas na virada do ano, a estimativa é de que nove bebês tenham morrido.
Coincidentemente, os óbitos subiram depois que a gestão do hospital foi entregue para a Organização Social Instituto de Gestão e Humanização (IGH), empresa privada. Preocupado com a situação, o Conselho Gestor do Heimaba solicitou à nova direção do hospital um relatório detalhando as mortes ocorridas desde a mudança na administração, com números e causas dos óbitos. O pedido tem sido feito desde o início de janeiro último, mas, até então, nada de serem revelados.
Na última reunião do Conselho, no dia 30 de janeiro, o secretário de saúde, Ricardo de Oliveira, apresentou um cenário positivo depois da terceirização, como aumento no número de atendimentos, que, de acordo com a Sesa, cresceu 28,63% entre outubro a dezembro de 2017, comparado ao mesmo período de 2016.
O assunto foi, inclusive, noticiado no site da Secretaria: “entre internações, atendimentos de urgência e emergência, exames, consultas ambulatoriais e procedimentos cirúrgicos, o hospital realizou 71.854 atendimentos nos três últimos meses do ano passado contra 55.858 em igual período do ano anterior”, diz a notícia oficial, que completa: “sob a administração do IGH, o número de profissionais trabalhando no Heimaba também aumentou. Saiu de 711 para 880, um incremento de 23,76%. Foi feito investimento também na aquisição de equipamentos para assistência ao paciente, como aparelho de ultrassonografia, ventilador pulmonar e carro de anestesia, totalizando 46 novos equipamentos”.
De acordo com o Sindsaúde-ES, na prática, a mudança de gestão ocorreu com servidores experientes na Utin Neonatal sendo substituídos por terceirizados. O diretor de Comunicação da entidade, Valdecir Gomes Nascimento, informa que as mortes podem ter resultado de infecção hospitalar causada por fungos. “Além da falta de medicamentos para combater esse tipo de infecção durante um período, há ainda o despreparo de trabalhadores com pouca experiência, que foram contratados como mão de obra mais barata”. Vale ressaltar que a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Heimaba tem sofrido com infiltrações, o que gera mofo nas paredes do setor.
Valdecir Nascimento afirma ainda que a Sesa apresenta um cenário de melhora que leva em conta fatores apenas estruturais e não de qualidade de serviço. “Não adianta deixar tudo só mais bonitinho, com móveis novos e computadores. Além disso, a OS só apresenta números de atendimentos e pronto, não há controle sobre a qualidade dos serviços. Nada adianta aumentar os atendimentos se mais crianças estão morrendo”.
O Sindsaúde-ES e o Conselho Gestor do Heimaba já haviam protocolado, no ano passado, denúncia no Ministério Público em virtude das irregularidades cometidas pelo IGH em outros estados. A OS administra unidades em diversos municípios e acumula denúncias de quebra de contrato. No estado do Piauí, por exemplo, o Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região (TRT-PI) determinou a suspensão do contrato entre a Secretaria de Saúde do Piauí (Sesapi) e o IGH que tornava a OS responsável pela gestão do Hospital Justino Luz, no município de Picos.
Século Diário procurou a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Saúde para que apresentasse o relatório solicitado pelo Conselho Gestor, uma vez que os dados são públicos. O pedido foi formalizado por e-mail e também por contato telefônico, no entanto, os dados não foram enviados.