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Workshop sobre Terapia Gerson reúne especialistas em Vitória

Uma terapia nutricional e desintoxicante eficaz para preparar o organismo para a autocura de qualquer mal, incluindo o câncer e outras doenças degenerativas. Essa é uma boa definição para a Terapia Gerson, criada nos Estados Unidos na década de 1920 pelo médico Max Gerson. 

Focada na saúde e não na doença (salutogênese), a TG vem comprovando, na prática, o poder curador dos hábitos de vida saudáveis e da alimentação orgânica, crua e vegetariana, que podem interferir no funcionamento dos genes de forma a silenciar aqueles relacionados às mais diversas doenças. 

O conhecimento desvendado, testado, aprovado e sistematizado pelo Dr. Gerson há cem anos se mantém vivo por meio do Instituto Gerson, em San Diego, nos Estados Unidos, e sua clínica localizada em Tijuana, no México, além de terapeutas credenciados em várias partes do mundo, e dos grupos de apoio, como os existentes no Brasil. 

A criação de um grupo de apoio no Espírito Santo é o principal objetivo do workshop que acontece nesta sexta-feira (29), na sede da Associação Capixaba de Combate ao Câncer Infantil (Acacci), em Jardim Camburi, Vitória. 

Com início às 19h, o workshop abordará quatro temas: “Epigenética: estamos ou não reféns de nossos genes?”, pela Dra. Simone Queiroga PhD; “A Terapia Gerson no dia a dia”, com o Dr. Marco Ortiz; “O Movimento Terapia Gerson no Brasil” e “Formação de equipes no Brasil”, com Roberto Lima, diretor do Instituo Dínamo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável, entidade parceira do Instituto Gerson para a divulgação da TG no Brasil. 

Sobre a epigenética, a Regulação da Expressão Gênica, a Dra. Simone esclarece que ela está acima, muito além da Genética. “A Genética determina as características físicas e fisiológicas de uma pessoa”, sintetiza. No entanto, adverte, há uma forte influência dos fatores ambientais e do estilo de vida sobre a expressão dos genes. “É como um livro, que contém um grande código [Código Genético]. Assim como várias páginas desse livro podem ou não ser lidas, diferentes genes, responsáveis por doenças crônicas, degenerativas e de base inflamatória (como por exemplo o câncer) podem ser silenciados”, metaforiza. 

Nesse sentido, a Epigenética consiste em “fatores que vão determinar se o gene estará ativo ou não”. Esse mecanismo pode ser ilustrado pela imagem abaixo, fruto de um experimento de simulação computacional, em que ocorre a inibição de um gene pela presença de uma proteína reguladora. 

Por isso, ressalta a Dra. Simone, o estilo de vida é fundamental, enfatiza a especialista. “A má alimentação, a intoxicação, a falta de micronutrientes, o estresse, o sedentarismo inflamam o organismo. E, frequentemente, um fator emocional representa a gota d' água para que todo esse desequilíbrio se transforme em uma doença”, explica. “Assim como é possível adaptar um Software a um Hardware, as doenças genéticas podem ter a sua expressão minimizada e modulada por um estilo de vida saudável”, compara. 

A metilação do DNA, diz, é o principal Mecanismo Epigenético que inibe a expressão gênica. “Na Terapia Gerson, as folhas cruas, verde-escuras, usadas nos sucos como parte do tratamento de desintoxicação, são verdadeiras fontes de grupos metil (-CH₃)”.

“Todas essas mudanças devolvem a habilidade para o corpo reparar o DNA [que sofre lesões], restabelecer a apoptose [morte programa de células tumorais], melhorar o sistema imune, reativar os genes supressões de tumor, possibilitando a autocura do paciente”, afirma a PhD. 

Acreditar e fazer

Médico naturalista e homeopata atuando no Espírito Santo há mais de trinta anos, fundador do mais antigo restaurante vegetariano de Vitória, o Dr. Marco Ortiz falará sobre a Terapia Gerson no dia a dia. 

Sinteticamente, o praticante se alimenta apenas de vegetais crus e orgânicos por cerca de dois anos. Por dia, são treze sucos –o primeiro de laranja, depois verde, seguido de cinco sucos de cenoura, outro verde e mais cinco de cenoura. O almoço é uma salada bem variada com óleo de linhaça dourada. O jantar é a sopa de Hipócrates – pai da Medicina na Grécia antiga – feita de vegetais triturados e prensados. Tudo sem sal e sem açúcar. 

Os sucos e a sopa são feitos, preferencialmente, em uma máquina especificamente criada para este fim pelo próprio Max Gerson, a Norwalk juicer. Há formas alternativas de preparar a alimentação, explica, mas a máquina torna tudo mais prático. 

Há ainda cinco clisteres de café por dia. Um litro e três colheres de sopa de café orgânico por vez. A terapia segue a seguinte lógica, explica Dr. Marco: os sucos e legumes tiram as toxinas e radicais livres do sangue e levam pro fígado. E os clisteres os leva para o intestino, de onde são expelidos pelas fezes. 

Para aprender essa rotina alimentar, é preciso fazer o curso na clínica do Instituto Gerson, não apenas o paciente, mas o seu acompanhante, pessoa fundamental para o tratamento, pois os sucos, especialmente, são trabalhosos de fazer. 

