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‘Variante britânica se expande de forma violenta no Estado’, alerta Sesa

B.1.17 é mais transmissível e letal, mais comum entre jovens até 30 anos, e sua presença dobra a cada 15 dias no ES

Sesa

A variante britânica do novo coronavírus (SARS-CoV-2) chamada de B.1.1.7, está presente no Espírito Santo pelo menos desde novembro de 2020. Mais transmissível e letal que as cepas originais, é mais comum entre jovens com até 30 anos de idade, e sua reprodução em solo capixaba dobra a cada quinze dias desde meados de fevereiro de 2021, o que explica, em parte, o fato de o Estado viver o maior dos três picos de crescimento da Covid-19 desde o início da pandemia, há um ano.

Essas são algumas das conclusões de uma investigação conduzida pelo Laboratório de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), e apresentadas na tarde desta segunda-feira (22) pelo secretário Nésio Fernandes e o diretor-geral do Lacen, Rodrigo Ribeiro Rodrigues.


A identificação da variante no Estado aconteceu no início deste mês, por meio de um estudo sobre a mutação Δ69-70 (Delta 69-70), utilizando a técnica SGTF (sigla em inglês para “S Gene Test Failure”), que permite uma identificação em tempo real.

O teste é feito em amostras coletadas para testes RT-PCR, os mais seguros para verificar as suspeitas de infecção pelo novo coronavírus, sendo a técnica mais utilizada em investigações semelhantes realizadas também no Reino Unido, Estados Unidos, Portugal e Dinamarca, por ser mais barata e rápida que a técnica do sequenciamento genético.

“Baseando-se nessa tecnologia, passamos a investigar a ocorrência de amostras com essa característica em todas as amostras processadas no Lacen entre março de 2021 e dezembro de 2020”, relata Rodrigo Ribeiro Rodrigues.

Terceiro e maior pico da pandemia
A motivação para iniciar o trabalho foi a percepção de que a acelerada transmissão da doença entre fevereiro e março deste ano era resultado de algum outro fator, para além do comportamento inadequado por parte significativa da população, ao relativizar o distanciamento social e o uso de máscara.

O perfil da pandemia no Estado, lembra Rodrigo Rodrigues, apresentou até o momento três momentos de alta entre março de 2020 e março de 2021: março-maio/2020; setembro-dezembro/2020; e fevereiro-março/2021. Sendo que o atual é o que tem apresentado a maior velocidade de transmissão do vírus.

“Uma possibilidade grande que a gente acreditava é que, associado a esse comportamento social um tanto quanto desconforme com as práticas que devem ser adotadas, era a introdução de novas variantes”, conta o diretor, lembrando que, simultaneamente, em fevereiro, foi publicado um artigo científico sobre o sequenciamento genético de amostras oriundas de dez estados brasileiros, onde foi encontrada a presença da variante B.1.1.7 no município de Barra de São Francisco, no noroeste capixaba.

Um estudo piloto então foi feito com amostras armazenadas em março no Lacen, mostrando que uma grande parte delas era positiva para SGTF, esse marcador alternativo da presença da B.1.1.7. “Automaticamente,  estendemos o nosso estudo retrospectivamente ao dia 18 de março de 2021, testando todas as amostras até 1º de dezembro de 2020”.

O resultado foi que, das mais de 20 mil amostras positivas para Covid-19, 1.345 eram positivas pra essa mutação que caracteriza a presença da variante britânica B.1.1.7. Foi possível também ver como ela tem se multiplicado cada vez mais rapidamente.

Em dezembro, 16 amostras foram positivas para a variante (0,2% do total) e em março, foram 943 (15,2%), sendo que, de fevereiro pra março, a ocorrência dela praticamente dobrou em apenas 15 dias.
Os dados, ressalta o diretor, “demonstram que essa variante tem se expandido de forma extremamente violenta dentro do Estado”. E, na última sexta-feira (19), placas de RT-PCR com 94 amostras atingiam a marca de 46% de positividade para Del69-70, mostrando que o crescimento da reprodução da variante no Estado continua gravemente acelerado.
Dois epicentros

O estudo também evidenciou como a variante foi se espalhando pelo território, estando presente em dez municípios em dezembro e chegando a 65 no momento. Dois epicentros estão evidenciados: Barra de São Francisco, no noroeste do Estado, e Piúma, no litoral sul.

A Grande Vitória ainda não aparece como epicentro porque o estudo foi feito com amostras testadas no Lacen e, desde o final de dezembro, as amostras oriundas de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica têm sido direcionadas para testagem em laboratórios privados parceiros da Sesa. “Mas nada impede que nós possamos solicitar essas amostras e fazer a testagem no Lacen para averiguar a frequência de SGTF na região metropolitana”, acrescentou Rodrigo Rodrigues.

