Governo há mais de um mês não efetiva ações nesse sentido. 44% dos positivados vivem com 4 ou mais moradores
Habitar residências com quatro ou mais moradores e fazer uso prolongado do transporte coletivo são os dois fatores sociais que de maior vulnerabilidade para a infecção pelo novo coronavírus no Espírito Santo.
A conclusão é um dos resultados da quarta etapa do inquérito sorológico – realizada nos dias 22, 23 e 24 de junho – apresentados neste sábado (27) pelo secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, e o gerente da Vigilância em Saúde da Sesa, Orlei Amaral Cardoso, que coordena os trabalhos do inquérito.
Trinta e quatro por cento das pessoas entrevistadas nesta última fase do estudo vivem em lares com quatro moradores ou mais, mas correspondem a 44% das pessoas positivadas nos testes. Entre os moradores de casas com cinco ou mais pessoas, a distorção é ainda mais acentuada, sendo a maior entre todos os aspectos investigados no inquérito. Representando 14,4% das amostras, essas pessoas totalizam 21,5% dos testes positivos.
O uso prolongado do transporte coletivo ficou em segundo lugar entre as vulnerabilidades sociais para a Covid-19. Os 16,4% dos entrevistados que afirmam transitar de ônibus diariamente por um período entre 30 e 60 minutos correspondem a 17,4% dos positivados. Já os 7,1% dos que viajam por mais de uma hora, positivaram 11,7% dos testes. Somados, os dois públicos totalizam 23,5% das amostras e 29,1% dos testes positivos.
A necessidade de uma ação mais enérgica por parte do governo do Estado sobre esses dois aspectos cruciais do crescimento da pandemia já vem sendo explicitada por cientistas que participam da elaboração do inquérito sorológico e que integram o Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), coordenado pela Universidades Federal do Espírito Santo (Ufes) e Instituto Jones dos Santos Neves e que assessora tecnicamente a Sala de Situação em Emergência Púbica para Covid-19 no Estado.
Garantir o isolamento dos contaminados
O isolamento efetivo dos infectados é uma das três recomendações primordiais da Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo necessário que o Estado intervenha para garanti-la junto a populações que não dispõem de condições próprias para tal.
Na Nota Técnica nº 4 do NIEE, publicada no dia 10 de junho, analisando o cumprimento das três recomendações pelo Espírito Santo, os autores afirmaram que “até o momento, o Espírito Santo não apresentou nenhuma medida para alocação de comunidades vulneráveis em casas de apoio, quarentena ou hotéis, que viabilizasse um isolamento real e impedisse a transmissão da doença”, ressaltando ainda que “não há um sistema planejado de busca ativa de casos”.
Questionado sobre a viabilização dessa ação, o governador Renato Casagrande (PSB), na ocasião, rejeitou a ideia. “É fácil dizer ‘tem que isolar essas pessoas em hotéis’. Mas essas pessoas em hotéis vão estar contaminando as que não estão contaminadas. Tem que transformar cada hotel em hospitais com quartos de isolamento. Não é uma tarefa fácil”, alegou, sem demonstrar, desde então, qualquer avanço no sentido de encontrar uma solução para a difícil e necessária tarefa.
Suspender o transporte coletivo
Ainda no início da terceira fase do inquérito, no dia oito de junho, Século Diário publicou a recomendação de suspensão do transporte coletivo na Grande Vitória por um período a ser definido, feita por dois desses cientistas, o matemático Etereldes Gonçalves Junior e a epidemiologista Ethel Maciel, ambos professores da Ufes.
“Suspender o transporte coletivo”, pediu Etereldes, pode ser uma solução na região metropolitana capixaba, inspirado nos resultados obtidos em Florianópolis, capital de Santa Catarina. A cidade, que tem 500 mil habitantes, suspendeu totalmente a circulação dos ônibus do transporte coletivo no início da pandemia e havia registrado, até então, oito óbitos, sendo o último após 34 dias sem novas pela Covid-19. Na mesma data, a capital capixaba, com 400 mil habitantes, já havia confirmado 133 óbitos.
Questionado sobre possíveis novas atuações do governo do Estado sobre a segurança sanitária no transporte coletivo, Nésio Fernandes respondeu que “já existe um protocolo pra reduzir probabilidade de reduzir infecção em quem pega ônibus”, enfatizando a obrigatoriedade do uso de máscara por todos os passageiros determinada pelo governo do Estado e aprovado pela Assembleia Legislativa no início de maio, período em que foram feitas ações de distribuição de máscaras nos terminais do Transcol e já estavam vigorando tanto a proibição de passageiros em pé dentro dos coletivos e o espaçamento mínimo de 1,5 m nas filas de espera dentro dos terminais, além da retirada dos cobradores por um período de 60 dias. Desde então, nenhuma outra medida foi tomada, e a própria fiscalização das que foram estabelecidas não tem sido efetiva.
O que se tem visto diariamente, no entanto, são ainda ônibus e terminais lotados, sem o cumprimento das determinações legais. “Falta transparência na divulgação dos dados sobre a lotação dos ônibus e fiscalização sobre uso de máscaras e distância entre as pessoas nas filas”, observou a epidemiologista.
Indiferente à realidade nas ruas, Nésio Fernandes insistiu que “o uso de máscara e lavar das mãos e a redução drástica do número de pessoas que usam transporte coletivo já são medidas com esse objeto”, mas acrescentou que “vamos apresentar essa semana ao Centro de Comando e Controle as conclusões do inquérito e novas medidas podem ser tomadas”.
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