Ex-paciente da TG, Dr. Marco Ortiz assegura sua eficácia. E para obter os benefícios, assegura, “a primeira coisa é querer. Realmente querer, estudar, acreditar e fazer”, recomenda. “Você vê os parasitas intestinais saírem do seu corpo. Alguns sintomas, que sentia há muito tempo, deixam de existir. É uma purificação, uma desintoxicação”, recomenda. 

Espírito Santo orgânico

Sobre a expansão da Terapia Gerson no Brasil, Roberto Lima lembra que o Instituto Dínamo trabalha a partir das possibilidades determinadas pelo Instituto Gerson e disponíveis no Brasil. Assim como na maior parte do mundo, inclusive nos Estados Unidos, onde a TG foi criada, o sistema público de saúde (o SUS, no caso brasileiro) não aceita a Terapia Gerson. A solução encontrada pelo Instituto Gerson, por isso, foi estabelecer no México a clínica, onde as pessoas são tratadas e fazem o curso. 

Por isso, a parceria entre as duas instituições não pode fazer acompanhamento de qualquer paciente no Brasil, onde ainda não há nenhum terapeuta certificado. “Quem faz o acompanhamento são terapeutas de fora do Brasil, por videoconferência”. Tampouco pode certificar terapeutas no Brasil, o que apenas o Instituto Gerson faz. 

O trabalho aqui visa criar uma rede de fornecedores de alimentos orgânicos, uma rede de fornecedores de suplementos. equipamentos e materiais orgânicos, como cosméticos e produtos de limpeza, e criar uma rede de profissionais que possam dar suporte aos pacientes Gerson. 

Para o fortalecimento das redes de fornecedores, o Espírito Santo ocupa lugar estratégico no cenário nacional, pois é grande produtor de orgânicos e possui muitas feiras especializadas, além de grupos de consumidores de orgânicos em funcionamento. “São Paulo também tem, mas lá não se produz tanto orgânicos, os alimentos vêm muito de fora”, diz. 

Foto: Leonardo Sá

Sobre os profissionais de suporte aos pacientes, incluem-se médicos, que devem receitar os suplementos e requerer os exames necessários; psicológicos com conhecimento da TG; fisioterapeutas e educadores físicos para ajudar o paciente a lidar com a perda de massa magra, resultante da dieta; assistentes sociais para ajudarem os pacientes com câncer a terem acesso aos benefícios que a lei lhes confere; e o facilitador, que pode ter variadas formações, acadêmicas ou não, e irão orientar os pacientes e seus acompanhantes e familiares sobre utensílios de cozinha, salubridade da casa, a qualidade de água, a correta higienização dos alimentos. 

A rede brasileira hoje tem mais de 40 pessoas e continua a crescer. “Queremos formar uma rede de apoio a qualquer pessoa em qualquer lugar do Brasil que se disponha a fazer a terapia Gerson para o tratamento da sua doença”, convida. 

Discernimento 

Apesar da limitação imposta pelo SUS, Roberto conta que a abertura dos médicos para tratamentos alternativos aos oficiais, radio e quimio, já é uma realidade, sendo ele próprio beneficiado por isso, já que é um teólogo que atualmente faz mestrando no departamento de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A “autorização” para a inserção de um teólogo entre os médicos aconteceu porque os pesquisadores de Campinas “entenderam que não se trata câncer só com médico, mas também com psicólogo, teólogo, educador físico …”, diz. 

Os adeptos da TG, por sua vez, não são contra a quimio e a radioterapia. “Radio e quimio tratam da doença, Gerson não é terapia de câncer, não tem a ver com cura de doença nenhuma. Tem a ver com saúde, essa é a diferença. É um paradigma diferente. A salutogênese é o nosso paradigma”, exulta.

“A terapia não cura nada, quem cura é o corpo. Ela busca fazer com que o seu corpo seja supernutrido e desintoxicado de forma que as suas próprias defesas consigam neutralizar e destruir a doenças”, explica. 

Além da salutogênese, outra referência primordial para os seguidores da TG são os ensinamentos milenares de Hipócrates, o pai da Medicina. Entre eles, o célebre “faz do teu alimento o teu remédio e do teu remédio o teu alimento” e o “você está disposto a desistir daquilo que trouxe a doença?”.

Roberto afirma que essa é a grande questão: cada um assumir a responsabilidade sobre sua própria saúde. “Esse é o outro paradigma. Tem que ter autocuidado todo dia”, orienta. “Quando vamos pra radio quimio cirurgia, nós não deixamos nosso estilo de vida destrutivo, então quando faz terapia como a Gerson, é um rompimento de tudo o que você aprendeu”, descreve. A pessoa passa a rever seu próprio corpo, todos os seus hábitos, pensamentos, emoções, até mesmo seu emprego, seus relacionamentos. 

É como diz o discípulo Paulo na Bíblia: “tudo é lícito, mas nem tudo me convém”. Nesse ponto, acentua Roberto, a pessoa encontra o verdadeiro discernimento, que é saber diferenciar “o que é certo e o que é quase certo”. 

Não está errado comer macarrão instantâneo ou tomar refrigerante, exemplifica, “mas também não está certo”. Mas esse discernimento, observa, geralmente só acontece quando alguma coisa muito poderosa rompe com os antigos paradigmas e faz surgir um novo. 

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