O diretor do Lacen ressalta ainda que a B.1.1.7 também já foi encontrada em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, vizinhos ao Espírito Santo, além de Goiás e Distrito Federal. “São estados de onde se originam grande parte dos turistas que nos visitam, o que pode sugerir que ela tenha sido trazida para o Espírito Santo nos movimentos migratórios ocorridos durante o verão”.
Características
Todas as amostras confirmadas com a variante B.1.1.7, sublinha o diretor, apresentam uma carga viral significativamente mais elevada que nas amostras consideradas padrão, sem a variante. “Isso implica que o paciente que tenha SGTF tem uma carga viral maior que facilita transmissão pra outras pessoas, o que torna esse indivíduo mais infectivo”, alerta.
Rodrigo Rodrigues explicou que novas variantes do SARS-CoV-2 surgem diariamente. “Toda vez que o vírus se multiplica ou é transmitido de pessoa a pessoa, mutações ocorrem e podem levar ao surgimento de novas variantes virais, com maior ou menor transmissibilidade”.
Dentre as que são conhecidas no mundo, três são chamadas “variantes de preocupação” (variant of concern – VOC): a B.1.1.7, originária do Reino Unido em setembro; a B.1.351, surgida em outubro na África do Sul; e a P.1, surgida no Brasil em janeiro deste ano.

As mutações de maior relevância e que tornam uma variante uma VOC, explana, estão ancoradas no RNA que codifica a proteína spyke, que se liga ao receptor ACE2 da célula humana. Ou seja, a infecção só acontece quando uma célula humana é ligada ao vírus e essa ligação se dá por meio da proteína spyke do vírus. “Qualquer mutação que altere a capacidade de adesão do vírus à célula pode levar a uma maior ou menor capacidade de infecção de uma mutação”, pontuou.

Estudos sobre a B.1.1.7 no Reino Unido mostram que sua capacidade de infectar é mais elevada entre 43% e 90%. A previsão é de que em meados de abril ela se torne a cepa predominante nos Estados Unidos, país onde o número de infectados por ela tem dobrado a cada dez dias. Na Dinamarca, Suíça e Estados Unidos, as investigações verificaram que a taxa de transmissão (Rt) da variante inglesa é maior que a das cepas padrão em um percentual entre 59% e 74%.

Outro estudo mostrou que o risco de óbito associado à infecção pela B.1.17 apresentou aumento de 62% quando comparada com outras variantes no mesmo país.

Resumindo, elencou o diretor-geral do Lacen, as características mais importantes da variante são: carga viral elevada, presença maior entre a população jovem (zero a 30 anos) e dispersão muito acelerada, sendo que o fato dela ser mais presente entre os jovens, que é a faixa da população que menos tem mostrado disciplina em relação aos protocolos de biossegurança, é outro agravante.
“Portanto, o que nós observamos hoje [taxa de transmissão maior, com maior número de internados e óbitos] pode sim ser fruto também da presença dessa nova variante em solo capixaba”, reafirma.
Disciplina
Por isso, “mais do que nunca, precisamos ter certeza de que todos os procedimentos serão adotados pela população”, salienta, referindo-se ao distanciamento e isolamento social, uso de máscara e higienização das mãos e superfícies. “Não adianta falar outra coisa. Nós só vamos conseguir interromper essa transmissão se de fato for respeitado o isolamento social e todas as práticas necessárias”, ratifica Nésio.
Tomaz Silva/Agência Brasil

As conclusões, acentuou o secretário, “devem ser um alerta a toda a população capixaba, de que nós devemos respeitar a violência que a doença impôs ao país”. A rede hospitalar já se encontra extremamente pressionada, acentuou, com a possibilidade da rede privada não atender a seus próprios pacientes.

“Nós nesse momento temos pacientes internados nos hospitais públicos do Espírito Santo de famílias muito ricas, em condições de comprar até grandes empreendimentos, e não há leitos para todos e não haverá se nós não interrompermos de maneira radical a transmissão da doença no Espírito Santo”, alertou. Apenas a rede pública ainda tem uma capacidade de expansão até o mês de abril, podendo chegar a pouco mais de 900 leitos de UTI. Mas essa expansão “não é infinita”, destacou.

Hélio Filho/Secom

“Enquanto não houver uma imunização ampla, coletiva, uma cobertura vacinal acima de 80%, nós teremos que conviver com um cotidiano diferenciado”, argumentou. “Esses dias [quarentena] não são para ir ao calçadão, à praia, visitar os familiares. São dias de ficar em casa em isolamento”, pediu o secretário.

Rodrigo Rodrigues argumentou que “o que vivemos hoje é consequência do que fizemos 14 dias atrás. Para que essa quarentena tenha sucesso e o pacto pela vida alcance os objetivos idealizados, precisamos aderir ao que foi estabelecido, para que daqui a 14, 21 dias, possamos colher os frutos desse isolamento, que é a diminuição da taxa de transmissão e por conseguinte das internações e dos óbitos. Quanto antes nós aderirmos a todo o protocolo estabelecido, quanto antes sairemos dessa quarentena e poderemos voltar para nossa vida normal”.

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