Ethel Maciel e Rubia Miossi pontuam estratégias para melhorar a efetividade da vacinação no Estado
Para a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Estado (Ufes) Ethel Maciel, a vacinação por idades é a melhor forma de avançar na imunização contra a Covid-19. Na última semana, o Governo do Estado deu início à vacinação de pessoas com idade entre 55 e 59 anos e, nesta segunda-feira (7), Vitória começa o agendamento para pessoas com 50 anos ou mais.
Ethel ressalta que esse critério é mais abrangente do que a vacinação por comorbidades, por exemplo, mas o principal entrave ainda é a lentidão com a qual as vacinas são disponibilizadas. “O critério de idade é mais abrangente, mas precisaríamos ir descendo mais rápido nas faixas etárias. E, para isso, precisamos de mais doses”, declara.
É o que reitera a infectologista Rubia Miossi, ponderando que, em contrapartida, pessoas mais jovens com comorbidades mais graves podem ficar sem acesso. “O que resolve é, de fato, ofertar um número maior de vacinas, ampliando a oportunidade a todos”, afirma.
Apesar da lentidão na chegada das doses, Miossi lembra que a vacinação por idade elimina a necessidade de laudo médico, o que pode facilitar o avanço na imunização. No momento, pessoas que se vacinam pelo critério de comorbidades precisam apresentar um laudo como um comprovante de doenças como diabetes, hipertensão ou cardiopatias.
O processo comprobatório, no entanto, se torna mais difícil para quem tem um acesso menor a serviços de Saúde. “O ideal é que a gente vacine todas as pessoas, não só as com comorbidades. Então, se você abrir para pessoas nessa faixa etária [55 a 59 anos], você vacina, inclusive, as com comorbidades nessa idade, que ainda não se imunizaram”, explica Rubia Miossi.
Administração das doses
Outra estratégia que pode otimizar a campanha de vacinação contra a Covid-19 é a remodelação do programa nacional de imunização, explica Ethel Maciel. Ela esclarece que isso poderia ser feito por meio da destinação de determinados imunizantes para grupos específicos de pessoas.
A vacina da AstraZeneca, por exemplo, poderia ser destinada a pessoas com 50 anos ou mais. De acordo com a pesquisadora, os efeitos colaterais do imunizante surgem com maior frequência em pessoas com idade abaixo de trinta anos. “O que a gente poderia fazer com o conhecimento que já tem? Deixar essa vacina para um grupo mais idoso, que é uma vacina que responde melhor. Essas pessoas têm uma formação melhor do sistema imunológico com essa vacina”, ressalta.
Já a Coronavac poderia ser direcionada a pessoas com menos de 50 anos e com comorbidades, explica ela, que também cita um estudo recente feito com pessoas do Amazonas. “Eles viram que a Coronavac, em pessoas acima de 80 anos teve uma proteção muito pequena contra infecção, em torno de 28%, menos que 30%. Então, essa vacina responde melhor em pessoas mais jovens”, ressalta.
A Pfizer poderia continuar sendo destinada para os mais expostos, como as gestantes e adolescentes, quando começassem a ser imunizados. “Assim que ela chegar com mais volume, a gente também poderia destinar para as pessoas com comorbidades, pessoas mais idosas, porque ela também tem uma resposta muito boa”, aponta.
Ethel ressalta que essas estratégias podem aumentar a efetividade do programa de vacinação. “É possível utilizar aquilo que a gente já tem de conhecimento científico para destinar à vacinação em faixas etárias que vão ter uma resposta e uma eficácia maior”, destaca a pesquisadora, que também acredita que é preciso avançar em campanhas para a população menos esclarecida, que está mais exposta às notícias falsas sobre o tema.
Vacinação por faixa etária
Na última semana, o Governo do Estado iniciou a vacinação de pessoas com idade entre 55 a 59 anos, ampliando a imunização para o público em geral. A diretriz é que 80% das doses sejam destinadas à aplicação por faixa etária e 20% continuem sendo utilizadas para imunizar grupos prioritários, como educadores, trabalhadores portuários, de aeroportos e rodoviários, e pessoas com comorbidades.
Na escala divulgada pela Sesa, o primeiro grupo a receber os imunizantes corresponde a pessoas de 55 aos 59 anos, seguindo 50 a 54 anos; 45 a 49 anos; 40 a 44 anos; 35 a 39 anos; 30 a 34 anos; 25 a 29 anos; e 18 a 24 anos.
Ao receberem as vacinas, os municípios poderão passar de um grupo para o outro assim que atingirem a meta de 90% de pessoas imunizadas na faixa etária anterior.