Uma gestão polêmica, marcada por conflitos com servidores, decisões que geraram disputas com reflexos na Justiça e uma série de protestos. Assim pode ser definido o período em que Benício Farley Santos, agora ex-secretário de Saúde da Serra, depois da exoneração do cargo nessa quarta-feira (5), esteve à frente da pasta, por aproximadamente dois anos. A gota d' água teriam sido declarações caluniosas contra trabalhadores da Saúde do município.
O pedido de exoneração ocorreu cerca de um mês depois da entrevista concedida pelo ex-secretário ao Jornal Tribuna do Povo, edição nº 76, de junho de 2018, chegar ao conhecimento das categorias da área, causando grande repercussão e revolta, ameaças de processos pelo Sindicato dos Médicos (Simes) e pelo Sindicato dos Enfermeiros (Sindienfermeiros) e uma nota de repúdio coletiva. Nas afirmações, o então secretário transferiu a culpa do caos na saúde para os profissionais que atuam município. Disse ainda que alguns alguns servidores não tinham condições de trabalhar devido ao “alto estado de embriaguez”.
Tudo, na visão das entidades de classe, para justificar a terceirização das unidades de saúde do município, processo que estava em curso e mirando as unidades de Pronto Atendimento. Segundo representantes de alguns sindicatos, Farley tinha laços estreitos com a saúde privada, inclusive com parentes com altos cargos em hospitais privados. O secretário não escondia o desejo de terceirizar vários dos serviços públicos, o que, de fato, se concretizou nas recepções das unidades de saúde.
Redução de salários
Farley esteve à frente também de outra medida, considerada desastrosa: a redução salarial, adotada a mando do prefeito Audifax Barcelos (Rede). Dessa vez, o ex-secretário conseguiu a inimizade coletiva de diversos sindicatos da área da saúde, que resolveram se unir num movimento unificado de médicos, dentistas, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos, agentes de saúde e outros trabalhadores da Saúde, o MUSP (Movimento Unificado dos Servidores Públicos da Serra).
Foram diversos protestos unificados, incluindo passeatas com grande números de servidores.O MUSP chegou a publicar uma nota de repúdio em que expressou a sua completa indignação com as afirmações feitas pelo secretário em entrevista. “Inadmissível que os servidores sejam culpados pelo caos que esta administração instaurou na Saúde Pública Municipal. Ora, as acusações feitas pelo secretário são de extrema seriedade e atingem toda a categoria de servidores da saúde, pois estes atendem diretamente a comunidade por meio de consultas, sejam com agendamento marcado seja por meio de plantões, e outras atividades afins”, dizia a nota publicada no dia 6 de agosto passado.
A nota continua: “A única verdade dita na reportagem é a insatisfação dos servidores, que desde o ingresso da atual gestão, e isso se estende não só ao secretário de Saúde, mas ao prefeito da Serra, os servidores da Saúde vêm sendo perseguidos e tendo seus vencimentos e condições de trabalho cada vez mais degradadas. Esta situação é de conhecimento de toda a população, pois desde janeiro de 2017, com a aprovação de legislações, também conhecidas como pacote da maldade, é que todo o sistema de saúde do município vem sendo sucateado. Na verdade, toda a atitude adotada pelo secretário de Saúde, em especial o insistente ato de denegrir a imagem dos servidores da saúde, tem por objetivo apenas dar motivação para a ilegal contratação de empresa terceirizada que atuará na saúde municipal”.
Terceirização
Outra política excludente adotada por Benício Farley Santos, enquanto ocupava o cargo, foi o processo de privatização/terceirização de serviços da saúde municipal. “Uma empresa foi contratada para fazer o serviço de recepção das unidades, uma estratégia para transformar a saúde da serra em um cabide de empregos. Além de ter aumentado o número de cargos comissionados”, relata Dionis de Souza, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde no Estado (Sindsaúde-ES). “Em sua gestão denunciamos também a precariedade das UPAs, com equipamentos sucateados como o de raio-x e veículos em condições precárias e que ainda estão sendo usados para transporte de pacientes”, acrescenta a liderança sindical, afirmando que o secretário não vai deixar saudades.
“Para o Sindicato e a categoria, foi uma vitória. Os servidores se sentiam coagidos o tempo inteiro e a população também foi muito prejudicada devido ao sucateamento dos serviços, sempre com o intuito de justificar as privatizações. Nossa luta é extensa no enfrentamento da má administração do município da Serra. Fortalecemos o MUSP juntamente com outros sindicatos, entre outras estratégias para combater os malfeitos do secretário”, afirmou Dionis.
Demissão de agentes
Outra decisão tomada durante a gestão de Benício foi a demissão de um grupo de agentes de combate às endemias (ACE) e de agentes comunitários de saúde (ACS), em outubro de 2017, às vésperas do verão, colocando em risco os serviços de saúde oferecidos no município, sobretudo os de prevenção às epidemias com a dengue. A medida resultou numa série de processos trabalhistas, dos quais a maioria foi favorável pela reintegração dos profissionais.