sábado, novembro 23, 2024
22.1 C
Vitória
sábado, novembro 23, 2024
sábado, novembro 23, 2024

Leia Também:

Ato em memória de jovens assassinados na Piedade pede por justiça e presença do Estado

Organizado pela comunidade, ato teve a presença do secretário Ramalho e do pároco da Catedral de Vitória

Rhuan, Damião, Lucas, Patrick, Luís, Fernando, Wemerson, João Victor e, mais recentemente, Fabrício dos Santos Almeida, morto no dia 11 de junho, foram os nove jovens assassinados no Morro da Piedade, Centro de Vitória, nos últimos dois anos. Em memória deles, o Instituto Raízes da Piedade, junto com a comunidade, organizou um ato na manhã desta quarta-feira (17). Familiares e amigos saíram da quadra de esportes da Piedade e seguiram rumo ao Terreirinho, percorrendo as ruas da comunidade de modo a abarcar os locais onde os assassinatos ocorreram.
Vanessa Darmani

O Terreirinho tem uma simbologia, afirma o integrante do Raízes da Piedade, Jocelino Júnior. Ele relata que é onde os irmãos Rhuan e Damião foram assassinados, em março de 2018. Foi ali perto que, segundo Jocelino, Fabrício foi morto. Por causa do ato desta manhã, bandeiras brancas foram colocadas nas janelas das casas como uma forma de se expressar contra o extermínio de jovens e em solidariedade às famílias enlutadas, já que o recomendado foi que se evitasse aglomeração, deixando a participação para os familiares e amigos.

O ato contou com a presença do secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho. Os participantes, acompanhados da Polícia Militar e do pároco da Catedral Metropolitana de Vitória, Renato Criste, fizeram algumas pausas para momentos de reflexão. Em um deles, o sacerdote destacou a esperança que se coloca nos jovens, mas, ao mesmo tempo, essa juventude é impedida de concretizar seus sonhos por ter sua vida interrompida.

“A juventude, que é esperança do país; a juventude, que é esperança de um futuro melhor; que traz sua alegria, seus projetos, suas lutas. Mas nem todos jovens conseguem desenvolver seus sonhos, alcançar a vitória das suas lutas”, lamentou Renato Criste. O pároco destacou também que dias melhores são possíveis, mas para isso é preciso lutar por igualdade. “Trazemos conosco sonhos, projetos de dias melhores. Temos desejo de que a paz seja realidade, e ela pode ser realidade por meio da justiça, das oportunidades, da igualdade de direitos, do respeito”, destacou.

Celebração no Terreirinho. Foto: Jocelino Júnior

No decorrer do ato, os participantes seguraram cartazes apontando para a responsabilidade do Estado diante do extermínio de jovens, pedindo paz na Piedade e destacando que “vidas negras importam”. Os moradores também recordaram períodos de paz. “Anos atrás, a gente podia subir e entrar em qualquer lugar dessa região. Podia ficar até altas horas da noite. Infelizmente, já não é a mesma coisa. Até quando isso vai acontecer? Até quando mais vidas serão perdidas aqui?”, questiona um morador que vive no bairro há 42 anos.

O medo de perder um familiar para a violência preocupa as pessoas, segundo uma moradora que afirmou temer pela vida de seus filhos. “Será que vou perder meus filhos? Será que outras mães também irão perder seus filhos? A gente só quer justiça. A gente gosta de morar na comunidade, quer ficar nela, não quer abandoná-la. Essa foi a comunidade que cada um escolheu para ter os filhos e criar”, enfatizou.

Vanessa Darmani

Os moradores também voltaram a questionar o fato de a base da Polícia Militar (PM) se localizar na entrada do Morro, pois, de acordo com eles, a reivindicação era para que funcionasse no Terreirinho, pois os atiradores entram pelo alto da Piedade, e não pela parte de baixo. O secretário de Segurança afirmou que a comunidade tem razão e não há como rebater os argumentos apresentados. “A presença da PM na Piedade é um apêndice, apenas. Precisamos, sim, trazer outros atores para interagir com a PM, que é a única parte do Estado que está aqui”, reconheceu Alexandre Ramalho.

Jocelino destaca a necessidade de políticas públicas para acabar com a guerra do tráfico, “que mata inocentes, destrói famílias”. “O tráfico tem destruído nossas periferias por falta de políticas públicas. Onde tiver educação, esporte, lazer, vai haver outra forma de participar e transformar o mundo”, defende. 

Mais Lidas