Vestidos de branco, familiares e amigos caminharão, neste sábado, até condomínio onde PM matou o músico, de “forma brutal e covarde”
Um “ato de manifestação pacífica contra a violência” será realizado neste sábado (6), às 10 horas, em Jardim Camburi, Vitória, para marcar os 20 dias do assassinato do músico, capoeirista e bacharel em Direito Guilherme Rocha, conhecido como “Pagodinho”. O crime foi cometido pelo soldado da Polícia Militar (PMES) Lucas Torrezani de Oliveira, de forma “brutal” e “covarde”, como apontam as investigações da Polícia Civil (PC). Ele está preso temporariamente no Quartel do Comando-Geral da PM, em Maruípe.
Vestidos de branco, familiares e amigos se reunirão em frente à Igreja Matriz Sagrada Família e caminharão até o condomínio onde ocorreu o assassinato, para realizar um momento de oração, como informa Renato Trevezani, amigo de Guilherme. Ele destaca que o ato pretende chamar atenção, também, para a proximidade do fim do prazo de 30 dias da prisão temporária e a falta de informações da família sobre o andamento do inquérito.
Guilherme tinha 37 anos e foi assassinado na madrugada do dia 17 de abril, às 3h, com um tiro fatal que atingiu o ombro e atravessou o peito. Ele morava no condomínio com a esposa e a enteada de 12 anos, e desceu para pedir ao soldado que abaixasse o som. O militar tinha o hábito de beber no condomínio, promovendo “algazarra” e “zoada”, como definiu a PC. Por esse motivo, já existiam cinco ocorrências contra ele em dois meses, como reforçado pela síndica, Mônica Bicalho.
Há uma semana, o delegado da Divisão de Proteção a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Marcelo Cavalcanti, responsável pela investigação, afirmou que será realizada a reconstituição do crime, mas não forneceu detalhes nem data.
Dois dias depois da prisão, ele garantiu que irá renovar o pedido de prisão temporária, por mais 30 dias, prazo que tem para finalizar o inquérito e então apresentá-lo ao Ministério Público Estadual (MPES), para que ofereça denúncia à Justiça. Além de “brutal” e “covarde”, o delegado enfatizou que o crime teve “requinte de crueldade” e descartou a versão de legítima defesa apresentada pelo PM.
O amigo do atirador, que empurrou Guilherme, também é investigado. O nome dele, porém, segue em sigilo. As diligências iniciais informam a presença de três pessoas junto com o soldado na cena do crime, consumindo bebidas alcóolicas.
Em certo momento, Lucas retira a arma da cintura, primeiro encosta no ombro de Guilherme, e depois bate com ela em seu rosto. O músico reage colocando a mão na arma e é empurrado pelo amigo do PM. Depois, segue em direção à porta e já cai executado.
O soldado apresentava odor etílico e não foi preso em flagrante. Em seguida, foi conduzido para a 1ª Delegacia Regional e teve a arma apreendida, mas foi liberado por um delegado de plantão. A justificativa da Polícia Civil é de que, “naquele momento, não haviam elementos suficientes para lavrar o auto de prisão em flagrante”.
Diante da análise das imagens, consideradas determinantes, e das entrevistas e depoimentos de testemunhas, foi solicitado o pedido de prisão temporária, acatado pela Justiça. “Nos choca ver as imagens, a vítima foi brutalmente executada, de forma covarde e sem chance de defesa, inclusive, permanecendo com as mãos para trás a todo momento”, destacou o delegado após realizar as primeiras diligências.
O vídeo do assassinato mostra Lucas dando dois goles na bebida logo após matar Guilherme, além de não socorrer a vítima. “Não teve compaixão, queria executá-lo, mesmo”, enfatizou Cavalcanti.
Corregedoria da PM
Finalizado o inquérito na Polícia Civil, a Corregedoria da Polícia Militar abrirá a apuração da conduta de Lucas, por meio de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Como ele cometeu o crime fora de serviço, segundo o corregedor, major Alves Chirst, em coletiva de imprensa no dia 19 de abril, é necessário aguardar o resultado da investigação. O soldado entrou na Polícia Militar em 2020.
O major garantiu, porém, uma “investigação criteriosa e rigorosa” e disse que “a PM não irá tolerar nenhum desvio de conduta”. Sobre o registro constante de crimes envolvendo policiais no Estado e o fato de serem autorizados a utilizar suas armas em situações de consumo de bebidas alcóolicas, Alves Chirst alegou que “não há restrição para o porte”, permitido por 24 horas, e “espera-se que os policiais tenham consciência”.